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'O clima em Vitória será inabitável por horas do dia', alerta cientista

"O clima em Vitória será inabitável por horas do dia", alerta cientista

Segundo o cientista e membro do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Carlos Nobre, até o final do século, quem vive em Vitória terá que passar parte do dia em ambientes climatizados para sobreviver

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 19:55

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Carlos Nobre, climatologista e cientista. (Rodrigo Gavini)

As temperaturas mais altas provocadas pelas mudanças no clima mundial implicam em muitos riscos para a saúde. Até o final do século, quem vive em Vitória terá que passar parte do dia em ambientes climatizados para sobreviver. A previsão catastrófica, mas real, deriva das mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa.

O alerta foi feito pelo cientista e membro do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Carlos Nobre. “Se perdermos o controle, durante pelo menos seis meses por ano, o clima em Vitória será inabitável por horas do dia. Nesses momentos, as pessoas não poderão ficar na rua, terão que ir para ambientes com ar- condicionado, pois estaremos extrapolando o limite fisiológico de temperatura e umidade que o corpo humano aguenta”, disse.

A projeção para daqui 80 anos foi feita durante a instituição do Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas, nesta quarta-feira (11), em Vitória, e pontuou três frentes onde o Governo do Estado e demais entes que compõem o Fórum devem atuar para que o ES chegue a ser um Estado com zero emissões de carbono.

Até o final do século, quem vive em Vitória terá que passar parte do dia em ambientes climatizados para sobreviver. (Fernando Madeira)

ENTREVISTA

A atual alteração no clima já tem consequências na população?

Os recordes de temperatura já são danosos para quem tem problemas de saúde cardiovasculatórios e respiratórios. Se não tivermos sucesso em conter essas mudanças, as altas temperaturas serão o clima de boa parte do brasil.

Como os estados podem contribuir nesse problema climático mundial?

Mudanças mesmo começam no consumo responsável. As pessoas têm que consumir pensando nos impactos climáticos. Depois, deve ser enfrentado nas comunidades, passando pelas cidades, chegando aos estados e o governo federal normatizar, fazer as políticas públicas em espectros nacionais.

Porém, o governo atual dá menos importância ao tema, por isso os estados ganham um papel fundamental. Devem se organizar e liderarem as políticas para combater as mudanças no clima neste momento no qual o governo federal está indeciso sobre o assunto.

Quais frentes o Espírito Santo deve atuar?

O Espírito Santo tem um perfil de emissões industriais alto. Pode reduzir as emissões de carbono com modernização de processos industriais.

Outro ponto é caminhar para a eletrificação - carros elétricos - da frota de transportes para evitar a queima de combustíveis fósseis que emitem gases.

O Estado também tem potencial de restauração florestal da área de Mata Atlântica que foi desmatada, pois retiramos gás carbônico na hora que as florestas estão crescendo.

Quais medidas devem ser tomadas para reduzir os riscos que as mudanças já estão provocando?

O Espírito Santo é uma zona costeira, então há riscos de intensas ressacas com o aumento do nível do mar. É necessário ter um plano de adaptação. Ainda não temos muitos estados no Brasil com esse plano e, talvez, o Espírito Santo poderá ser um estado a iniciar isso de uma forma mais resoluta - determinada - devido à disposição do Governo Estadual.

Estamos muito pouco preparados para os desastres naturais. Repetidas vezes vemos o Espírito Santo  vítima de secas pronunciadas que afetam a atividade econômica.

A médio e longo prazo, as políticas de todos os estados deve ser de buscar zero emissões. Há sempre uma emissão que não é possível controlar, você compensa essas emissões com absorções. Por exemplo, restauração de Mata Atlântica. Nenhum estado brasileiro estabeleceu uma meta ainda “Zero em Carbono”, quem sabe o Espírito Santo seja o primeiro?

As queimadas na Amazônia têm impactos direto no clima do Espírito Santo?

De forma indireta, sim. Os ventos levam a poluição das queimadas das amazônicas para o sul do sudeste. Porém, qualquer mudança na circulação na atmosfera vai ter impactos até globais. Se a Amazônia desaparecesse, fica mais quente de 2 a 3 graus o local, afetando toda a região e até locais mais distantes.

 

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