> >
Antônio Granja deixa legado de coerência, modernidade e defesa da democracia

Antônio Granja deixa legado de coerência, modernidade e defesa da democracia

Antônio Ribeiro Granja, comunista histórico, morreu aos 106 anos, neste domingo (10).

Publicado em 11 de novembro de 2019 às 16:07

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Antônio Ribeiro Granja era presidente de honra do partido Cidadania, o antigo PPS. (Reprodução)

Os mais de cem anos de vida do presidente de honra do Cidadania nacional (o antigo PPS), Antônio Ribeiro Granja, renderam a políticos amigos e a correligionários uma herança de coerência e de militância conectada com as necessidades modernas. Defensor da democracia, o velho comunista morreu neste domingo (10), após três dias hospitalizado.

Granja testemunhava a História do Brasil e do mundo desde 1913, ano em que nasceu em Exu Pernambuco. Chegou no Espírito Santo no início dos anos 1940 e por aqui permaneceu. Sempre militou no antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), e nas ramificações da agremiação. Foi líder sindical, vereador de Cariacica e dono de uma biografia respeitada mesmo pelos não correligionários e viveu até o fim da vida em Serra Dourada, na Serra. 

Ele estava na ativa desde 1930, como costumava dizer. Já perto do centenário conseguia ser ouvido pelos mais jovens. "Eu destacaria a capacidade de proporcionar a convivência entre gerações. Isso ele sabia fazer. Atraía jovens para o partido. Ele conseguiu ser moderno apesar da idade e participou da vida do partido ativamente até o final", afirmou o presidente do Cidadania no Estado, o deputado estadual Fabrício Gandini.

Foi numa palestra para cerca de 700 desses jovens que convidou o hoje vereador de Vitória por dois mandatos Vinícius Simões (Cidadania) para se filiar ao partido.

Aspas de citação

A democracia é irreversível. Pode tardar, mas sempre aparece. Eu sinto que hoje ela está bem mais forte do que quando comecei. Mesmo assim, ela enfrenta dificuldade, com a corrupção, os desvios dos cofres públicos, a crise de confiança com a classe política.

Antônio Ribeiro Granja
Presidente de honra do Cidadania, em entrevista para A Gazeta em julho de 2018.
Aspas de citação

"Em 2007, eu fazia encontros com estudantes de Vitória para discutir assuntos importantes. Os alunos não acreditavam que uma pessoa com tanta história, que votou em Getúlio Vargas, que esteve na Revolução de 1932, que fez reuniões na União Soviética, morava ali em Serra Dourada", lembrou o vereador, que destaca a versatilidade de Granja.

"Além de coerente, ele era versátil, adaptável. É muito difícil você ser coerente e ir se transformado, se reinventando com o passar dos tempos. Ele é coerente porque nunca mudou as ideias dele, mas se reinventando", completou.

Coerente é uma das palavra mais usadas por admiradores para se referirem ao velho Granja. Secretário de mobilização do PT, Perly Cipriano conheceu Granja nos anos 1960 e admira a capacidade do companheiro de bandeiras de permanecer-se fiel às convicções mais antigas.

"Era possivelmente o mais velho comunista do Brasil. Do Espírito Santo tenho certeza. Teve uma trajetória extremamente importante. E manteve sempre a coerência e os compromissos com a luta pelo socialismo. Era um homem muito amável e muito inteligente. Foi muito leal ao partido e à causa que ele seguia", frisou.

Ex-deputada estadual pelo PT, Brice Bragato (PSOL) também falou com admiração sobre Antônio Granja. Para ela, a perda é ainda mais significativa por conta do que define como momento de escalada do conservadorismo no país.

"É uma perda muito grande para esquerda, para oposição. Ainda mais no tempo de tanto conservadorismo. Esses militantes antigos, históricos, são verdadeiros ícones como referência, de exemplo, coerência e de simplicidade. Muitos militantes que viveram o tempo da ditadura militar degeneraram. E ele manteve isso até o final da vida dele", disse. 

Este vídeo pode te interessar

O prefeito de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania), definiu Granja como "um grande líder, exemplo de retidão, honestidade e luta pelos mais necessitados", além de um dos responsáveis pela sua filiação ao partido.  O governador Renato Casagrande (PSB) lembrou do comunista como alguém que será imortal "pela sua coerência e persistência".

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais