Publicado em 15 de maio de 2019 às 12:41
A Ufes já está sob o impacto do bloqueio da verba de custeio da instituição promovido pelo Ministério da Educação (MEC), da ordem de R$ 33,2 milhões, e ainda pode ser afetada pelo corte de 150 bolsas de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).>
O número representa 12,5% das cerca de 1,2 mil bolsas custeadas pela Capes, fundação também vinculada ao MEC. A projeção foi feita pelo pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, professor Neyval Costa Reis Junior, após informações divulgadas sobre o assunto. Hoje, em reunião no Rio de Janeiro, a Ufes saberá o tamanho do prejuízo para as pesquisas na instituição que, se tiverem que ser suspensas, também terão impacto negativo na sociedade.>
O cálculo foi feito com base nos critérios do MEC, de reduzir 70% das bolsas de cursos avaliados com conceito 3 (regular) e 30% das com conceito 4 (bom). Para o professor Neyval, o critério não é justo, sobretudo para as instituições que estão ampliando a oferta de pós-graduação nos últimos anos. São muitas instituições que, assim como a Ufes, estão em fase de crescimento. A gente criou vários cursos, que agora estão em consolidação, e se este for o critério, perderemos um número expressivo de bolsas, lamenta.>
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Em uma década (2009/2018), a Ufes passou de uma oferta de 45 cursos de mestrado e doutorado para 93, ou seja, mais que dobrou. No mesmo período, a produção científica também teve importante incremento. Só de publicações de artigos indexados - aqueles que ficam disponíveis para acesso de pesquisadores em todo o mundo - passou de 392 para 1.199. Isso demonstra, segundo o pró-reitor, a relevância do que está sendo pesquisado na Ufes e da formação de mão de obra para o mercado. Essas publicações são usadas pelo próprio MEC como medida indireta de qualidade dos cursos, frisa.>
Cortes em bolsas já começaram a ser feitos na Ufes, sob a justificativa que estavam ociosas. Neste caso, foram 28, mas existe uma fase de transição entre o momento em que um aluno conclui sua pós e não tem mais direito à bolsa até a seleção de novo estudante. Já havia selecionados na fila, mas, ao tentar cadastrá-los, a Ufes descobriu que as bolsas não estavam mais disponíveis.>
O problema para a pesquisa na Ufes não para por aí. O professor Neyval disse que a pró-reitoria tinha uma reserva orçamentária para manutenção de equipamentos que possivelmente terá que ser direcionada ao pagamento de custeio, se confirmado o corte de R$ 33,2 milhões.>
No Ifes, o pró-reitor de pesquisa e graduação, André Romero Silva, também demonstra preocupação com os cortes - estimados em R$ 24 milhões - porque parte da verba de custeio financia 197 bolsas fornecidas pela própria instituição.>
Além disso, o custeio também é utilizado para professores pesquisadores participarem de eventos ou mesmo fazer mestrado profissional, disse.>
COMISSÃO COBRA PLANO DE METAS DO MEC>
Criada ontem, a Comissão Externa de Educação vai fiscalizar provas, investimentos e também vai cobrar que o MEC cumpra as metas previstas, apesar dos corte nas verbas das universidades e institutos públicos.>
O relator da comissão, o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES), quer entender como o ministério pretende continuar progredindo tirando das instituições verba que serve para incrementar os estudos. Também vamos investigar o sigilo do Enem, Enade e outras provas desse tipo e queremos analisar a situação dos professores na rede pública, adianta.>
De acordo com ele, a comissão está preocupada com o que os cortes podem acarretar a longo prazo: Só queremos ajudar, não é para criticar, pontua.>
O parlamentar reitera que ainda tem que colher dados e solicitará ao MEC que designe um porta-voz para tratar com a comissão.>
CÂMARA VOTA E CONVOCA MINISTRO DA EDUCAÇÃO >
A Câmara dos Deputados aprovou ontem a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para que ele preste esclarecimentos ao plenário hoje, sobre bloqueios no orçamento do setor. Essa foi uma derrota para o governo de Jair Bolsonaro, que contava, em votação, conseguir maioria contra a ida do ministro à Casa.>
Por se tratar de convocação, Weintraub é obrigado a comparecer à Câmara, sob pena de incorrer em crime de responsabilidade na hipótese de ausência sem justificação adequada, conforme prevê a Constituição Federal.>
O requerimento de convocação foi aprovado por 307 votos favoráveis e 82 contrários. Weintraub será ouvido em uma comissão geral (sessão de debates no plenário). É o primeiro ministro do governo Jair Bolsonaro convocado por alguma das casas do Congresso.>
A maioria dos partidos orientou as bancadas a votarem a favor do requerimento de convocação. Somente PSL e Novo orientaram contra a convocação.>
O líder do governo na Câmara, deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO), argumentou em plenário que o ministro já iria comparecer nesta quarta-feira a uma audiência pública conjunta na Câmara, de duas comissões permanentes. Por isso, considerou que a convocação era desnecessária.>
Para a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), o ministro é preparado para discutir os temas. Mas admitiu que não é nada agradável para o governo ter um ministro obrigado a comparecer à Câmara. O ministro da Educação é bastante preparado para falar sobre o assunto. Mas claro que não é nada agradável você ter um ministro convocado em vez de convidado, disse>
CAMPANHA CONTRA BLOQUEIO>
Em defesa da instituição e para que mais pessoas conheçam a produção científica da universidade, uma campanha nas redes sociais convida professores a publicarem uma foto e um texto de seu projeto, com a hashtag #pesquisaufes.>
A ideia é disseminar os trabalhos para que o público externo também tome conhecimento de que a Ufes é altamente produtiva na área de pesquisa.>
Outra iniciativa é a 1ª Mostra Balbúrdia Universitária, que pretende dar visibilidade a projetos de ensino, pesquisa, extensão e assistência da Ufes. Os trabalhos serão expostos hoje, das 13 às 16 horas, na passarela coberta da Prograd ao CT, em Goiabeiras.>
Ação semelhante será feita no campus do Ifes, em Vitória. Os trabalhos serão apresentados a partir das 8h, na calçada.>
Hoje, o dia todo será de mobilização: foi convocada uma greve nacional contra os cortes na educação.>
DE CARRO AUTÔNOMO A ASFALTO FEITO COM REJEITOS>
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Os cortes no orçamento para custeio (manutenção) das universidades e institutos federais preocupa as instituições por ameaçarem, além do ensino, projetos de pesquisa e extensão que trazem inovação. Na Ufes e no Ifes há grupos que estão revolucionando áreas do mercado que vão da saúde à indústria e construção civil. Muitas atividades enchem os olhos do mercado e são apostas reais de inovação em linhas de produção, como é o caso do asfalto de material reciclado, óleo que vira biodiesel e sabão, e carros que andam sozinhos.>
O engenheiro civil e professor da Ufes Patrício José Moreira Pires é quem gere o projeto que usa rejeitos da indústria do mármore e granito e das siderúrgicas para criar revestimento asfáltico e base para construção de estradas. O material já foi testado em trechos estratégicos em ruas de Anchieta, Sul do Estado, e as análises apontam que esse asfalto reciclado tem uma performance até superior ao produto tradicional. Em breve, ele irá implantar a tecnologia dentro da ArcelorMittal, que é quem fornece grande parte dos rejeitos para o projeto.>
Outro projeto da universidade é o carro elétrico autônomo sem motorista. A tecnologia, guiada pelo titular do Departamento de Informática da Ufes, professor Alberto Ferreira, foi pioneira no Brasil e também será levada para a indústria em breve. Até a Vale se interessou, de acordo com o pesquisador, e quer caminhões autônomos para diminuírem a poluição na Capital. Os carros que andam sozinhos foram desenvolvidos por ele e alunos por meio de um supersoftware.>
Até agosto de 2020 vamos entregar à Vale um protótipo. É um caminhão-pipa para regar áreas de transporte de pó de minério dentro da empresa para evitar que o vento carregue esse produto e polua a cidade, detalha.>
Já no Ifes, toneladas de óleo de cozinha são recolhidos pelo projeto Fábrica de Sabão Ecológico, na região do Aribiri, em Vila Velha, que transforma o material em sabão e ainda revende parte do que é reciclado para que seja transformado em biodiesel. Lá, o professor Mauro Cesar Dias coordena o trabalho, que começou em 2012 e já é responsável até por fazer girar a economia da região, com a solução criativa.>
FINANCIAMENTO>
Também há muitas iniciativas na área da saúde. O infectologista e professor Aloisio Falqueto é referência nos estudos da febre amarela no país e possui um acervo único no mundo, parte na Ufes e parte na Fiocruz. Trata-se de 25 mil mosquitos congelados em nitrogênio líquido que foram capturados por um grupo de pesquisadores em 2018, quando o Espírito Santo teve um surto da doença.>
A ideia é investigar a fundo o ciclo de infecção do vírus, mas o projeto já sofre com problemas financeiros antes mesmo do corte de verbas anunciado pelo governo federal. É que já foram recusados três vezes os pedidos de financiamento a diferentes entidades ligadas à pesquisa no Brasil.>
Agora, está em negociação com uma instituição norte-americana, que já acenou positivamente para a liberação do dinheiro. Até agora, paguei tudo do meu bolso, mas para a próxima etapa precisaria desembolsar cerca de R$ 70 mil só para os primeiros trabalhos, reitera.>
Aloisio detalha que precisa de produtos específicos e caros, para estudar as interações do vírus no corpo dos insetos transmissores. As análises também desvendariam outros aspectos sobre a febre amarela, finaliza.>
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