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Parentes são investigados por agredir e roubar idosos

Parentes são investigados por agredir e roubar idosos

Em 4 meses foram 332 denúncias, maioria contra filhos e netos

Publicado em 24 de junho de 2018 às 23:27

Idosos são vítimas dos próprios filhos e netos Crédito: Arabson

No lugar de descanso e tranquilidade, agressões, ameaças e roubos. Assim tem sido a rotina de muitos idosos capixabas, que acabam virando reféns justamente daqueles que deveriam cuidar e zelar pelo bem estar das vítimas: os parentes mais próximos, como filhos e netos.

Segundo a delegada Milena Chaves, da Delegacia de Atendimento e Proteção à Pessoa Idosa (DAPPI), de cada 10 casos registrados no local, seis são de crimes contra o patrimônio.

“Merecem destaque os crimes contra os bens, proventos, pensões ou rendimentos do idoso. O índice desse tipo de ocorrência está aumentando. Isso se deve porque a pessoa idosa é mais visada pela vulnerabilidade e fragilidade”, afirmou.

E o maior problema, de acordo com Milena, é que quase todos os casos envolvem filhos e netos criados pelos avós.

Em 2018, somente nos quatro primeiros meses, foram 332 ocorrências registradas na Delegacia do Idoso, sendo 45 registros por lesão corporal, 116 por ameaças e 17 por maus-tratos. Já pelo Disque-Denúncia, em todo o ano de 2017 foram 692 denúncias.

Na legislação penal brasileira há normas que visam proteger a honra, a vida, a saúde, física e psíquica, e o patrimônio do idoso.

“Com o Estatuto do Idoso, muitos direitos foram estabelecidos, multas e outras implicações administrativas foram criadas para aqueles que descumprem os direitos e garantias da pessoa idosa, inclusive, podendo sofrer sanções na área criminal”, afirmou a delegada.

A delegada completou que caso sejam detectadas, por qualquer pessoa, algum tipo de violência ou violações aos direitos do idoso, há meios como o Disque-Denúncia (181) para que o caso seja investigado. Além disso, um boletim de ocorrência pode ser feito na delegacia.

De acordo com Carlos Eduardo Rios do Amaral, defensor público da Vara da Infância e Juventude de Vila Velha, o envolvimento com drogas dos acusados potencializa os casos de violência e extorsão contra os idosos. “Eles se tornam violentos e, para sustentar o vício, roubam dinheiro dos idosos. Há casos de filhos e netos que roubam até mesmo roupas íntimas e comida dos idosos para trocar por drogas”, contou o defensor.

MARTELADA

Na Serra, um aposentado de 65 anos teve que ser internado após levar uma martelada na cabeça pelo próprio filho, em dezembro de 2017. O idoso chegou em casa e encontrou o filho mais velho, 38 anos, furtando a televisão da família. Usuário de drogas e alcoólatra, o filho pretendia trocar a TV por droga, segundo o aposentado, por isso o pai interveio.

Os dois discutiram e lutaram. Durante a briga, o filho pegou um martelo que estava na garagem e bateu com ele na cabeça do pai. O suspeito fugiu. Já o aposentado precisou ser internado.

NA GRANDE VITÓRIA SITUAÇÃO É DRAMÁTICA

Para a Defensoria Pública, problemas sociais como o abandono e má educação resultam em filhos e netos propícios a maltratar os idosos. De acordo com Carlos Eduardo Rios do Amaral, defensor público da Vara da Infância e Juventude de Vila Velha, diariamente avós procuram a Defensoria para tentar a guarda dos netos ao perceberem que eles foram abandonados ou não recebem uma educação digna.

“Por vários motivos, muitos pais e mães não querem saber de criar os filhos. Sabendo disso, os avós pedem a guarda. Mas, muitas vezes, sequer possuem vitalidade para criar mais uma criança e não educam com o mesmo pulso e rigidez que seria natural dos pais. Muitos avós podem ajudar, mas não conseguem criar sozinhos.”

O defensor completou que, com o passar dos anos, essa falta de disciplina e educação resulta em alunos ruins e adolescentes rebeldes. Muitos deles abandonam a escola e fazem amizades ruins. “Os idosos acabam passando o dia fora de casa tentando complementar a renda, quando voltam para casa ainda são agredidos e extorquidos pelos próprios filhos e netos. Essa é uma realidade brasileira e na Grande Vitória a situação é dramática”, diz.

CUIDADORA

Mas até mesmo aqueles que recebem para cuidar dos idosos estão inclusos nos casos de agressão e extorsão. Um exemplo é um morador de Viana, de 77 anos, que tinha o dinheiro da aposentadoria, cerca de R$ 900, sacado e subtraído pela própria cuidadora todos os meses. Quem percebeu foi o filho da vítima, que não vivia com o pai, em meados de 2017.

“Nossa família mora em Minas Gerais. Foi a vizinha do meu pai que ligou contando que ele estava sendo maltratado pela cuidadora. Fui atrás dele e o vi em péssimas condições de saúde e segurança. Foi muito triste. Hoje meu pai vive com a gente, em Minas. Ele relutou no início, mas agora está acostumando”, contou o filho do idoso.

PERNA AMPUTADA

Uma idosa de 75 anos chegou a ter a perna amputada após ser vítima de abandono e maus tratos em Vila Velha, no fim de 2017. Após gritos de socorro, a vítima foi localizada por vizinhos caída no chão, com sede, fome e apresentando sinais de desnutrição.

Vizinhos relataram ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) que a idosa tinha a saúde perfeita. Mas após a filha dela ganhar um apartamento, tudo mudou.

“Ela ficava trancada sozinha, sem higiene básica e alimentação. Quando a filha chegava, uma vez ao mês para pegar o dinheiro da aposentadoria, ela era ainda mais maltratada. Após pegar uma bactéria na perna e não ir ao médico cuidar, ela teve a perna amputada, pois sofria de diabetes. Depois, entrou em depressão”, contou uma vizinha, sem se identificar.

Enquanto a idosa ficou internada, a filha transformou a casa em um ponto de comércio e alugou para terceiros. A idosa foi obrigada a mudar-se para o andar de cima, sem acessibilidade, mesmo sendo cadeirante. Após o resgate, a vítima foi levada para um asilo, onde ficou até a morte.

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