> >
Ufes cria programa de doação de corpo para estudos na área da saúde

Ufes cria programa de doação de corpo para estudos na área da saúde

Com a preocupação de que futuramente não haja cadáveres para estudos e pesquisas, a Ufes criou o programa para conscientizar os capixabas a disponibilizarem corpos à instituição

Publicado em 3 de maio de 2019 às 21:10

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Ufes cria programa de doações de corpos para estudos na área da saúde. (Ricardo Medeiros )

O conhecimento da anatomia do corpo humano é de grande importância para que alunos da área de saúde possam se especializar. Mas havia um problema: a pouca concessão de cadáveres para estudos e pesquisas. Por isso, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) criou o Programa de Doações de Corpos.

O programa existe há cerca de um ano e, em um processo simples, todo cidadão pode manifestar interesse de doar seu corpo para a instituição. Basta preencher os formulários disponíveis no site sejadoador.ufes.br, autenticá-los em cartório, entregá-los no campus da universidade de Maruípe, em Vitória, ou enviá-los pelos Correios.

“O principal motivo das pessoas não doarem é a falta de informação. Elas não sabem que é possível doar e como fazer isso. É importante que população saiba da importância que esses corpos terão na formação dos diversos profissionais da área da saúde. A doação de corpos para estudo é uma das atitudes mais nobres que existem”, diz o professor de anatomia e coordenador do programa Ricardo Eustáquio.

A diretora do Centro de Ciências da Saúde, professora Gláucia Abreu, afirmou que o programa – inédito no Espírito Santo – tem o objetivo de esclarecer à população que a doação é legalmente permitida. “É da mesma forma que se faz doação de órgãos. Claro que existe uma documentação que precisa ser seguida, mas tudo muito simples e sem burocracias”, explicou.

No departamento de anatomia da Ufes, a maioria dos corpos que chegam são não reclamados (sem identificação) no Departamento Médico Legal (DML). Entretanto, nas últimas décadas, a oferta diminuiu.

“Antigamente os corpos para estudo eram de pessoas não identificadas, indigentes. As pessoas morriam na rua, não tinham familiar para reclamar. O corpo ia para o DML e depois de 30 dias se não identificado, com a permissão da lei, era doado para universidades. Hoje, diminuiu a quantidade de corpo e temos inúmeras faculdades da área de saúde (o que aumenta a demanda)”, relata Ricardo.

Os professores da universidade contam ainda que os últimos corpos chegaram à instituição em 2012. Com o uso constante dos cerca de 700 alunos que realizam as aulas de anatomia por semana, as peças se deterioram, e, sem as doações, não será possível substituí-las em um futuro próximo.

DESAFIOS PARA PESQUISA

Ainda segundo o coordenador do Programa de Doação de Corpos, o número pequeno de cadáveres pode comprometer as pesquisas. Ele cita o projeto de dissecção, em que alunos após as aulas de anatomia voltam para o laboratório para, com a ajuda do bisturi, identificar uma série de estruturas como vasos, nervos e musculatura.

“É uma maneira melhor dele aprender anatomia. E isso não está sendo possível mais porque temos uma quantidade pequena de corpos. Todos os professores tinham alunos de dissecção e tivemos que limitar isso para um por professor. E se continuar com essa falta de corpos podemos parar o projeto”, conclui Ricardo.

O professor destaca ainda a importância do doador avisar sua família de seu desejo, para que a doação seja efetivada após sua morte. “Depois que eu morrer eu perco meus direitos e meu corpo passa a ser da minha família. Se minha família quiser revogar minha doação ela pode fazer isso. O mas importante nesse processo é avisar todos os familiares e amigos do seu desejo porque são eles que vão efetivar a doação”, disse.

DML

A Polícia Civil, por meio de nota, explicou que existe uma fila de doação de corpos no Departamento Médico Legal (DML), mas por serem realizadas necropsias por causa de mortes violentas, nem sempre existem condições de doar esses cadáveres, pois a legislação não permite.

A concessão do cadáver está respaldada no Artigo 14 do Código Civil Brasileiro, que prevê a doação voluntária ou gratuita. O advogado Matheus Zovico Soella destacou que é vedada a comercialização do corpo. "Sem sombra de dúvidas a doação de corpos é medida de suma importância para a ciência e, portanto, deveria ser melhor regulamentada de modo a conferir maior segurança jurídica", disse.

