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Corregedoria da PC vai investigar delegado após fala homofóbica em escola no ES

Corregedoria da PC vai investigar delegado após fala homofóbica em escola no ES

A palestra, que era sobre vulnerabilidade social, ocorreu na manhã desta terça-feira (28), em um colégio municipal para alunos entre 9 e 16 anos

Publicado em 28 de fevereiro de 2023 às 20:52- Atualizado há um ano

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A Corregedoria da Polícia Civil (PC) vai investigar o delegado Djalma Pereira Lemos após ele pronunciar palavras homofóbicas durante uma palestra para alunos entre 9 e 16 anos, na manhã desta terça-feira (28), na escola municipal Pedro Siqueira em Itapemirim, no Sul do Estado. Confira a seguir parte do discurso do delegado:

Na ocasião, o delegado participou de uma palestra sobre vulnerabilidade social, e, em determinado momento, proferiu falas com teor preconceituoso sobre sexualidade e gênero, que incomodaram os professores da instituição que estavam presentes. 

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Se nascemos homem e mulher, eu sempre vejo homem e mulher, mas ninguém é perfeito, não é doença, existem algumas anomalias que criam determinados padrões de conduta

Djalma Pereira Lemos
Delegado da Polícia Civil do ES
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Uma assistente do delegado até se aproximou dele, enquanto o mesmo discursava, e o alertou que homofobia é crime. “Duas crianças que venham a escolher namorar duas meninas, elas estão cometendo crime de prática de atos libidinosos”, pronunciou.

Para a reportagem de A Gazeta, um professor da escola – que pediu para não ser identificado – disse que ficou em choque ao ouvir o discurso do delegado. “Fiquei muito constrangido, os alunos também ficaram perplexos, sem reação. Professores que estavam ao meu lado comentaram que aquilo estava errado”, contou.

O educador também explicou como tudo aconteceu. Segundo ele, o delegado foi à instituição falar sobre os diversos tipos de violência. Depois, deixou em aberto para os estudantes fazerem perguntas. “Uma aluna perguntou como era o trabalho da polícia diante da homofobia e ele já iniciou a fala dizendo que homofobia não é crime, dizendo que é falta de conduta social”, comentou.

Para o professor, a fala do delegado foi infeliz e totalmente despreparada. “É um descrédito muito grande para a gente da educação, pois é um trabalho muito árduo que a gente faz para desconstruir o preconceito”, enfatizou.

Ao fim da palestra, o professor disse que levou os alunos para a sala de aula para debaterem o que ouviram. “Precisava conversar com eles para desconstruir o que eles ouviram. Mostrei a eles a lei que criminaliza a homofobia e conversamos sobre isso”, informou.

A escola Pedro Siqueira fica localizada em Itapemirim, no Sul do Estado
A escola Pedro Siqueira fica localizada em Itapemirim, no Sul do Estado. (Redes sociais)

O que diz a polícia

Em nota, a PC comunicou “que não compactua com o posicionamento do delegado Djalma Pereira Lemos. Inclusive, a instituição possui um núcleo especializado de casos de homofobia. A polícia informa ainda que o delegado fez, na palestra, uma colocação de cunho pessoal. A corregedoria da Polícia Civil já está acompanhando o caso”.

O que diz a prefeitura

A prefeitura disse que a Educação não é conivente a qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito e que o vídeo, que viralizou com a fala do delegado, é uma atitude isolada. Confira a seguir:

“A Secretaria de Educação de Itapemirim vem a público esclarecer ao corpo docente, discente e toda comunidade escolar e cível, que a Educação não é conivente a qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito, bem como reafirma o seu compromisso com a promoção da igualdade em todos os âmbitos da sociedade. A escola é o espaço do respeito, solidariedade, amor, paz e fraternidade. O vídeo que viralizou representa uma atitude isolada, que não condizia com o tema da palestra ‘Vulnerabilidade social’, e não deve desabonar o trabalho de toda uma equipe escolar”.

Conselho LGBT do Espírito Santo

O Conselho LGBT do Espírito Santo também se pronunciou sobre o caso e falou que vai acionar o Ministério Público. “É um discurso sim de ódio, que não traduz a realidade da população, a vivência da população LGBT. Ele foi convidado como delegado da cidade de Itapemirim para fazer uma palestra em um órgão público”, emitiu o presidente do conselho João Lucas Côrtes.

Côrtes disse ainda que Djalma Pereira, como delegado da cidade, deveria combater a lgbtfobia. “É estarrecedor escutar esse tipo de fala feito por um agente público, que deveria cumprir uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criminalizar a lgbtfobia. Como delegado, ele deveria estar combatendo esse crime. Ouvir isso de um agente público que deveria prezar pela sua segurança, te deixa vulnerável. Pessoas que deveria estar te defendendo”, concluiu.

O que diz a diretoria da escola

A diretoria da Pedro Siqueira informou, em nota, que o objetivo da palestra era abordar as temáticas de violência e bullying.

"O Drº Djalma, antes da palestra, chegou mais cedo para falar sobre os temas, os quais frisamos, a violência verbal e contra a mulher, assim como apelidos maldosos e descriminação em sala de aula, principalmente com os alunos mais carentes. Drº Djalma, nos disse que faria sobre drogas, pois é sempre bom alertar os alunos sobre esse assunto", comunicou.

Durante a palestra, a diretoria disse que o delegado explicou para as meninas sobre a Delegacia da Mulher e orientou que os meninos tenham cuidado com as falas ao se dirigirem as meninas, "pois a violência contra a mulher não é só física e sim verbal". 

Ao deixar o tempo aberto para perguntas, frisou a diretoria, vários alunos participaram, "até que uma aluna perguntou se homofobia era crime e o delegado respondeu de acordo com o vídeo viralizado. Uma pena que a palestra foi fragmentada e usada a fala que infelizmente causou polêmica". 

A diretoria destacou que o professor usou o vídeo sem autorização da escola. "A comunidade escolar e equipe pedagógica sempre primaram pela valorização e respeito à diversidade por ações pedagógicas que visem o respeito mútuo e o convívio harmônico entre todos", finalizou. 

O delegado Djalma Pereira Lemos foi procurado para se pronunciar sobre os acontecimentos, porém, a reportagem não conseguiu retorno. Caso haja, este texto será atualizado.

Além do delegado, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) foi procurado para saber se recebeu algum tipo de denúncia e como irá proceder. Assim que houver retorno, este texto também será atualizado.

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