Publicado em 26 de agosto de 2019 às 23:31
A maior onda de incêndios florestais em sete anos tem atraído os olhares do mundo para o Brasil, mas o fenômeno, por si só, não é novo. Os biomas brasileiros, sobretudo a Amazônia, sempre sofreram com queimadas provenientes da exploração de terra. O alarmante, desta vez, é a velocidade com que a situação se agravou. Como as proporções ficaram tão grandes?>
Dados e pesquisas mostram que o cenário de 2019 é atípico e sem precedentes. Veja a seguir o que já sabemos sobre os incêndios na maior floresta tropical do mundo, que também abriga a maior reserva de biodiversidade do planeta.>
PANORAMA ATUAL>
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Há quase um mês, florestas e matas queimam nos Estados do Norte e Centro-Oeste, se estendendo pelo Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo áreas da Amazônia e do Pantanal. O fogo já atingiu a tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai.>
A Amazônia é o bioma mais afetado e concentra 52,5% dos focos de queimadas de 2019, segundo os dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Cerrado é responsável por 30,1%, seguido pela Mata Atlântica, com 10,9%.>
Somente nas últimas 48 horas, contadas até esta sexta-feira (23), foram registrados pelo Instituto 4.228 focos de fogo no país. Desses focos, a maior parte na região amazônica.>
RECORDE>
Segundo dados do Inpe, o número de incêndios detectados no Brasil entre 1º de janeiro e 22 de agosto bateu recorde e alcançou a marca de 76.720 ocorrências. A quantidade apresentou um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2018, onde foram registrados 41.404 focos. A quantidade é a maior desde 2013. >
Com base apenas nos números de queimadas, Mato Grosso tem a maior quantidade registrada de incidentes este ano -14.640, o equivalente a 19,1% do total do país. A maioria dos Estados brasileiros teve alta nos focos de queimadas em relação ao mesmo período de 2018. Mato Grosso do Sul lidera, com aumento de 286%, seguido do Pará (204%) e Roraima (192%).>
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No Espírito Santo o número subiu de 88 registros em 2018 para 229, um incremento de 160% que coloca o Estado em 20º lugar no ranking nacional.>
Ação humana contribui para queimadas>
Historicamente, os períodos prolongados de seca alinhados a alterações climáticas e ao desmatamento podem gerar focos de fogo. O aumento substancial das queimadas observado este ano, no entanto, não é visto com normalidade pelos especialistas. Os tempos de seca mais severos ocorrem no mês de setembro e não houve mudanças climáticas extremas, como o El Niño, que pudessem justificar a magnitude das ocorrências registradas. Desta forma, somente causas naturais não são suficientes para explicar os incêndios neste ano e a ação humana contribui para o agravamento do cenário.>
Como a Amazônia é uma floresta tropical, os incêndios mais recorrentes ocorrem quando a madeira desmatada seca e, depois, é incendiada para abrir espaço a pastagem ou agricultura. De acordo com especialistas, um incêndio natural não teria facilidade em se alastrar devido às características úmidas da vegetação.>
FUMAÇA>
O tamanho das queimadas ainda não é preciso, mas elas se espalham pelos Estados que compreendem a floresta na região Norte e Centro-Oeste do Brasil. Em 21 de agosto, a Nasa divulgou uma imagem de satélite mostrando uma camada cinzenta sobre vários estados brasileiros. A magnitude dos incêndios era tamanha que podiam ser vistos do espaço.>
Na segunda-feira (19), o "dia virou noite" em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e no norte do Paraná. No meio da tarde, uma forte névoa escura encobriu a capital paulista, deixando a cidade no breu e acendeu o alerta dos ambientalistas.>
Segundo especialistas, uma frente fria com ventos marítimos originada do Sul do Brasil trouxe uma nuvem mais baixa e carregada. Junto a isso, o corredor de fumaça proveniente das queimadas da floresta amazônica, que vem descendo pela América do Sul, potencializou a escuridão. A fumaça que vem varrendo o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil já atingiu países vizinhos como Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia.>
DESMATAMENTO>
Dados do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgados pelo Inpe, mostraram um aumento de mais de 40% nos alertas de desmatamento até julho. O mês passado teve também um número de alertas de perda de floresta equivalentes a 2.254,9 km², o pior referente a um mês na história. Houve um aumento de 278% em relação ao mesmo mês em 2018, quando o índice foi de 596,6 km².>
O Deter capta imagens via satélite da Amazônia Legal, que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos Estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.>
Ainda de acordo com o sistema, de agosto de 2018 a julho deste ano, os alertas indicaram que 6,8 mil km² poderiam estar em desmate. Entretanto, o balanço oficial do desmatamento no período, que se encerrou em julho de 2019, ainda não foi divulgado pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).>
Se comparado ao levantamento anterior, de agosto de 2017 a julho de 2018, os alertas sinalizaram desmate em 4,5 mil km ² e a taxa oficial ficou em 7,5 mil km² 64,8% maior. A expectativa é que os números oficiais deste ano sigam a tendência de alta em relação aos alertas.>
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), indicou um aumento de 15% no total acumulado entre agosto de 2018 a julho de 2019, comparados ao registrado no ano anterior. Segundo o SAD, a área desmatada nos últimos 12 meses chegou a 5.054 km².>
Somente em julho de 2019, o SAD detectou 1.287 km² de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 66% em relação a julho de 2018, quando o desmatamento somou 777 km². O Imazon utiliza para a medição o período entre agosto e julho da mesma forma que o Prodes, sistema oficial usado pelo governo federal para monitorar o desmatamento da Amazônia.>
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