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Além dos cadáveres, a Ufes aceita órgãos também, como explica Gláucia. “A doação é ideal para o transplante. Mas, às vezes, é um órgão que já apresenta problemas: por exemplo, uma pessoa era cardíaca, então, não vai doar o coração porque não atende a um transplante. Mas atende para o estudo”, explicou.

Para fazer a doação de órgãos, de acordo com a professora, é necessário realizar os mesmos passos do processo de doação de corpos.

COMO DOAR?

Para doar cadáveres à instituição é necessário que o interessado tenha mais de 18 anos e que preencha os formulários disponíveis no site ou compareça à Secretaria do Departamento de Morfologia da Ufes. Após a inscrição, a documentação é registrada em cartório.

Gláucia explica que a família realiza o velório normalmente e, após o término, a própria universidade vai ao local para recolhê-lo. "O corpo vem pra universidade, então ele fica doado à instituição", explicou.

Para mais informações a pessoa pode entrar em contato por meio do número (27) 3335-7358 ou mandar email para [email protected] ou [email protected].

O QUE DIZ O CRM?

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina, Celso Murad, o programa é uma boa iniciativa para auxiliar na aprendizado do aluno. "É o primeiro contato que o estudante de Medicina tem  com o corpo humano é com o cadáver. Ele aprende a interagir com o corpo humano, independente de estar vivo ou não".

Celso reconhece que, nos últimos anos, a doação de cadáveres para estudos diminuiu no Espírito Santo, o que seria um problema para os estudantes. "Não são todos os manequins (bonecos) que são adaptados para apresentar anomalia que o próprio corpo humano apresenta e, muitas vezes, o cadáver apresenta também", disse.

SAIBA MAIS

Existe algum impedimento ou restrição para a doação?

De acordo com a Ufes, não há impedimentos quanto a doenças, amputações, altura, peso ou idade (a doação de menores de 18 anos poderá ser realizada pelos pais). Até mesmo indivíduos portadores de doenças infecciosas ou transmissíveis, como o HIV e a hepatite, poderão fazer a doação pois, segundo a instituição, os estudos comprovam que depois do falecimento os agentes infecciosos perdem a sua ação. Entretanto, os corpos oriundos de morte violenta, crime ou suicídio são proibidos por Lei de serem doados, como afirma o DML.

E se eu já sou doador de órgãos para transplante?

Não há problemas. Primeiramente os órgãos passíveis de transplante serão retirados e doados. Após isso, o corpo será encaminhado à Ufes.

E se eu mudar de ideia, posso revogar minha doação?

Sim. É possível fazer isso a qualquer momento, bastando apenas informar à universidade sobre a nova decisão.

Após a morte a família poderá desistir da doação?

Sim. Após o falecimento, a família torna-se responsável pelo corpo, podendo revogar a decisão. Por isso é importante que o interessado converse com os familiares e deixe todos avisados do desejo em doar o corpo.

Mesmo que não eu tenha feito a doação em vida, a minha família poderá fazer a doação do meu corpo?

Sim. Após a morte a família passa a ser responsável pelo corpo, assim ela poderá fazer a doação. O importante é que a instituição seja contactada rapidamente após o falecimento pois os processos para a conservação do corpo deverão ser realizados o mais rápido possível.

Quanto custa doar o corpo?

Não existe custo.

A família recebe algum valor pela doação do corpo?

Não. É contra a Lei a comercialização e remuneração de corpos ou de órgãos, como afirmou o advogado Matheus.

O que vai acontecer com o meu corpo após a doação?

O corpo doado será submetido a técnicas de conservação e será levado para o Laboratório de Anatomia Humana da Ufes, onde os alunos da área médica poderão estudar diretamente em um corpo humano. A universidade reforça que todos os dados são sigilosos e apenas os alunos e funcionários do laboratório terão acesso ao corpo.

Quanto tempo o corpo permanecerá na Ufes? Os familiares visitá-lo?

O tempo de estudo é variável, segundo a Ufes, mas geralmente é de muitos anos. Visitas não são permitidas, pois apenas os alunos, técnicos e os professores podem ter acesso ao laboratório de anatomia.

O que será feito com o corpo após o mesmo ter sido utilizado para estudos?

Após anos de estudo e contribuição no desenvolvimento profissional dos alunos, os órgãos e tecidos que não puderem mais ser estudados serão incinerados ou sepultados no jazigo do Departamento de Morfologia da Ufes.

Fonte: Ufes

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais