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Rio Doce: 3 anos depois, população ainda sofre

Rio Doce: 3 anos depois, população ainda sofre

Vale ainda responde na Justiça por desastre em Mariana

Publicado em 26 de janeiro de 2019 às 03:06

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Homem observa o Rio Doce com cor marrom após a chegada da lama em Colatina. (Vitor Jubini)

Desde que a lama de rejeitos da barragem de Mariana atingiu o Rio Doce, a paisagem e a vida dos moradores não voltaram à normalidade no Espírito Santo. Pessoas continuam mudando de profissão e doenças persistem nas vilas de pescadores.

Três anos após a tragédia, o pescador Domingos Ponche, de 46 anos, continua com depressão, doença adquirida após o rompimento da barragem. Ele afirma que não há mais atividade econômica e lazer para quem mora em Maria Ortiz, Colatina. “Eu não consigo fugir das lembranças do rio, ele corta o quintal de casa. Continuo sofrendo como muitos outros”, disse.

O “tsunami” de lama, com 32 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério (o equivalente a 12.800 piscinas olímpicas), devastou os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, e tirou a vida de 19 pessoas no dia 5 de novembro de 2015. Os rejeitos seguiram por 500 quilômetros Rio Doce a dentro e atingiram a foz, em Regência, em Linhares, no Espírito Santo, 17 dias após o início da catástrofe ambiental.

Pelo caminho da lama ainda há pescadores, donos de pousadas, artesãos, marisqueiros na luta para serem reconhecidos como atingidos. Muitos não receberam o auxílio mensal pago pela Fundação Renova (criada para administrar a crise) por meio de um cartão. Outros estão sem a indenização por danos morais e materiais prevista no Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), firmado entre Samarco, as acionistas Vale, BHP Billiton, governo federal e governos estaduais de Minas Gerais e Espírito Santo em 2016.

JUSTIÇA

Enquanto pessoas continuam sofrendo, as punições caminham a passos lentos. A Vale, a Samarco e a BHP são rés uma ação da Justiça Federal desde 2016, ao lado da, em uma ação por homicídios e crimes ambientais. Até o final de 2018, essa ação seguia correndo na comarca de Ponte Nova, na Zona da Mata, sem que os réus tenham sido julgados.

Além disso, o Comitê Interfederativo (CIF), responsável por fiscalizar e validar as medidas de recuperação dos danos resultantes da tragédia executados pela Renova, já aplicou quatro multas à Fundação Renova, que somam R$ 39,58 milhões. Entre elas, pelo descumprimento de obrigação relacionada ao cadastro de pessoas atingidas no Espírito Santo, no valor de R$ 3,3 milhões. Já o Ibama aplicou 25 autos de infração contra a Samarco, que totalizam R$ 350,7 milhões. Nada foi pago até o momento.

“As empresas não aprenderam e vão continuar errando se não forem punidas. Quantas vidas teremos que perder para isso acabar?”, lamenta a pescadora Monique Rodrigues dos Santos, 32. A moradora da vila de Mascarenhas, em Baixo Guandu, se refere à falta de punição às empresas responsáveis pelo desastre em Mariana e ao novo rompimento em Brumadinho, Minas Gerais na barragem da Vale, acionista da Samarco.

Data: 29/10/2018 - ES - Linhares - Três anos após a tragédia de Mariana, impacto da lama da Samarco no Rio Doce. Casa com protesto contra a Samarco . (Carlos Alberto Silva - GZ)

PESQUISAS DEVEM DAR RESPOSTAS

Os atingidos continuam esperando por respostas por parte do poder público e das empresas responsáveis pelo desastre. O peixes estão contaminados? A água consumida traz riscos à saúde? O mar está contaminado? E o mangue? As folhagens irrigadas pela água do rio sofrem algum tipo de contaminação? São dúvidas que ainda perduram.

Pela falta de respostas, muitos não voltaram a pescar já que não há compradores. Outros continuam comprando água mineral para beber em Colatina, cidade abastecida pelo Rio Doce. Nascentes ainda abastecem algumas famílias.

Apesar disso, algumas respostas somente começarão a aparecer a partir de março após conclusão de pesquisas. Uma delas envolve 500 pesquisadores de 24 universidades do país que estudam os efeitos da lama da barragem da Samarco no Espírito Santo. É a maior pesquisa já realizada para saber de que forma os metais impactaram o meio ambiente. Esta é a primeira fase e a cada seis meses os resultados serão divulgados.

A coordenação da “Rede Rio Doce Mar” é da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Desse trabalho em conjunto, virão conclusões sobre o consumo de pescado na alimentação humana e a liberação da pesca de espécies nativas sem ameaça à continuidade da fauna local, entre outras diretrizes para preservação do ecossistema ao longo da bacia do Rio Doce. A Renova, fundação criada para reparar os danos do desastre ambiental, repassou R$ 120 milhões para as pesquisas.

O Rio Doce, em Colatina, quando a lama de rejeitos da barragem de Mariana tomou conta de seu leito. Tragédia completou três anos neste mês. (Vitor Jubini)

FUNDAÇÃO DIZ QUE INVESTIU R$ 1,3 BILHÃO

A Fundação Renova informou, por meio de nota, que se solidariza com as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Mina Feijão, em Brumadinho. A empresa informou que em relação ao rompimento da barragem de Fundão, há 42 programas e projetos que estão sendo implementados na área impactada. Até o momento, mais de R$ 1,3 bilhão foram pagos em indenizações e auxílios financeiros emergenciais em toda a região impactada.

A Renova afirma que também trabalha na revitalização da bacia hidrográfica do Rio Doce. Já foram recuperadas 1.050 nascentes em propriedades de Minas e Espírito Santo. Sobre a qualidade da água, esclareceu que o rio Doce tem 92 pontos de monitoramento, sendo 22 deles realizados por estações automáticas. Além disso, realiza estudos que avaliam o risco à saúde provocado pelo rejeito e metais pesados do Rio Doce.

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Já a Samarco informou que já quitou, até o momento, cerca de R$ 45 milhões referentes à uma multa aplicada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad). Sobre as outras autuações, a empresa entende que “há aspectos técnicos e jurídicos nas decisões que precisam ser reavaliados”.

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