Publicado em 13 de julho de 2019 às 02:55
A Prefeitura da Serra acendeu um alerta após registrar um aumento expressivo no número de pessoas com problemas respiratórios causados por inalação de partículas nos últimos meses. Segundo a secretária interina de Meio Ambiente da Serra, Laís Garcia, em abril, foram 17 casos desse tipo registrados nos serviços de saúde que atendem aos bairros Praia de Carapebus, Novo Horizonte e Cidade Continental. Em maio, esse número subiu para 72.>
Os três bairros são vizinhos do Complexo de Tubarão. A Secretaria de Saúde nos alertou para esse aumento nos casos de doenças respiratórias, afirma.>
A saúde é a principal preocupação de quem vive na região. A cabeleireira Fernanda Ribeiro, 38, disse para A GAZETA, na semana passada, que pretende vender a casa em Praia de Carapebus onde mora com o marido e a neta, de dois meses. Segundo ela, a menina vive com problemas respiratórios e nos olhos. Coloquei minha casa à venda por conta desse pó preto, lamentou.>
>
A secretária conta que moradores enviaram à administração municipal diversos laudos médicos de pessoas que sofrem com o problema. Recebemos também áudios de pessoas que estavam doentes por conta desse produto lançado na atmosfera, ressalta. Ela se refere ao pó preto proveniente do carvão e do minério e à carepa um tipo de lasca de ferrugem formada no processo de laminação do aço a quente.>
Para a prefeitura, foi justamente a questão da saúde que fez acender o alerta quanto às atividades da ArcelorMittal. Os moradores da Serra estão ficando doentes, por isso fizemos essa ação (multar a empresa), disse.>
O doutor em Química e diretor da UCL Marcos Vinicius Lisboa Motta diz que a carepa encontrada por fiscais da prefeitura e do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) na casa dos moradores e Praia de Carapebus e nas dependências da ArcelorMittal é um óxido de ferro, assim como o pó de minério. A composição é a mesma e é um grande componente do que chamamos de pó preto, diz.>
No local, também foi encontrado minério e carvão. Segundo o especialista, a mudança da direção do vento pode ter provocado uma elevação muito maior na concentração das partículas em uma área específica. Ele afirma que, como qualquer sólido em suspensão, a carepa e o minério têm seu lado nocivo. Os particulados, quando inalados, comprometem as vias respiratórias superiores, diz.>
PREJUÍZO>
O presidente da associação brasileira de alergia e imunologia do Espírito Santo, José Carlos Perini, explica que o pó preto não é tóxico, mas quanto menor a partícula e maior quantidade inalada, maior prejuízo pode trazer à saúde. Os principais são os problemas respiratórios. O pó preto agride a mucosa nasal e a garganta, o que facilita o surgimento de gripe e infecções como faringite e sinusite. Quanto menor a partícula, mais chance ela tem de chegar ao pulmão, agravando quadros de asma, bronquite e rinite, por exemplo, afirma.>
O alergista acrescenta que essas partículas pequenas vindas do pó preto ao entrar na corrente circulatória podem provocar, inclusive, doenças cardiovasculares, como o infarto.>
Perini aponta que crianças e idosos sofrem mais, porém todos têm problemas com as partículas, só que em proporções diferentes. As pessoas nessas condições são passivos e não tem o que fazer para se prevenir.>
São as pessoas com menos dinheiro que tendem a sofrer mais com o problema. São pessoas que não têm recurso, não têm como comprar ar-condicionado, por exemplo, e precisam se refrescar com uma janela aberta.>
EMPRESA DIZ QUE NÃO FOI NOTIFICADA>
Questionada sobre a multa aplicada pela Prefeitura da Serra, a ArcelorMittal informou, por meio de nota, que ainda não recebeu a notificação e que não pode dar esclarecimentos pois desconhece o teor dela.>
Na última semana, após vistoria do Iema e da prefeitura, a empresa informou que estava fazendo uma investigação interna para averiguar se alguma atividade fora da rotina da empresa pode ter ocasionado essa característica de pó mais brilhante observado pela comunidade.>
Na ocasião, a empresa afirmou ainda que a poluição do ar por partículas na Grande Vitória vem de várias fontes, não sendo possível determinar exatamente um responsável. É importante ressaltar que as emissões de material particulado na Grande Vitória possuem diversas fontes, como o setor de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo), atividades da construção civil (incluindo terraplanagem), queimadas, aerossóis marinhos, solos e industrial, afirmou.>
Segundo a empresa, os ventos fortes, típicos do período, também podem ter contribuído para dispersão de poluentes dos vários tipos de fontes. A empresa, no que tange à sua responsabilidade, intensifica seus controles ambientais, buscando reduzir ao máximo sua participação nas emissões.>
A empresa disse ainda na nota da semana passada que vem implementando novos controles para seus pátios de estocagem de matérias-primas e vias de circulação interna, incluindo aplicação de cobertura vegetal em pilhas de produtos, e sistemas de monitoramento de alerta de ventos.>
Estes investimentos fazem parte do Termo de Compromisso Ambiental (TCA), e totalizam mais de R$ 1 bilhão, em projetos de curto, médio e longo prazos.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta