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Professor se fantasia de 'Nega Maluca' no ES e é acusado de racismo

Professor se fantasia de 'Nega Maluca' no ES e é acusado de racismo

Foto postada no Instagram de uma escola particular e replicada por internautas no Twitter teve repercussão negativa. Entidades do movimento negro explicam por que atitude é considerada errada e racista

Publicado em 26 de junho de 2019 às 19:14

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Uma imagem compartilhada no Instagram, no perfil de um colégio particular, causou revolta entre internautas nesta quarta-feira (26). É que a foto mostra um professor que se pintou de preto e se fantasiou de "Nega Maluca" para participar de um evento junino. O ato acabou gerando acusações de racismo e de ter praticado "black face".

Professor foi acusado de racismo nas redes sociais. (Reprodução | Instagram)

Mas o que é 'black face'? Por que esse ato é considerado incorreto e totalmente desrespeitoso para a população negra? A reportagem do Gazeta Online conversou com representantes de identidades do movimento negro no Espírito Santo, que se mostraram revoltados e preocupados com a forma que algumas instituições de ensino estão levando "na brincadeira" atos considerados racistas. 

Black face, como explica a presidente da Organização Das Pretas, Priscila Gama, é quando uma pessoa usa as características raciais (perfil étnico de alguém) como fantasia — o que é considerado errado, de acordo com o coordenador do Fórum Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), Lula Rocha.

"Isso é uma perspectiva de que uma pessoa negra não pode ocupar esses espaços. Pra mim isso não é fantasia. Simular uma pessoa negra não pode ser fantasia. Você não vê ninguém se fantasiando de pessoa branca", disse.

Rocha ainda explicou que a prática do 'black face' veio dos Estados Unidos e era usado como forma de rebaixar pessoas de pele negra. "A gente também teve isso na história do Brasil, que ao invés de empregar atores negros, eles pintavam pessoas brancas para fazer papéis de negros", explicou o coordenador.

Priscila Gama acrescenta que há uma grande falha na educação da população. "A prova disso é que na formação dos nossos professores, a educação e o sistema não se preocupam em formá-los enquanto seres humanos, portadores de empatia e de respeito", desabafou.

Priscila Gama critica qualquer forma de brincadeira que possa ser ofensiva. (Carlos Alberto Silva)

Já o membro do Coletivo Negrada, João Victor dos Santos, acredita que, por o episódio acontecer dentro de um colégio, a situação é mais agravante, já que deveria ser um local de ensino. "O blackface é absurdo por si só. Só que é uma instituição de ensino e isso potencializa. É como se a identidade negra fosse uma fantasia, que a qualquer momento eu posso usá-la, e em outros momentos não", disse. 

"POR QUE A NEGRA TEM QUE SER MALUCA?"

Rosemberg Moraes. (Arquivo Pessoal)

O presidente do Fórum Chico Prego Conselho Nacional Estadual, Rosemberg Moraes, relembra que há lei, a de número 10.639, que torna obrigatório aulas de cultura afro-brasileira nas instituições de ensino, de acordo com o Planalto. Mas, segundo ele, isso, infelizmente, acontece em poucas escolas. "Nós queremos é que as leis sejam realmente valorizadas. Por que a negra tem que ser maluca?", disse.

Aspas de citação

Nós consideramos que isso não é uma forma de diversão, uma brincadeira

Rosemberg Moraes
Aspas de citação

Rosemberg ainda reforçou que a mulher, ainda mais por ser negra, acaba sendo a primeira na escala da violência. "Temos que valorizar os elementos da nossa cultura e da nossa religião, mas isso a gente não vê. Então a gente só vê em alguns casos pela internet o deboche da nossa cor, da nossa cultura", desabafou Moraes.

A POSTAGEM

O post do Instagram foi printado e colocado por internautas no Twitter, onde a discussão sobre o tema se tornou maior. Entre os comentários, muitos internautas ficaram revoltados com a situação. "Um professor fez isso, meu! E o pior que os alunos devem achar que não tem nada de errado, já que um professor fez isso. Educação vai longe desse jeito", disse.

Em outra postagem, uma internauta também criticou a ação da instituição. "E o colégio que resolveu fazer uma comemoração de festa junina e pediu para os professores irem fantasiados. Um professor muito engraçado, que a maioria dos alunos gosta, resolveu ir vestido dessa forma".

O QUE DIZ O COLÉGIO

Acionada pela reportagem na tarde desta quarta-feira (26), o colégio UP informou que os professores tiveram liberdade criativa para escolher a fantasia para o evento "UP Day Junino". "Tão logo tomou conhecimento do fato, o professor - que, com certeza, não estava mal-intencionado - foi orientado sobre a questão. O UP se orgulha em ser uma instituição comprometida com o ensino de qualidade, pautado nos mais rígidos controles éticos e na excelência dos seus profissionais e que respeita e apoia as lutas e movimentos pela igualdade de todos", finalizou a nota. 

O Gazeta Online também tentou contato com o professor por meio de uma rede social, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

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