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Crimes em família, traição e mortes na guerra do tráfico de Vila Velha

Crimes em família, traição e mortes na guerra do tráfico de Vila Velha

Criminosos deixam de ser aliados e começam guerra entre bairros

Publicado em 3 de agosto de 2019 às 00:11

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Sete desses bandidos que agem no município tiveram os nomes revelados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vila Velha (DHPP). (Bernardo Coutinho/Arquivo )

A disputa pelo controle do tráfico de drogas nos bairros de Vila Velha tem provocado conflitos entre criminosos de bairros diferentes que antes eram aliados, traições por membros de uma mesma gangue e até mortes. Sete desses bandidos que agem no município tiveram os nomes revelados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vila Velha (DHPP).

Estão na lista da Polícia Civil: Jackson dos Santos Sodré, o Jackson do Pecado, 26 anos; Gregory Furlan de Souza, o Negão, 27; Rodrigo Almeida Silva, o Jabalau, 28; Samuel Gonçalves Rodrigues, o Catraca, 27. Benonino Eleuterio Filho, o Benô, 33, Reinaldo Dias de Oliveira Júnior, o Juninho Reinaldo, 28, e Willian Zanoti, o Terceirão, 34, também são procurados. Todos tem mandado de prisão.

QUEM SÃO OS PROCURADOS DE VILA VELHA

Os conflitos acontecem em pelo menos 10 bairros. Um deles é na região da Grande Santa Rita. Os criminosos administravam bocas de fumo em diferentes pontos em Santa Rita e 1º de Maio. De acordo com o delegado Daniel Belchior, os irmãos Maycon dos Santos, o Chefinho, de 27 anos, e Jackson do Pecado eram aliados de Negão e Jabalau. Chefinho foi preso no ano passado.

“Esses conflitos surgem por causa da ganância. Em Santa Rita, eram todos amigos. Negão foi preso e os irmãos tomaram os pontos de droga comandados por ele. Negão foi solto e jurou retomar o que era dele e aí começaram os ataques e mortes”, disse Belchior.

ENTENDA A GUERRA

JABURUNA, IBES, GLÓRIA x ARIBIRI  

Traficantes do bairro Jaburuna, aliados a criminosos do Ibes e Glória estão em conflito com bandidos do Aribiri na disputa de território para venda de drogas na região. De acordo com a Polícia Civil, os ataques  já resultaram na morte de oito pessoas neste ano.

Investigações apontam Reinaldo Dias de Oliveira Júnior, o Juninho Reinaldo, de 28 anos, assumiu o comando do tráfico no Jaburuna em 2017. Juninho tem passagem por tráfico e associação para o tráfico de drogas e porte de arma. Ele é aliado dos chefes do tráfico no Ibes e na Glória. Os criminosos do Ibes e Glória já foram identificados mas não terão a identidade revelada porque há investigação em curso.

MORTE NO CAMPO

O delegado Gianno Trindade, titular da DHPP de Vila Velha, informou que Juninho Reinaldo tem envolvimento na morte do comerciante e diretor de futebol Marcos André Marques, 26 anos, após um jogo de futebol em Boa Vista, Vila Velha, ocorrida no dia 11 de maio deste ano. O alvo seria dos bandidos seria um traficante de Aribiri, rival de Juninho.

O diretor Marcos André, morto durante tiroteio seguido de batida em Vila Velha. (Arquivo Pessoal)

ARIBIRI

A região do Aribiri é dividida por duas bocas de fumo: A Boca da Frente e a Boca de Trás. A Boca da Frente é comandada por Willian Zanoti, o Terceirão, de 34 anos. Ele tem quatro mandados de prisão expedidos pela Justiça por homicídio e tráfico de drogas. Ele já foi preso por tráfico e associação para o tráfico de drogas e porte ilegal. De acordo com a polícia, Terceirão é um dos responsáveis pelo assassinato de Macsuel César Nunes dos Santos, o Puga, no dia 4 de janeiro de 2018. 

De acordo com a polícia, a Boca de Trás é liderada por Rafael Provetti Nascimento, conhecido como Rafael Rara, preso no dia 15 de setembro de 2018. Atualmente, o comando da boca é desempenhado por um gerente indicado por Rara. O nome não foi revelado pela polícia porque o suspeito ainda é investigados.

ULISSES GUIMARÃES: PRACINHA X BECO E CARROÇA

Ulisses Guimarães: o bairro conta com liderança de três traficantes, sendo que dois deles são aliados. A Gangue da Pracinha é comandada por Samuel Gonçalves Rodrigues, o Catraca. A Gangue do Beco é chefiada por um traficante que ainda não tem mandado de prisão expedido pela Justiça, por isso o nome dele não será informado. No mesmo bairro, também opera a Gangue da Carroça, chefiada por Rodrigo de Souza Barbosa, o Luti, de 32 anos, que está preso.

De acordo com a polícia, com a prisão de Luti, Catraca passou a dar investidas na intenção de tomar as bocas de fumo das Gangues da Carroça e do Beco e dominou a área dos traficantes rivais. Os chefes da Carroça e do Beco se uniram para retomar as bocas de fumo tomadas por Catraca.

Nesse confronto, pelo menos quatro pessoas foram assassinadas. Um dos alvos executados nessa guerra pela Gangue da Carroça foi o jovem Kaique Carlos Osório dos Santos, 20 anos. Ele foi alvejado com três tiros na cabeça enquanto cortava o cabelo em um salão no bairro Ulisses Guimarães.

GRANDE TERRA VERMELHA

Com exceção dos bairros Morada da Barra, Ulisses Guimarães e 23 de Maio, Benonino Eleuterio Filho, o Benô, de 33 anos, comanda o tráfico na região da Grande Terra Vermelha. Ele tem dois mandados de prisão por homicídio. De acordo com a polícia, a região da Grande Terra Vermelha dominada por Benô não registra confronto direto com nenhum outro bairro atualmente.

PROCURADO TEM 16 MANDADOS DE PRISÃO

Considerado foragido da Justiça há pelo menos três anos, Samuel Gonçalves Rodrigues, o Catraca, de 27 anos, possui 16 mandados de prisão preventiva pendentes. De acordo com a Polícia Civil, ele é investigado por liderar gangues de traficantes de drogas e por envolvimento em assassinatos em Vila Velha.

Samuel Gonçalves Rodrigues, o Catraca. (Divulgação/Polícia Civil)

Informações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, apontam que Catraca atua nos bairros Ulisses Guimarães e 23 de Maio, ambos no município. Investigações apontam que o criminoso capixaba teria se tornado membro da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo.

O delegado Gianno Trindade, titular da DHPP, informou que Catraca já foi preso por porte ilegal de arma de fogo e por envolvimento em homicídios. Atualmente, Catraca comanda a Gangue da Pracinha, no bairro Ulisses Guimarães, e também o tráfico em 23 de Maio.

TRAFICANTES LIBERADOS PARA IR À ESCOLA

Chefes do tráfico que atuam em Vila Velha permitem que soldados responsáveis por vender a droga ou cuidar da vigilância das bocas de fumo sejam “liberados do plantão” para frequentar as aulas no município.

Investigadores da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha contaram que a medida era para impedir que os criminosos perdessem o benefício do Bolsa Família, programa do governo federal que oferece uma quantia em dinheiro para pais com filhos matriculados em escolas.

Os registros com a escala do tráfico foram encontrados durante uma operação policial. As anotações apontavam os horários de entrada e saída de cada membro da organização criminosa.

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À época, um dos presos durante a operação confessou à polícia que a ordem de não faltar a aula havia sido determinada pelo gerente do tráfico para que os então estudantes não prejudicassem a renda familiar. Após o retorno da aula, o criminoso retornava para o plantão com a obrigação de compensar a falta com novos horários.

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