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Novas cracolândias se espalham na Grande Vitória

Novas cracolândias se espalham na Grande Vitória

Grupos tomam conta de ruas, praça e construção abandonada

Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 02:36

Usuários de droga que vivem na rua ocupam espaço em frente aos galpões do IBC, em Jardim da Penha Crédito: Carlos Alberto Silva

Uma questão que desafia especialistas e governos: os usuários de crack que vivem nas ruas mudam de lugar, circulam pelas cidades, mas o poder público não encontra solução definitiva para tratá-los e evitar que continuem migrando. Em Jardim da Penha, na Capital, alguns saíram de uma praça quando a prefeitura colocou grades e se instalaram na calçada de galpões. Outros estão debaixo da Ponte de Camburi. Em Vila Velha, os usuários de drogas invadiram a obra de um prédio abandonado pela construtora.

Por um lado, a Polícia Militar afirma que o caso é de saúde pública e social e que só pode atuar quando um crime é cometido. Do outro, as prefeituras enfatizam que fazem trabalho de monitoramento e abordagem dessa população (oferecendo serviços como abrigos e até encaminhamento para clínicas de reabilitação) mas ressaltam que não podem obrigar os moradores a saírem das ruas nem a aceitarem tratamento.

Os especialistas concordam que a solução para a questão não está em gradear ou impedir acesso dos usuários a determinados locais e sim pensar em políticas públicas eficazes que devolvam dignidade a essas pessoas.

Em meio a tudo isso, a população dos bairros reclama da insegurança e afirma viver com medo. “Eles já ameaçaram moradores do prédio e cometeram vários furtos”, afirma um morador de Jardim da Penha que não quis se identificar. Ele se refere à um grupo de usuários de drogas que se concentra há alguns meses em frente à entrada de cargas dos galpões do Instituto Brasileiro do Café (IBC).

Segundo ele, as pessoas fazem até fogueira no meio da rua e usam drogas tanto de dia quanto à noite. O homem explica que o grupo costumava se abrigar na Praça Regina Frigeri Furno, mas saiu de lá depois que a prefeitura, a pedido dos moradores, colocou grades em volta da arquibancada onde eles se abrigavam.

O coordenador de segurança da Associação de Moradores de Jardim da Penha, André Alves, diz que as grades foram colocadas para preservar o local. “A prefeitura limpava e, no outro dia, já estava sujo de fezes, restos de comida e drogas”, diz.

Ele pondera que a situação não está restrita ao bairro. “É um problema de todas as grandes cidades e que o poder público não está conseguindo controlar. A legislação é falha e não há investimento suficiente para as políticas públicas nessa área”, avalia.

André afirma ainda que se sente impotente diante da reclamação dos moradores. “Existe uma questão que engessa a gente, que é a legislação. Na minha opinião, precisaria ter internação compulsória. Pelo menos até a pessoa estar ‘limpa’ o suficiente para decidir por si mesma”, afirma.

POLÍCIA

Ele diz ainda que, mesmo quando a polícia prende um desses usuários de drogas em flagrante de furto, por exemplo, eles são soltos em seguida e voltam para o bairro. Ainda assim, a PM informou que encoraja a participação da comunidade fazendo denúncias de crimes em andamento pelo telefone 190 e também registrando boletins de ocorrência para os casos em que não há flagrante.

Por meio de nota, a Companhia Nacional de Abastecimento, responsável pelos galpões do IBC, afirmou que vai retirar a cobertura da marquise dos prédios, mas que os moradores de rua ficam na área pública externa aos armazéns.

VILA RUBIM : DO MERCADO PARA OUTROS PONTOS

Após uma mudança na ação dos comerciantes e moradores da Vila Rubim, em Vitória, a comunidade conseguiu que os usuários de drogas deixassem a área do mercado. No entanto, as mesmas pessoas passaram a circular em outros pontos da cidade como nas proximidades do Parque Moscoso e também na Rua Construtor Vitorino Teixeira.

O diretor da Organização Social do Centro Histórico de Vitória, Renato Freixo, conta que foi feita uma ação entre a comunidade para conscientizar da importância de não dar dinheiro e comida para os usuários de drogas. “Antes eles pediam comida e, quando alguém comprava a marmita, eles vendiam para conseguir dinheiro para usar mais droga”, lembra.

A estratégia agora é outra: quando os usuários entram em algum estabelecimento pedindo ajuda, os comerciantes orientam a procurar a abordagem social. “A gente começou a oferecer vaga em clínica de reabilitação e eles sumiram daqui. Tem seis meses que estamos fazendo isso e está tendo um resultado positivo pra gente”, conta.

Renato diz que o serviço de abordagem social funciona bem no bairro e que a população de rua recebe visitas diversas vezes por semana. “Eles conhecem as pessoas até pelo nome, mas não pode internar a pessoa se ela não quiser. Então, é como enxugar gelo”, finaliza.

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