Publicado em 28 de junho de 2019 às 01:50
Apesar de ter saído de uma crise hídrica nos últimos anos, o cenário da água no Espírito Santo continua desafiador. Para transformar essa realidade, especialistas apontam que é necessário implantar o reúso do recurso e investir em inovação. Essas iniciativas por parte dos usuários são capazes de contribuir no trabalho de recuperação das bacias hidrográficas que enfrenta diferentes dificuldades para sair do papel.>
De 14 comitês no Estado, ainda tem um que nem possui o plano de bacia: o Litoral Centro Norte. A expectativa é que o documento fique pronto até o ano que vem. Já o plano do Rio Doce, que foi elaborado em 2010, agora passa por uma revisão. Os desafios e as perspectivas que envolvem a gestão da água no Estado foram discutidas ontem no 3º Encontro do Comitê de Bacias Hidrográficas do Espírito Santo, realizado no auditório da Rede Gazeta, em Vitória.>
Segundo o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, da Universidade Federal de Alagoas, Valmir Pedrosa, os usuários precisam investir em equipamentos que façam o mesmo serviço, mas com menos água. Na prática, a agricultura deveria deixar de usar a irrigação e adotar o gotejamento onde é monitorada a umidade do solo e é identificada a quantidade de água que as plantações precisam. Com essa tecnologia, você entrega a água na raiz da planta apenas a quantidade necessária, pontuou.>
No campo da indústria, o especialista indicou que é preciso aderir a dessalinização ou outras práticas inovadoras. Há uma indústria que passou a utilizar a água que é retirada da própria produção de leite em pó. Essa água seria jogada fora, mas agora é usada na própria fábrica.>
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Entre as discussões que não chegam em um consenso nos comitês de bacias hidrográficas está a cobrança do uso da água bruta, que há mais de 20 anos já foi permitida pela legislação. O Espírito Santo é o único estado da região Sudeste que ainda não regulamentou essa cobrança, que teria o dinheiro revertido em investimento nos rios.>
Diante desse impasse, o diretor-presidente da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), Fábio Ahnert, informou que há outros meios de conseguir recursos financeiros para promover uma segurança hídrica como é o caso do programa Reflorestar, conduzido pela Agerh, e o Águas e Paisagens, da Cesan.>
É importante que as prefeituras também aloquem orçamento nas suas ações, principalmente de gestão de território. A gente fica fazendo um esforço muito grande, mas quem age no solo são os municípios, pontuou.>
Para Ahnert, o Brasil precisa vencer um desafio que é de priorização política. De acordo com ele, a construção de hospitais é importante, pavimentação de vias também, mas a pauta da água precisa estar em uma escala de prioridade na reivindicação política dos cidadãos. Sem água não há nada, ressaltou.>
Visando contribuir com o debate, a diretora de Transformação da Rede Gazeta, Letícia Lindenberg, destacou a relevância de apoiar a terceira edição do evento de ontem, promovido pelo Fórum Capixaba dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Espírito Santo. Nós temos um papel de jogar luz para esse tema e proporcionar que a população entenda a importância da água para a vida e para o futuro.>
POLÊMICA SOBRE COBRANÇA>
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A cobrança pelo uso da água bruta é um assunto polêmico que envolve a gestão dos recursos hídricos no Espírito Santo. A promessa era de que essa medida seria adotada em 2017 no Estado, mas desde então nunca se tornou realidade.>
Essa cobrança seria aplicada aos usuários da água bruta. Ou seja: indústrias, companhias de abastecimento, hidrelétricas, o setor agrícola, entre outros agentes envolvidos. Para ser justo, o cálculo do valor leva em conta o tipo de usuário e o volume de água a ser utilizada.>
Todos da sociedade têm a certeza de que a cobrança é necessária não pelo recurso financeiro, mas sim pelo recurso físico. Onde é implantada a cobrança, há uma diminuição do uso da água e aumento da educação. Agora, o mais importante é a vontade do comitê quanto a implantação. A lei está do nosso lado, pontuou o presidente do Fórum Capixaba dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Espírito Santo, Paulo Breda.>
No entanto, segundo o diretor de política agrícola e meio ambiente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado (Fetaes), José Izidoro Rodrigues, os produtores não querem parar o trabalho para vigiar a cobrança elaborada pelos comitês de bacias hidrográficas. O que as pessoas não conseguem entender é que é a hora da produção local. Precisamos cuidar da família e nós dependemos da água, não podemos ficar reféns da cobrança, explicou.>
No ponto de vista da Agência Nacional de Águas (ANA), a cobrança precisa ser vista como um recurso de alavancagem, como um empréstimo com condições atrativas. Não devemos olhar a cobrança como um caso isolado. Ela vem como uma parte para agregar aos recursos, explicou o coordenador de sustentabilidade financeira e cobrança da ANA, Giordano Carvalho.>
Ainda segundo Carvalho, a ANA defende que é preciso levar em consideração a condição de quem está pagando pelo uso da água. No caso da agricultura familiar, a renda do produtor é apertada. Qualquer valor a ser aplicado seria algo considerável.>
A cobrança, de acordo com o diretor-presidente da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), Fábio Ahnert, não é um elemento punitivo, mas um investimento para ajudar o próprio negócio de quem usa a água. O setor da agricultura é o mais resistente. Temos noção clara de que o pequeno agricultor pode estar isento da cobrança, mas existem empreendimentos agrícolas de porte muito grande que fazem captação da água no Estado e precisam participar dessa contribuição para recuperar as bacias.>
Outra questão que envolve esse tema é o aumento na conta de água da população. Isso só aconteceria se a Cesan, por exemplo, repassasse os custos com a cobrança da água bruta aos consumidores finais.>
A Cesan é uma empresa pública e nós obedecemos a legislação. O que ficar definido, será cumprido. Em relação ao repasse na conta, isso é uma discussão de cada concessionária com a agência reguladora. Não é uma decisão isolada da companhia. Quando iniciar o processo de cobrança, cabe a Cesan conversar com a agência para decidir qual o melhor procedimento a ser adotado, disse a gestora de meio ambiente da Cesan Helena Alves.>
NO ESTADO>
Gestão da água>
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Já tem plano desde 2010>
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