O terror vivenciado em Suzano (SP) não está longe como pode-se supor. Estudo realizado com alunos na Região Metropolitana de Vitória não deixa dúvidas para os pesquisadores: um novo massacre pode acontecer em qualquer escola por causa de bullying.
É o que afirma o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Edson Theodoro Santos Neto, epidemiologista e coordenador do projeto de doutorado sobre fatores de risco para doenças em adolescentes. Fizemos um estudo epidemiológico ouvindo adolescentes de 15 a 19 anos, no ensino médio. Constatamos uma prevalência muito alta de bullying nas escolas.
Foram ouvidos 2.293 alunos nos municípios da região - Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão - e, desses, cerca de 40% já foram vítimas de bullying e 29% admitiram ser agressores.
A pesquisa foi feita em 54 escolas das redes particular e pública, em 2016 e 2017. Segundo explica o professor, o diagnóstico, tanto para vítima quanto para agressor, foi feito a partir de respostas a uma questionário de padrão internacional, no qual a palavra bullying não aparece. São questões indiretas que levam à conclusão desse quadro.
Edson Theodoro acrescenta que a equipe pedagógica das escolas muitas vezes não sabe como lidar com a situação, ou até não admite o problema. Estivemos em escolas em que disseram que não havia bullying. Reconhecer que existe o problema é o primeiro passo para intervir".
FAMÍLIA
A tese de doutorado ressalta, ainda, que o bullying não está vinculado apenas à escola. O ambiente domiciliar e o social em que os meninos e meninas estão envolvidos também podem favorecer à prática.
Edson Theodoro esclarece que adversidades - abusos físico (surra), psicológico, sexual, presenciar uso de drogas - que os adolescentes eventualmente sofreram em casa quando ainda eram crianças aumentam em até quatro vezes o risco deles se envolverem em bullying, como vítima ou agressor. Se há mais de um tipo de violência associada, o risco sobe para até 10 vezes.
De outro lado, se o adolescente está envolvido em grupos sociais, como movimentos comunitários, igreja, equipe esportiva, o bullying tem menos chance de prosperar. Embora a escola possa fazer muito para prevenir, e deve mesmo ser espaço de intervenção, o fenômeno bullying é resultado daquilo que aconteceu na infância. Essa sociedade violenta contra a criança vai sofrer o reflexos daqui a algum tempo, conclui.
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