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Radar meteorológico que daria alerta de chuva forte no ES não saiu do papel

Radar meteorológico que daria alerta de chuva forte no ES não saiu do papel

Equipamento instalado em Aracruz, apontado como o mais moderno da América Latina, era fruto de uma parceria entre o governo do Estado e a Vale, firmada em 2013. Projeto foi encerrado sem que dados fossem divulgados

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 15:03

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Data: 22/11/2019 - ES - Vila Velha - Forte chuva registrada na Grande Vitória - Editoria: Cidades. (Vitor Jubini)

O projeto do radar meteorológico que emitiria alerta para a população em até três horas antes de eventos naturais como chuvas fortes não vingou. O equipamento, anunciado em novembro de 2013, era fruto de uma parceria entre a mineradora Vale e o governo estadual que acabou sendo encerrada em 2015. Os dados técnicos por ele produzidos no período nunca foram divulgados, garante o Incaper,  que sediou o supercomputador que armazenava todas as informações.

O equipamento, que chegou a ser apontado como o mais moderno da América Latina, foi anunciado como alternativa para que o Estado pudesse se antever a eventos naturais extremos. Ele integraria ainda o Centro Capixaba de Monitoramento Hidrológico (CCMH), uma das iniciativas do Programa Capixaba de Adaptação às Mudanças Climáticas, lançada na mesma época.

Radar Meteorológico instalado em Portocel, Aracruz. (Vale/Divulgação)

De acordo com Cleber Guerra, diretor administrativo e financeiro do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o equipamento teria operado até 2015. "Em 2015 houve o distrato da parceria, que foi encerrada. Não sabemos o motivo. Os computadores que foram instalados, provisoriamente, em uma sala do Incaper, lá ficaram até dezembro do ano passado, quando foram retirados pela Vale", relata.

Guerra conta ainda que em janeiro do ano passado, quando assumiu a gestão do Incaper, houve uma tentativa do governo estadual de retomar a parceria. "Chegamos a realizar uma reunião com a equipe da Vale para retomar as atividades. Foi agendado um segundo encontro, mas dias antes ocorreu a tragédia de Brumadinho. Entendemos a situação deles, mas os contatos não voltaram a ser retomados. Em dezembro eles desocuparam a sala e retiraram os equipamentos", conta.

Pelo contrato de parceria, segundo Guerra, os equipamentos seriam custeados pela Vale nos dois primeiros anos e, posteriormente, seriam assumidos pelo governo estadual, o que não ocorreu com o encerramento da parceria.

Além do radar meteorológico, que segundo informações do site do Iema foi instalado na área da Portocel, em Aracruz, também foi feita a instalação de 25 estações meteorológicas em propriedades rurais no interior do Estado. O que foi viabilizado pelos técnicos do Incaper, que visitaram as regiões e indicaram as áreas adequadas para os equipamentos e viabilizaram os convênios com os produtores. O Incaper assinala ainda que, como o Estado nunca recebeu nenhum tipo de informação oriunda do radar, nunca pode repassar nenhum dado para os produtores. "Eles nos cobram informações sobre o assunto", relata Cleber.

O diretor do Incaper avalia que a presença de mais um radar seria importante para o Estado, principalmente se fosse instalado na Região Sul, nas áreas mais montanhosas. Atualmente somente um equipamento funciona no Espírito Santo. Trata-se de um radar meteorológico do Centro Nacional de Monitoramento de Alerta e Desastres Naturais (Cemaden), localizado em Santa Teresa.

EQUIPAMENTO DOS SONHOS

Segundo informações constantes no site do Iema, o radar meteorológico teria um alcance de 240 quilômetros. Uma comitiva do governo estadual, liderado pelo governador à época, Renato Casagrande, visitou o local onde estava instalado o radar, em Portocel, Aracruz.

Governador Renato Casagrande  e equipe visita instalações do radar meteorológico localizado em Aracruz, no ano de 2013. (Iema/Divulgação)

Com 30 metros de altura, é dito no site do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) que os dados fornecidos pela máquina iriam contribuir para a precisão dos boletins meteorológicos que seriam emitidos pelo Centro de Capixaba de Monitoramento Hidrometeorológico (CCMH). A secretária de Estado do Meio Ambiente da época, Diane Rangel, destacou:  "Estas ações irão permitir que o Estado possa agir antecipadamente e evitar os danos causados não só pelas fortes chuvas, mas também para que saibamos como agir também em períodos de estiagem”.

O investimento  para a implantação do Centro Capixaba de Monitoramento Hidrometeorológico (CCMH), que começaria a funcionar no primeiro semestre de 2014, seria de R$ 20 milhões investidos pelo Estado e R$ 40 milhões custeados pela Vale, também segundo o site do Iema. No entanto, o atual gestor Incaper informou que não sabia  quanto o governo estadual chegou a investir no projeto na época.

Segundo ainda o Iema, para integrar o CCMH foram instaladas 20 Estações Hidrológicas e mais 45 Estações Meteorológicas, sendo 25 delas instaladas pela Vale. A modernização do Sistema de Monitoramento Hidrometeorológico irá permitir medir a temperatura, pressão, precipitação de chuvas, velocidade e direção de ventos de forma integrada a um sistema de satélites para operação em regime ininterrupto.

OUTRO LADO

Por nota a mineradora Vale informou que a parceria com o governo do Espírito Santo para operação do radar meteorológico foi interrompida em 2015. "A empresa segue em contato com órgãos públicos de forma transparente para estudar alternativas que contribuam com o monitoramento das condições climáticas no Estado", disse em nota.

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No site da empresa, em matéria de setembro de 2014, é informado que o radar "recebeu a visita do cientista-chefe do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR), Richard Carbone. Ele esteve no Complexo de Tubarão e na cidade de Aracruz (ES), onde conheceu e realizou uma auditoria nos equipamentos". É citado ainda na mesma matéria que o equipamento contribui para a precisão dos boletins meteorológicos e dos alertas para a proximidade de ventos e chuvas.

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