Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 22:13
Para justificar a decisão de anistiar os policiais militares que participaram da greve da Polícia Militar em 2017, o governador Renato Casagrande (PSB) afirmou que a tropa está doente, citando que muitos PMs adoeceram por pressão psicológica.>
Ele também teceu duras críticas ao modo como o governo antecessor conduziu a negociação com os grevistas e negou que a anistia pode abrir brecha para outros episódios de quebra de hierarquia dentro da PM.>
O socialista afirmou que o antigo governo, de seu adversário político Paulo Hartung (sem partido), deixou de dialogar com a categoria e pisou no "calo dos policiais" mesmo após o fim do movimento.>
"Se houve informação das nossas instituições de que aquilo (a greve) poderia acontecer, o governo deveria ter dado mais atenção. Acontecido o movimento, o governo deveria ter tido um lançar de pontas para o diálogo para não deixar prorrogar por mais de 20 dias essa manifestação. E fim das manifestações, o governo continuou pisando no calo dos policiais", comentou Casagrande.>
>
Ao ser questionado se "pisar no calo" significaria perseguir os policiais, Casagrande disse que não usaria o termo "perseguição", mas reafirmou que o governo nos últimos dois anos usou todos os instrumentos para "manter a corda esticada" e não criar um "ambiente de harmonia" para a corporação.>
A lei impede militares de fazerem greve. Qual a justificativa para anistiar?>
Houve erros de quem manifestou porque a polícia não pode paralisar, aceitar manifestação e erros na época da condução do governo. Temos um episódio muito triste para o Estado, com pessoas perdendo a vida, em decorrência de erros das duas partes. Fiz esse debate antes de chegar ao governo de que era preciso fechar essa ferida e apontarmos para frente. O capixaba tem pressa para que a polícia fique motivada em um ambiente de harmonia para que enfrentemos a criminalidade no Espírito Santo. São esses motivos que me fizeram encaminhar o projeto de lei.>
O senhor não acha que a anistia pode colocar em xeque a hierarquia da PM, pondo em risco a própria instituição? Tivemos casos de PMs expulsos que queimaram a própria farda...>
Era um ambiente que nós tivemos naquela época e perdurou até hoje. São mais de 2600 policiais que sofrem ou sofrerão processo, um terço da tropa. Tivemos diversos policiais que atentaram contra a própria vida. Temos 500 policiais afastados por questões de saúde. A tropa está doente, com uma pressão psicológica muito forte. Era preciso dar esse passo adiante e a corregedoria da Polícia será muito rigorosa, preservando a hierarquia, a disciplina. O comando da Polícia será muito rigoroso para que a gente possa manter a tropa motivada e, ao mesmo tempo, com disciplina e hierarquia.>
Isso não pode abrir uma brecha para que se repita a greve já que esses policiais ficarão sem punição?>
Tenho certeza que não haverá brecha porque não estamos abrindo mão da hierarquia e da disciplina. Estamos resolvendo um problema criado por erros do passado, de quem manifestou e de quem conduziu pelo Estado. Estamos olhando para frente. O policial militar sabe que tem um regulamento, que tem regras e tem que respeitar hierarquia e disciplina. Isso será observado pelo comando da Polícia Militar.>
Mas os policiais sabiam que isso existia e mesmo assim fizeram greve. Isso não pode voltar a acontecer?>
Tem que penalizar quem tem responsabilidade. Teve responsabilidade quem manifestou e quem conduziu o processo (pelo governo). Não tem que botar 100% da responsabilidade nas costas só de uma parte, que são os policiais. Se nós tivemos erros dos dois lados e o prejuízo foi grande, não adianta continuar com a tropa desmotivada, sem uma harmonia necessária. Vamos apontar para frente e respeitar cada vez mais essa hierarquia e essa disciplina.>
E o salário e as condições de trabalho? Foram reclamações muito fortes durante a greve. Como será isso para frente no governo do senhor?>
Condições de trabalho nós daremos dentro das nossas possibilidades. Daremos dignidade aos policiais. Salário depende de receita e não posso prometer aumento a nenhum servidor porque depende do desempenho da receita.>
Como fica a imagem do governo para a família dos mais de 200 mortos durante o período da greve já que essas mortes foram causadas pela ausência da PM? Essa falta de punição não seria uma mensagem um pouco controversa para esses familiares?>
Essa pergunta, essa avaliação que você faz é parcial porque você está condenando só a Polícia. Não condene só a Polícia. Condene aquele ambiente que nós tivemos de relação inexistente entre polícia e governo. E é isso que precisamos observar. Nós já tivemos 62,95% dos crimes de fevereiro de 2017 elucidados. Para os casos que faltam, estamos designando a partir de hoje dois delegados que trabalharão com exclusividade na elucidação desse restante de crimes. "Não há nada que possa recompor uma vida tirada, mas é fundamental que a gente tenha elucidado e identifique os autores desses crimes. É uma preocupação para que ninguém fique impune ao se aproveitar daquele momento de erro dos manifestantes e do governo.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta