Uma questão que desafia especialistas e governos: os usuários de crack que vivem nas ruas mudam de lugar, circulam pelas cidades, mas o poder público não encontra solução definitiva para tratá-los e evitar que continuem migrando. Em Jardim da Penha, na Capital, alguns saíram de uma praça quando a prefeitura colocou grades e se instalaram na calçada de galpões. Outros estão debaixo da Ponte de Camburi. Em Vila Velha, os usuários de drogas invadiram a obra de um prédio abandonado pela construtora.
Por um lado, a Polícia Militar afirma que o caso é de saúde pública e social e que só pode atuar quando um crime é cometido. Do outro, as prefeituras enfatizam que fazem trabalho de monitoramento e abordagem dessa população (oferecendo serviços como abrigos e até encaminhamento para clínicas de reabilitação) mas ressaltam que não podem obrigar os moradores a saírem das ruas nem a aceitarem tratamento.
Os especialistas concordam que a solução para a questão não está em gradear ou impedir acesso dos usuários a determinados locais e sim pensar em políticas públicas eficazes que devolvam dignidade a essas pessoas.
Em meio a tudo isso, a população dos bairros reclama da insegurança e afirma viver com medo. Eles já ameaçaram moradores do prédio e cometeram vários furtos, afirma um morador de Jardim da Penha que não quis se identificar. Ele se refere à um grupo de usuários de drogas que se concentra há alguns meses em frente à entrada de cargas dos galpões do Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Segundo ele, as pessoas fazem até fogueira no meio da rua e usam drogas tanto de dia quanto à noite. O homem explica que o grupo costumava se abrigar na Praça Regina Frigeri Furno, mas saiu de lá depois que a prefeitura, a pedido dos moradores, colocou grades em volta da arquibancada onde eles se abrigavam.
O coordenador de segurança da Associação de Moradores de Jardim da Penha, André Alves, diz que as grades foram colocadas para preservar o local. A prefeitura limpava e, no outro dia, já estava sujo de fezes, restos de comida e drogas, diz.
Ele pondera que a situação não está restrita ao bairro. É um problema de todas as grandes cidades e que o poder público não está conseguindo controlar. A legislação é falha e não há investimento suficiente para as políticas públicas nessa área, avalia.
André afirma ainda que se sente impotente diante da reclamação dos moradores. Existe uma questão que engessa a gente, que é a legislação. Na minha opinião, precisaria ter internação compulsória. Pelo menos até a pessoa estar limpa o suficiente para decidir por si mesma, afirma.
POLÍCIA
Ele diz ainda que, mesmo quando a polícia prende um desses usuários de drogas em flagrante de furto, por exemplo, eles são soltos em seguida e voltam para o bairro. Ainda assim, a PM informou que encoraja a participação da comunidade fazendo denúncias de crimes em andamento pelo telefone 190 e também registrando boletins de ocorrência para os casos em que não há flagrante.
Por meio de nota, a Companhia Nacional de Abastecimento, responsável pelos galpões do IBC, afirmou que vai retirar a cobertura da marquise dos prédios, mas que os moradores de rua ficam na área pública externa aos armazéns.
VILA RUBIM : DO MERCADO PARA OUTROS PONTOS
Após uma mudança na ação dos comerciantes e moradores da Vila Rubim, em Vitória, a comunidade conseguiu que os usuários de drogas deixassem a área do mercado. No entanto, as mesmas pessoas passaram a circular em outros pontos da cidade como nas proximidades do Parque Moscoso e também na Rua Construtor Vitorino Teixeira.
O diretor da Organização Social do Centro Histórico de Vitória, Renato Freixo, conta que foi feita uma ação entre a comunidade para conscientizar da importância de não dar dinheiro e comida para os usuários de drogas. Antes eles pediam comida e, quando alguém comprava a marmita, eles vendiam para conseguir dinheiro para usar mais droga, lembra.
A estratégia agora é outra: quando os usuários entram em algum estabelecimento pedindo ajuda, os comerciantes orientam a procurar a abordagem social. A gente começou a oferecer vaga em clínica de reabilitação e eles sumiram daqui. Tem seis meses que estamos fazendo isso e está tendo um resultado positivo pra gente, conta.
Renato diz que o serviço de abordagem social funciona bem no bairro e que a população de rua recebe visitas diversas vezes por semana. Eles conhecem as pessoas até pelo nome, mas não pode internar a pessoa se ela não quiser. Então, é como enxugar gelo, finaliza.
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