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Vendedor da Serra diz que parou com comercialização de MMS

Vendedor da Serra diz que parou com comercialização de MMS

Em rede social, morador da Serra deixou mensagem de aviso

Publicado em 29 de maio de 2019 às 02:09

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Jorge Gonçalves anunciou em grupo no Facebook que deixaria venda de MMS. Em outro grupo, no WhatsApp, participantes se revoltaram com o fim da comercialização. (Reprodução)

O morador da Serra Jorge Gonçalves anunciou em um grupo do Facebook que não venderia mais o dióxido de cloro, o MMS. A postagem foi feita depois de denúncia de A GAZETA, publicada na edição de ontem, sobre a venda do produto como remédio por um grupo da Serra em grupos de WhatsApp e em redes sociais.

“Bom dia pessoas do bem! Eu parei com as vendas de MMS, Vou focar só nas informações sobre saúde e produtos não proibidos”, escreveu Jorge em um grupo do Facebook chamado “Lair Ribeiro e Medicina Avançada”. Lair Ribeiro é médico nutrólogo conhecido por divulgar vídeos em canais no YouTube.

Na segunda-feira, após a reportagem comprar o produto pessoalmente com o vendedor, Jorge disse, em entrevista por telefone, que não comercializava a substância desde sua proibição.

GRUPOS

Nos grupos do Facebook e do WhatsApp administrados por Jorge, os clientes demonstraram revolta com o fim da comercialização do MMS, cuja venda é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fins medicinais.

Jorge Gonçalves anunciou em grupo no Facebook que deixaria venda de MMS. Em outro grupo, no WhatsApp, participantes se revoltaram com o fim da comercialização. (Reprodução)

Em um grupo do WhatsApp a que A GAZETA teve acesso, chamado de “Desparasitação 14”, com mais de 250 participantes de várias partes do Brasil, após o anúncio do vendedor muitos reagiram.

“Meu Deus! Não vou receber o meu. O Jorge não pode mais vender o MMS. Como as pessoas são imundas e acreditam na mídia manipuladora”, disse uma das participantes. “Onde vou comprar depois que o meu acabar?”, escreveu outra pessoa que foi orientada a usar o MMS para o tratamento de alguma doença.

Após essas declarações, Jorge deixou o grupo. Mas antes, ainda como administrador, removeu o número do filho Ângelo, que o ajudava na venda do MMS, e o de uma mulher da cidade de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, que compartilhava orientações sobre o uso da substância e indicava vídeos, fotos e links de sites no grupo. Era ela a administradora mais ativa.

Durante a tarde e a noite de ontem, participantes do grupo discutiam como conseguiriam novamente o MMS. Até outros fornecedores foram indicados.

MÉDICO: INTESTINO PODE DESCAMAR COM PRODUTO

O efeito que o MMS causa no organismo depende da concentração do produto que for ingerida. Isso porque em doses pequenas a substância pode causar náuseas ou vômito. Mas, em concentrações mais altas e se tomado com frequência, o produto pode gerar até uma úlcera. É que, equivalente à água sanitária, o elemento corrói as paredes do estômago e intestino por queimar a pele.

Os vendedores e usuários do produto relatam que são expelidos vermes com o uso do MMS. Na verdade, o que as pessoas pensam que são parasitas saindo do corpo pelas fezes e urina são fragmentos do estômago e intestino.

De acordo com o médico gastroenterologista Felipe Ferreira, a longo prazo, os males do MMS são inúmeros. “Muitas crianças já tomam a substância vomitando. Isso é sinal do corpo rejeitando o que está sendo ingerido. E aí tiveram a ideia de que o ‘medicamento’ fosse injetado por via anal”, destaca.

O médico ressalta que o que acaba saindo nas fezes e urina são, provavelmente, fragmentos de intestino. “É como se você fosse à praia e ficasse no sol por muito tempo. A pele vai queimar e descamar. Agora, imagina uma substância como a água sanitária em contato com o estômago e intestinos, corroendo as paredes dos órgãos, e a pele queimando. Depois, quando a pele está morta, ela se desprende e o organismo a elimina por meio de escrementos”, detalha.

“Muita gente tem irritação quando sente um cheiro mais forte de cloro, em casa mesmo, ou da água sanitária. Esses produtos são usados muito em limpeza de banheiro e tem gente que sente uma queimação no nariz. É o mesmo efeito, só que dentro do corpo”, exemplifica.

ANVISA RETIROU 200 ANÚNCIOS DO MERCADO

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já retirou mais de 200 anúncios ilegais de venda de o dióxido de cloro, o MMS, do mercado. A informações é do o gerente-geral de Inspeção e Fiscalização Sanitária da entidade, Ronaldo Gomes, que concedeu entrevista ontem à jornalista Fernanda Queiroz, da rádio CBN Vitória, sobre o falso remédio.

