Publicado em 24 de julho de 2018 às 01:00
Sancionada pelo presidente Temer há mais de um mês, a lei que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) prevê o repasse de recursos federais para que os Estados invistam na redução da criminalidade. Esse dinheiro, muito esperado pelos Estados, pode ser pouco e demorar para chegar. Segundo o Ministério Extraordinário da Segurança Pública (Mesp), ainda não há definição de como será feita a distribuição do recurso do Fundo Nacional de Segurança Pública e não há prazo para que o financiamento comece a chegar.>
O fundo nacional será alimentado com parte da arrecadação das loterias federais. A expectativa do governo federal é de que a arrecadação seja de R$ 4,3 bilhões em 2022. Para o professor de sociologia da UnB e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Arthur Trindade Costa, o valor é insuficiente.>
Hoje, nacionalmente, se gastam R$ 82 bilhões em segurança pública por ano. Acrescentar o dinheiro da loteria é irrisório, não faz muita diferença", avalia.>
O especialista explica ainda que, atualmente, os Estados são responsáveis por mais de 80% dos gastos com segurança pública, ficando a união e os municípios com o restante. Esse gargalo também não foi sanado com a criação do Susp.>
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Nos primeiros artigos, a Lei 13.675/18 estabelece que, agora, A segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos, compreendendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Um Susp de verdade precisa colocar de maneira séria como será feito esse financiamento, como acontece na saúde. A lei que cria o Susp não fala quem deve pagar o quê, não há uma definição clara, diz.>
PESSOAL>
Em 2017, o Espírito Santo gastou 86% dos recursos da Segurança Pública com folha de pagamento de efetivos e aposentados e com custeio. A verba que virá a partir do Fundo Nacional de Segurança Pública também não poderá ser utilizado para pagar esses gastos.>
Os governadores estão espremidos em uma crise fiscal enorme e não conseguem expandir seus gastos. O dinheiro do Susp não poderá ser usado para esse tipo de custeio com pessoal. Esse é o nó, avalia.>
USOS>
O recurso do Susp poderá ser usado pelos Estados na construção e reforma de unidades policiais, compra de materiais, tecnologia e sistemas de informação, programas de prevenção ao crime, serviços de denúncia anônima, capacitação de peritos, entre outros.>
Para o secretário de Segurança Pública, coronel Nylton Rodrigues, a verba que deverá chegar ao estado para investimento em combate da criminalidade é insuficiente. Até agora não chegou nada e o dinheiro prometido é pouco, avalia.>
Ele teme ainda que o método utilizado para dividir o dinheiro não seja favorável ao Estado. Imaginando que o valor (de R$ 4,3 bilhões previstos para 2022) seja dividido igualmente entre os estados, daria R$ 159 milhões para cada um dos 27 estados. Só nesse ano, o Espírito Santo vai investir R$ 350 milhões. Caso seja dividido proporcionalmente à população dos Estados, não vai vir quase nada, pondera.>
CONSELHOS>
Para receber o dinheiro, os estados e o Distrito Federal vão precisar, ainda, instituírem seus fundos estaduais de segurança pública e os conselhos que irão administrar o dinheiro. O repasse será feito do fundo nacional para os fundos estaduais. Ainda não há prazo para os primeiros repasses.>
ESTADO NÃO REPASSA DADOS DE FORMA CORRETA>
Requisito mais importante para que o Espírito Santo seja incluído nas ações previstas no Susp, a integração das bases de dados de segurança ainda não foi concluída pelo Estado. Segundo o Ministério Extraordinário da Segurança Pública (Mesp) o Estado alimenta o sistema de forma antiga e não atende na íntegra os parâmetros estabelecidos pelo Sinesp.>
O Sinesp, sigla para Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas, é a plataforma onde os Estados devem incluir as informações sobre crimes, investigações, sistema prisional, entre outras.>
O Mesp avalia que os dados enviados pelo Estado apresentam inconsistências. São detalhes que fazem o Estado ficar inadimplente pois seus dados, apesar de terem sido enviados, após analisados, não são validados, afirmou.>
Ainda há tempo, no entanto, para que a situação seja revertida. Segundo carta do ministro Raul Jungmann encaminhada a todos os Estados, o prazo para integração das bases de dados vai até 31 de outubro.>
De acordo com a lei que instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), quem deixar de fornecer ou atualizar seus dados no Sinesp não receberá recursos nem poderá fazer parcerias com a União para financiamento de ações de segurança pública.>
Estamos fazendo tudo como solicitado, mandando as informações mensalmente. Além disso, temos até o dia 31 de outubro para terminar esse trabalho de integração, justificou o coronel Nylton Rodrigues, secretário de Segurança Pública do Estado.>
Sobre as inconsistências apontadas pelo Ministério Extraordinário da Segurança Pública, o secretário afirma que se trata apenas de diferenças na organização das informações. Não é uma questão de número de homicídios, é questão do critério de preenchimento da tabela, diz.>
Ele afirma que, assim como outros estados do Sudeste, o Estado ainda não se integrou completamente pois tem o próprio sistema de boletim eletrônico, que funciona desde 2003.>
Apesar das divergências quanto à base de dados, o coronel Nylton afirma que o Susp, como um todo, é benéfico. Através do Susp o Governo Federal vai assumir um papel que nunca assumiu, diz.>
ENTENDA>
SUSP >
Quem Participa>
Órgãos federais>
Polícia Federal>
Polícia Rodoviária Federal>
Polícia Ferroviária Federal>
Guarda portuária>
Secretarias nacionais de Segurança Pública, de Proteção e Defesa Civil e de Política sobre Drogas>
Estaduais>
Polícias civis>
Polícias militares>
Corpos de bombeiros>
Institutos de criminalística, medicina legal e identificação>
Órgãos dos sistemas penitenciário>
Secretarias estaduais de Segurança Pública>
Municipais>
Guardas municipais>
Agentes de trânsito>
Quem será responsável >
O Ministério Extraordinário da Segurança Pública deverá gerir o sistema. O ministério é provisório.>
Sinesp>
Vai funcionar como um grande banco de dados de informações de segurança pública.>
Quem será responsável>
Estados>
Deverão alimentar o sistema com informações sobre ocorrências de crimes, o sistema prisional, rastreamento de armas e munições, material genético e digitais de suspeitos, e dados sobre o tráfico de drogas. Quem não fornecer os dados não poderá receber recursos federais.>
Para que vai serve>
Objetivo>
Criar uma padronização e também permitir que todos tenham acesso à essas informações. Servirá ainda para a criação, a partir de estatísticas, de políticas públicas mais eficazes.>
Fundo Nacional de Segurança>
É o fundo destinado à arrecadação de recursos para ações na área. Ele contará, além do orçamento normal, com o dinheiro vindo de loterias.>
Quem vai receber>
Participação>
Estados que contribuírem com as metas do Susp. O recurso poderá ser usado na construção e reforma de unidades policiais, compra de materiais, tecnologia e sistemas de informação, programas de prevenção ao crime, serviços de denúncia anônima, capacitação de peritos, entre outros.>
Sem dinheiro>
Não vão poder utilizar os recursos federais os Estados que não contribuírem com o Sinesp ou não cumprirem as metas estabelecidas pelo sistema.>
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