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Juiz fala sobre prisão do pai do menino Kauã: 'Não houve excesso'

Juiz fala sobre prisão do pai do menino Kauã: "Não houve excesso"

Carlos Abad, que deu ordem de prisão ao empresário Rainy Butkovsky, diz que "ameaçar um juiz é ameaçar o Judiciário, o que é inconcebível'

Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 17:02

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(Leonardo Goliver)

Não houve excessos na prisão do empresário Rainy Butkovsky, ocorrida na terça-feira (19) em frente ao Fórum de Linhares, assinala o juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Linhares, Carlos Abad. "O que houve foi o exercício da autoridade como juiz de Direito e representante do Poder Judiciário. Dei a ordem de prisão e determinei aos policiais que a cumprissem."

O empresário foi detido após levantar o lado direito da camisa, e dizer para o juiz: "Você não é o único que possui uma arma." Logo em seguida, pôs a mão na genital e falou novamente para o magistrado: "É com você mesmo que estou falando". Neste momento foi dada a ordem de prisão, executada por policiais que estavam no local.

De acordo com Abad, excesso teria ocorrido se a pessoa que estava sendo detida tivesse sido destratada ou agredida. "O que não aconteceu. Assim que determinei aos policiais que executassem a prisão, entrei no carro e fui para o DPJ prestar meu depoimento".

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Ameaçar um juiz é ameaçar o poder Judiciário, o que é inconcebível

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De acordo com Abad, a defesa de Rainy tem alegado que não sabia que ele era um juiz que, naquele momento, estava em frente ao fórum. "Se não sabia que eu era um juiz, como presumiu que uma pessoa que ele não sabia ser juiz tinha uma arma de fogo? Outro ponto, se eu não fosse um juiz, ele poderia fazer aquilo, ameaçar um cidadão?", questionou.

O magistrado relatou ainda que esta não é a primeira vez em que o empresário acompanhado de outras pessoas promovem tumultos em frente ao Fórum. "Na última vez aconteceu o mesmo. Naquela ocasião minhas audiências estavam sendo realizadas no 2º andar do Fórum e até lá o barulho incomodava. Desci e solicitei aos policiais que afastasse as pessoas que causavam o tumulto. E eles me viram conversando com os policiais e reclamaram".

O promotor Fabrício Admiral, que atua em Linhares, estava próximo ao juiz Abad quando ocorreram as ameaças. Ele relata que Rainy provavelmente viu que o juiz portava uma arma e, naquele momento, reagiu, dizendo: "Está pensando que só você tem arma?". De acordo com o promotor, a forma de se portar do empresário deixou claro que ele se direcionava ao juiz ao fazer o comentário. "Eu presenciei o momento em que isto ocorreu e ele falava diretamente para o Abad".

Durante o tumulto, o empresário teria dito ainda, na frente do juiz e do promotor: "É uma Justiça de merda". "Isto foi dito de forma agressiva, mas não houve reação de nossa parte", acrescentou.

Na avaliação do promotor, o que ocorreu foi de fato uma ameaça. "A ideia que o empresário transmitia era a de que tinha uma arma. Então, não se porte desta maneira porque posso responder na mesma medida", relatou.

TUMULTO

A confusão que resultou na prisão do empresário teve início na última terça-feira (19), quando a pastora Juliana Salles deixou o Fórum de Linhares. Segundo o juiz, como a sala em que ele realiza as suas audiências está sendo pintada, ele temporariamente tem usado o Salão do Júri para realizar as suas audiências. "Este espaço fica no térreo do prédio, ao lado da garagem. E foi de lá que comecei a ouvir o tumulto", conta.

Segundo Abad, durante a audiência eles viram, pela janela do Salão do Júri, voltada para a garagem, várias pessoas passarem correndo. Em seguida o som de muita gritaria e confusão. "Não conseguia ouvir o que estava sendo dito em minha audiência. Diante disso, junto com um advogado que estava presente e ainda com o promotor Fabrício Admiral, fomos até o lado de fora verificar o que estava acontecendo", relatou.

Do lado de fora, o juiz relata que viu uma caminhonete prateada e, em volta dela, várias pessoas gritando. "Gritavam insultos e Rainy estava batendo no capô do veículo, nos vidros e ameaçando de morte quem estava dentro do carro. Dizia: 'Eu vou matar você', uma duas ou três vezes contra quem estava dentro do carro e que não vi porque os vidros eram escuros. Ficamos observando", relata. O carro, conforme apurado pela reportagem, era o que conduzia a pastora Juliana Salles, também acusada pelas mortes dos irmãos Kauã (filho de Rainy) e Joaquim.

Quando o carro deixou o local, Rainy, segundo o juiz, passou por ele andando em direção à porta principal do Fórum. "Passou por mim com olhar ameaçador. Logo à frente, virou-se, levantou o lado direito da camisa, e disse: 'Você não é o único que possui uma arma'. Logo em seguida pôs a mão na genital e falou novamente: 'É com você mesmo que estou falando'. Isso foi ameaça e desacato e por estes motivos decretei a prisão dele."

Em seguida, o juiz determinou aos policiais que estavam no local que efetuassem a prisão. "O senhor Rainy tentou se esquivar, um advogado dele que estava no local queria que fosse apresentado um mandado de prisão, e informei que o cliente dele estava sendo preso em flagrante. Houve um certo tumulto, mas como os policiais estavam cuidando da situação, segui para o DPJ para prestar meu depoimento, acompanhado do promotor Fabrício Admiral e do advogado que estava ao nosso lado. Eles me acompanharam como testemunhas do fato. Na delegacia o advogado foi dispensado", relatou.

Segundo o juiz, a defesa de Rainy tem alegado que não sabia que ele era um juiz que estava em frente ao fórum. "Se não sabia que eu era um juiz, como presumiu que uma pessoa que ele não sabia ser juiz tinha uma arma de fogo?", questionou.

Rainy. (TV Gazeta)

AUTUAÇÃO

Na delegacia o empresário Rainy Butkovsky foi autuado por desacato e ameaça e permanece preso. Ele é o pai biológico de Kauã Salles Butkovsky, 6 anos, criança que junto com o irmão Joaquim, de 3 anos - filho do segundo casamento da pastora Juliana Salles -, foram mortos em um incêndio criminoso em abril do ano passado.

Rainy estava no fórum , junto com outros familiares, amigos e advogado, para acompanhar mais uma audiência de instrução e julgamento dos pastores Juliana e seu atual marido Georgeval Alves Salles, mais conhecido como pastor George. Eles foram denunciados pelo Ministério Público Estadual pelo crime.

Rainy entrando em viatura no SML de Linhares. (Leonardo Goliver)

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Esta é a segunda vez que Rainy e seus familiares se envolvem em um conflito após o término de uma audiência de instrução e julgamento. Em dezembro do ano passado, quando a viatura da Secretaria de Justiça (Sejus) saía com o pastor Georgeval, ela foi cercada pelo familiares e um agente penitenciário jogou spray de pimenta nas pessoas que rodeavam a viatura. 

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