Ele afirmou que a Agência faz um trabalho diário de busca de anúncios e identificação dos vendedores. A Anvisa, inclusive, também vai investigar o grupo da Serra que vende o MMS pelas redes sociais após informações divulgadas na edição de ontem de A GAZETA. Veja a entrevista abaixo:

Como coibir a venda desses produtos?

Primeiro é importante o trabalho da imprensa para informação da população, para que ela esteja ciente de que não se trata de solução com nenhum tipo de possibilidade de efeito terapêutico. O segundo ponto é a ação da Anvisa. Todos os dias trabalhamos nos buscadores da internet, buscamos identificar a presença desses vendedores e assim que identificamos entramos com processo sanitário, que se resume a identificar quem é, autuar, solicitamos a retirada dos anúncios. E seguimos com processo administrativo sanitário que culmina, após julgamento, na aplicação de multa e punições cabíveis. Em muitas situações, as pessoas que comercializam esses produtos incorrem em crime, então, encaminhamos ao Ministério Público.

Qual é o tipo de crime?

Nesse caso, ele cai como falsificação e adulteração de medicamento, especificamente em um parágrafo da lei que trata da vende de medicamento sem registro. A venda de medicamento sem registro é crime previsto no Código Penal, com pena de reclusão de 10 a 15.

Há muita gente fazendo isso no Brasil?

Pelo número de anúncios que já bloqueamos temos uma ideia de quão grande é o volume. Até agora, a Anvisa bloqueou mais de 200 anúncios. Com esse dado dá para ter uma ideia sobre a quantidade de pessoas que estão nessa prática.

Como vocês conseguem fazer esses bloqueios?

O bloqueio acontece de formas diferentes. Hoje existem várias plataformas de marketplace (plataforma de vendas) com quem temos parceria e eu mesmo consigo bloquear esses anúncios. E o maior desafio ainda são as redes sociais, devido à dificuldade em obter dados dos vendedores. Nesse caso, a gente simula a compra e obtemos os dados desses vendedores.

Qual é a orientação pra que faz usa da substância?

Pare agora. E após isso procurem o médico, que é quem é capaz de orientar sobre todas as formas de tratar diferentes doenças.

Vocês têm conhecimento de profissionais da saúde que estão indicando isso?

Em algumas farmácias de manipulação ocorreu a venda dessas substâncias. Nós já estamos tratando essas farmácias e, em algumas delas, por incrível que pareça, o produto foi prescrito por algum profissional. Nesses casos específicos estamos colhendo todos os dados e encaminhando para os devidos conselhos.

TESTE EM LABORATÓRIO: SUBSTÂNCIA MAIS FORTE QUE ÁGUA SANITÁRIA 

Professor Helber Barcellos da Costa faz teste com líquidos que formam o MMS. (Ricardo Medeiros)

 

A reportagem de A GAZETA levou o MMS comprado por R$ 94 nas mãos de Jorge Gonçalves, na manhã da última segunda-feira, na Serra, para ser analisado em laboratório. O produto foi examinado pelo professor e pós-doutor em química Helber Barcellos da Costa, que precisou fazer um teste antes de analisar os líquidos, porque não estava descrito o que exatamente tinha dentro de cada frasco. A concentração de um dos produtos era maior que a de água sanitária.

Foram analisados dois frascos de clorito de sódio (usado para branquear produtos e descolorir papel) e dois de ácido clorídrico (usado na obtenção de corantes e no polimento de metais), ambos sem rótulos, entregues por Jorge no ato da compra.

É a combinação das substâncias que forma o dióxido de cloro, também chamado de MMS. A fórmula, na verdade, é usada na indústria como descolorante e desinfetante. O vendedor recomendou a mistura das substâncias presentes dos frascos com água antes de beber ou injetar no ânus via enema para o tratamento do autismo.

Com a análise, ficou atestado que as substâncias eram mesmo clorito de sódio e ácido clorídrico. O professor aponta que eles podem causar danos aos órgãos humanos, por se tratarem de materiais tóxicos sem nenhuma relação com medicamentos.

O professor destaca que o clorito de sódio é equivalente à água sanitária.

Mas aponta que da forma que está concentrado no produto comercializado para uso como MMS é bem mais forte.

O Fantástico, da TV Globo, que denunciou também a venda do MMS no último domingo, mostrou, em outra análise, que a concentração neste tipo de produto chegava a 10 vezes mais que a água sanitária.

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“O clorito de sódio tem uma ação semelhante ao que nós sentimos quando usamos a água sanitária em nossas casas. Provoca uma certa irritação nas mucosas. E o clorito de sódio pode ser até mais forte do que a água sanitária”, destacou Helber Barcellos.

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