Publicado em 23 de outubro de 2018 às 00:51
Mais de 16 mil pessoas estão na fila aguardando uma consulta com um cirurgião geral no Estado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de espera varia, mas pode chegar a, no máximo, um ano e meio, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). É nessa consulta que será definido pelo médico se o paciente precisa ou não de uma cirurgia.>
Há consultas e exames que podem variar menos de 20 dias de aguardo, como também há casos de espera de mais de seis meses. Nosso prazo máximo é de um ano e meio e entendemos que esse paciente precisa até ser reavaliado para confirmar se existe a necessidade da cirurgia. Geralmente são casos mais simples e pacientes que não foram nas consultas, disse a coordenadora da Central de Regulação da Sesa, Patrícia Vedova.>
Ainda de acordo com Patrícia, cada caso é analisado individualmente e classificado por risco de prioridade. Não queremos que a população aguarde, mas aqueles pacientes mais graves são priorizados no sistema, o que acarreta dos pacientes menos graves esperarem mais, justificou.>
Para combater o tempo de espera na fila, a Sesa tem investido em mutirões de cirurgias eletivas. Não importa se são 20 mil ou 50 mil pacientes. O que importa é o tempo de espera. De julho até dezembro estamos fazendo o mutirão de cirurgias vasculares, ginecológicas e oftalmológicas. Esse mutirão até pode ser estendido se houver necessidade.>
>
Patrícia explicou que a espera também está relacionada com as ausências dos usuários nos procedimentos agendados: 38,2% das consultas e 30% dos exames não aconteceram porque os pacientes faltaram. Quem não pode comparecer deve procurar a unidade de saúde do município com quatro dias de antecedência para desmarcar a consulta ou o exame. Assim o procedimento pode ser aproveitado para outro paciente.>
Ainda de acordo com a Patrícia, após a consulta com o cirurgião, até 70% das pessoas na fila não são casos cirúrgicos e podem ser tratadas clinicamente por meio de medicamentos.>
HÁ DOIS ANOS DIAGNOSTICADA COM CATARATA, APOSENTADA ESPERA OPERAÇÃO>
A cada dia que passa o medo de não enxergar aumenta para a aposentada Pedrina Marcelina dos Santos Coutinho, 81. Há dois anos diagnosticada com catarata, aguarda na fila do SUS a realização de uma cirurgia. Ela estava pronta para fazer o procedimento, mas, por causa de outro problema de saúde, voltou para a espera.>
O caso da minha mãe já evoluiu para glaucoma. Ela ia fazer cirurgia, só que, no final do ano passado, tirou dois coágulos da cabeça. Tivemos que deixar a cirurgia de catarata de lado e tratamos da isquemia cerebral. Agora, estamos desde janeiro aguardando a cirurgia do olho. Ela já fez duas consultas, contou a filha de Pedrina, Jolimar Coutinho, 46.>
A promessa é de que Pedrina vai ser consultada no Hospital Evangélico, em Vila Velha, na próxima sexta-feira. Minha mãe costurava e bordava, mas agora não podemos deixar ela chegar nem perto do fogão porque já não enxerga direito. Fico muito triste em vê-la assim. Acho isso um descaso.>
O hospital diz que Pedrina está sendo acompanhada pela equipe de oftamologia e confirma o atendimento esta semana, sem dizer se há previsão para a cirurgia.>
DEMORA>
A espera também tem sido difícil para o agente de viagem Rogério Agripino, 54, que está com uma arritmia cardíaca. Correndo risco de vida, segundo um laudo médico, ele precisa fazer um procedimento por cateter urgente no coração.>
O SUS não faz esse procedimento, só paga no particular para quem entrar na Justiça, e foi o que fiz. O juiz deu parecer exigindo que a Sesa execute o procedimento, mas até agora nada.>
Procurada, a Sesa informou que não há prestador credenciado no SUS que oferte este serviço no Estado. Para atender a solicitação, foi aberto processo de compra do procedimento.>
ANÁLISE>
Investimento para o SUS>
O SUS precisa de investimento tanto de recursos financeiros para ofertar mais consultas e mais exames para reduzir esse tempo de espera, mas também necessita investir em tecnologia inteligente para otimizar o acesso das pessoas a essas consultas. Se o paciente não pode comparecer, ele poderia desmarcar pela internet e o próprio sistema convocar o próximo da fila. Isso poderia evitar o desperdício de consultas e exames que estão agendados e não são executados justamente por causa da ausência dos usuários. Cada caso tem que ser avaliado e há aqueles que as pessoas realmente podem esperar. Mas há casos, como o de tumores malígnos, por exemplo, que os pacientes precisam de um atendimento rápido já que correm risco de vida.>
Edson Theodoro dos Santos Neto, professor do Departamento de Medicina Social da Ufes>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta