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O cientista do cafezal: jovem constrói laboratório em São Domingos do Norte

O cientista do cafezal: jovem constrói laboratório em São Domingos do Norte

Kaio Littike, de 21 anos, é o orgulho de São Domingos do Norte e tem o sonho de que uma de suas invenções mude e melhore a vida de alguém

Publicado em 21 de abril de 2020 às 21:27

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O laboratório de ciência de Kaio Littike é cercado pelo cafezal em São Domingos do Norte. (Luciney Araújo)

Imagine a cena: no meio do nada, no breu, uma única lâmpada acesa! Uma cena típica de interior, não fosse o motivo. Cercado por uma plantação de café da família, em cima de um barranco, o jovem Kaio Littike construiu um laboratório de ciência, na localidade de Córrego Picadão, zona rural da pequena cidade de São Domingos do Norte, no Noroeste do Estado.

Kaio, de 21 anos, é um dos cerca de 8 mil habitantes do município, mas se tornou um morador ilustre ao receber o Prêmio Jovem Cientista, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, em 2016. Assim, a paixão do rapaz pelo mundo da ciência veio à tona.

Para entrar no laboratório de ciência de Kaio Littike é preciso usar uma senha. (Luciney Araújo)

“Na verdade, começou quando eu tinha uns 5 anos. Gostava de desmontar as coisas. Lembro que eu ganhava um carrinho de controle remoto, desmontava pra olhar o que tinha por dentro e tentava montar outra vez. Depois disso, comecei a criar um lugar especial para eu poder fazer essas gambiarras, essas coisas bacanas. Então nasceu meu laboratório”, revela ele, em mais uma história contada pela equipe do “Em Movimento Viaja”, da TV Gazeta, aqui no jornal.

E não parou por aí. Ao todo, ele já construiu cinco laboratórios para poder fazer experiências científicas. Kaio fez curso de Robótica e, atualmente, estuda Engenharia da Computação em São Mateus, cidade próxima a São Domingos. Ele vive com a esposa e seus cachorros e gatos, numa casa localizada a alguns metros do laboratório.

MUNDO PARTICULAR

São impressionantes os detalhes e a criatividade do atual laboratório, no meio do cafezal. Parece cenário de filme. Para entrar no local, por exemplo, só com senha, que ele digita manualmente, como se fosse o segredo de um cofre. Porém é feita de forma adaptada, com fios remanescentes de outros objetos, uma calculadora e fitas.

Aspas de citação

Esse aqui é meu mundo particular. Eu entro aqui e encontro tudo o que preciso para colocar minhas ideias em prática

Kaio Littike
Universitário
Aspas de citação
Kaio Littike tem tudo a seu alcance para colocar as ideias em prática. (Luciney Araújo)

O espaço é pequeno, feito de cimento e madeira. Foi planejado para ele trabalhar sozinho com toda a “parafernalha” necessária para seus experimentos. Mais de uma pessoa ali dentro já aperta, e a cabeça quase bate no teto. Dentro, além das invenções da “mente kaiana”, ele guarda objetos que podem servir a qualquer momento para alguma experiência.

Para quem pensa que tudo não passa de uma brincadeira de criança que ele trouxe para a vida adulta, Kaio é categórico. “A ideia sempre foi tentar criar algo que fosse útil de verdade. Por exemplo, eu comecei a criar uma prótese de mão com a intenção de implementá-la depois. Só não consegui ainda porque não encontrei voluntários e patrocinadores até hoje. Eu criei também um robô para auxiliar dentro de casa, utilizando um sistema de programação própria”.

A vida de Kaio é, portanto, uma ligação entre o passado e o futuro, a simplicidade da roça e a tecnologia, a solidão em seu laboratório com a vontade de ajudar o mundo tudo.

BUNKER

Além do laboratório no meio do cafezal, ele revelou um esconderijo, que ele chama de “bunker” no teto, dentro do seu quarto. Geralmente, os “bunkers” são abrigos subterrâneos construídos para proteger moradores durante guerras ou momentos de risco, situações que parecem estar longe da realidade de São Domingos do Norte, mas Kaio é apaixonado pelo tema e fez seu próprio abrigo.

Bunker criado por Kaio Littike no teto do seu quarto. (Luciney Araújo)

Ele é um adepto do “sobrevivencialismo”, uma prática que tem crescido entre os brasileiros, tanto que criou até um canal no Youtube para falar do assunto. “São pessoas que se preparam para desastres, para possíveis dias ruins. Se acontecer algo muito ruim, você tem que estar preparado para aquele dia. Não precisa necessariamente ser uma catástrofe climática.”

Além do abrigo, ele sempre tem “kits” que podem ajudar a fazer uma fogueira, se virar em uma situação de perigo, inovar ou dar aquele jeitinho. “Por exemplo, aqui no meio da roça, se minha moto quebra, eu preciso estar preparado para consertá-la e reverter essa situação, entende?”, explica Kaio, o cientista sobrevivente.

O canal do Kaio na internet é um sucesso. Para quem vive numa cidade de 8 mil habitantes, ter mais de 20 mil seguidores assistindo seus vídeos toda semana é sinal de que o capixaba está pocando.

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O interesse surgiu devido à função de líder dos Desbravadores, uma espécie de grupo de escoteiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Eles construíram até “um prédio” de três andares em um dia, sem nenhum prego, só com amarras, sisal, cordas, madeira e bambu. 

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