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Paciência e discrição: veja como funciona o trabalho de um detetive

Paciência e discrição: veja como funciona o trabalho de um detetive

Maioria dos clientes querem saber se foram traídos pelo cônjuge, mas há quem procure carro roubado, fraude em empresas e até a orientação sexual dos filhos

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 18:15

Trabalho de detetive exige experiência e paciência Crédito: Arabson

"Ainda não posso te atender. Aliás, vou falar agora, mas se eu precisar sair, vou desligar, tá?". Foi assim que a nossa reportagem iniciou uma conversa com o detetive Nascimento – nome usado para exercer seu trabalho. A frase dele pode até parecer deselegante, mas a verdade é que Nascimento estava em campana. Na linguagem dos profissionais da área, esse é momento em que os detetives ficam observando e aguardando para "dar o flagrante". 

Casos como este, investigado pelo detetive Nascimento, em que uma pessoa pede auxílio de um profissional para descobrir se está sendo enganada por outro alguém, são mais comuns do que possam parecer. Seja para desvendar uma traição conjugal, uma suspeita de irregularidade na empresa, achar um veículo roubado, uma pessoa desaparecida e até mesmo saber se um filho usa drogas ou tem um relacionamento homossexual, os detetives ainda continuam sendo requisitados pelo trabalho atrás de respostas. E o preço da investigação também vai depender de cada caso, mas, geralmente, o cliente paga por um pacote, como detalha Nascimento.

"Há vários tipos de investigação. Algumas se resolvem rapidamente, outras demoram mais, não temos como prever, mas, geralmente, quando é um caso conjugal eu fecho um pacote de quatro dias em um valor que gira em torno de R$ 1.200 a R$1 .400. Há clientes que mesmo com as provas querem saber mais, então tudo é conversado. Faço outros tipos de investigação também, como a de veículo roubado. Para esta, o valor inicial é o de R$ 3 mil. E pode aumentar dependendo do valor do carro", relata.

Nascimento está neste mercado há 10 anos, atendendo tanto na Grande Vitória como em todo o Espírito Santo. Ele explica que o trabalho precisa ser minuciosamente executado com discrição e que a experiência é uma das armas destes profissionais.

"Tem gente que acha que é um trabalho fácil, de ficar só observando. Mas é algo que exige muito do detetive. Você tem que estar sempre atento, a todo momento. Estou dando esta entrevista agora pra você, mas não perdi o foco aqui. Eu tenho uma equipe que trabalha comigo, então estou sempre com alguém do meu lado. Ficamos muito dentro do carro. Mas tem horas que você precisa ir no banheiro, por exemplo, e se a pessoa que você quer dar o flagrante estiver saindo de um determinado local, não podemos perdê-la de vista. Quem estiver no carro vai logo. Por outro lado você precisa saber a hora de se afastar para a pessoa investigada não suspeitar que está sendo seguida. Se ela descobre, pode colocar o trabalho todo a perder", esclarece. 

Uma empresária de Colatina, de 42 anos, que não vai ser identificada para ter sua identidade preservada, contratou um detetive de Vitória para seguir os passos de um namorado. Ele morava na capital e os dois tinham um relacionamento à distância por cinco anos. Cansada de receber alerta de amigos e familiares sobre a conduta do companheiro, ela resolveu reunir provas para confirmar o que ela desconfiava já fazia tempo. Foi então que buscou a ajuda de um profissional. 

"Eu desconfiava, mas ele era um homem muito bom quando estava comigo, e sempre me levava na lábia. Mas certo dia resolvi que queria provas concretas, já que ele nunca assumia que havia me traído. Contratei um detetive. Mas meu caso demorou ser finalizado porque aconteceram muitas coisas no meio da investigação. Em um dia, quando o detetive estava na cola dele e da mulher que ele estava saindo, veio um caminhão e bateu na moto que ele pilotava no dia. O detetive se feriu gravemente e precisou ser internado na UTI. Depois de um tempo, ao receber alta, ele voltou nas buscas e outro incidente aconteceu. Quando ele estava seguindo o carro em que a amante do meu namorado estava, a câmera fotográfica travou e ele perdeu o carro de vista ao ser parado em uma blitz da polícia. Essas foram algumas das situações que aconteceram durante esse período", conta.

Depois de quase três meses desta investigação, a empresária, enfim, teve suas provas em mãos. Fotos, vídeos e conversas pelo WhatsApp comprovaram o que ela desconfiava. No entanto, os dados que reuniu também apontaram para respostas ainda mais abrangentes.

"Eu descobri que ele me traía não apenas com a menina que eu desconfiava. Ele tinha outras mulheres, inclusive uma ex-namorada dele. Foi algo que me machucou muito, porque quando você realmente vê que a desconfiança virou verdade e que era além do que você desconfiava, é realmente um baque muito grande. Mas pelo menos eu consegui tomar coragem e terminar o relacionamento de vez, já que já tínhamos terminado e voltado outras vezes."

A revelação das provas das traições para o namorado foi feita em um almoço, preparado pela própria filha da empresária.

"Eu deixei ele chegar lá em casa, o tratei como sempre tratava, e quando ele estava deitado no sofá eu fui contando e mostrando todas as provas que tinha. Ele não recebeu bem, disse que eu não tinha direito de fazer aquilo. Depois de terminarmos ainda tentou reatar nosso namoro, mas eu nunca mais voltei", comenta.

A empresária conta que gastou cerca de R$ 5 mil na investigação. E assim como o caso dela, que tratava de uma demanda relacionada a um caso conjugal, a maioria dos clientes do detetive Nascimento são deste mesmo tipo.

"Cerca de 60% das pessoas que me contratam estão querendo saber se são traídas pelo parceiro ou parceira. E é a investigação mais em conta. Quando se trata de casos de empresas que buscam provas contra empregados, por exemplo, o caso passa a ser mais complexo e o valor é mais alto. O meu sustento vem todo do meu trabalho de detetive. Hoje tiro cerca de R$ 4 mil livres por mês, já que gasto com gasolina, além dos equipamentos para registrar os vídeos e as fotos. Mas esse salário é relativo. Tem mês que rende mais, outros menos. E minha agilidade também está diretamente relacionada ao que recebo. Se eu termino rápido uma investigação, logo já posso passar para outra e assim vai. Fato é que no passado a gente ganhava mais. Hoje em dia, depois desse crise toda, ficou mais difícil, as pessoas querem desconto, choram muito para o preço abaixar", acrescenta o profissional. 

Além de Nascimento, outros detetives foram procurados pela reportagem, no entanto preferiram não se pronunciar com receio que a exposição pudesse atrapalhar de alguma forma o trabalho. 

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