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Grande Vitória está entre as regiões do mundo onde pode faltar água

Grande Vitória está entre as regiões do mundo onde pode faltar água

Os dados estão no relatório internacional do World Resources Institute (WRI), que mapeia o risco de faltar água no mundo e as suas consequências para o meio ambiente e a instabilidade financeira.

Publicado em 6 de agosto de 2019 às 20:55

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Rio Jucu . (Fernando Madeira )

A Grande Vitória é uma das regiões do mundo onde há o risco de faltar água. Isso porque ela é classificada com risco alto de estresse hídrico, ou seja, há a probabilidade de ter a demanda maior que a oferta de água. Atualmente, Vila Velha, Serra, Cariacica e Vitória são abastecidas pelo Rio Jucu e Rio Santa Maria da Vitória.

Os dados estão no Atlas Aqueduct de Risco Hídrico divulgado pelo World Resources Institute (WRI), que mapeia o risco de faltar água no mundo e as suas consequências para o meio ambiente e a instabilidade financeira. Foram analisadas a situação de 189 países, e o resultado foi divulgado nesta terça-feira (6).

São 12 critérios que levam em consideração para chegar ao resultado, como a vulnerabilidade climática natural, o nível de degradação da vegetação nativa, a disponibilidade hídrica tanto superficial quanto de subsolo e demanda hídrica.

O biólogo e economista do WRI Brasil, Rafael Barbieri, aponta que a Grande Vitória apresenta alto risco devido a diversos fatores: população, indústria e produção agrícola com consumo excessivo de água. Além das condições climáticas e desperdício da água tratada, ou seja, a cada dez litros de água limpa e potável que saem das estações de tratamento, quatro ficam pelo caminho.

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Desde 2014 a região tem sofrido com a falta de água, seja com rodízios no abastecimento ou através do aumento do custo da água. Porém, não é possível estipular quando faltará água, depende de diversos fatores, desde o uso consciente até políticas públicas

Rafael Barbieri
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O pesquisador pontua que o Norte do Estado é uma região que também tem sofrido com o risco de estresse hídrico, sendo a disponibilidade de água menor que na região metropolitana. No entanto, ainda não entrou em alerta máximo pelo tamanho da população.

“A região é naturalmente seca. A população ainda é pequena, com o possível aumento e migração de indústrias para a região o nível pode ser elevado rapidamente, hoje ele é médio”, concluiu.

PROBLEMAS

O professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes Renato Ribeiro Siman explica que a escassez de água se dá pelo consumo exagerado. Uma solução seria obedecer os planos dos comitês de bacias hidrográficas, que tratam da preservação e conservação de rios e lagoas.

“O que nos leva a escassez é a permissão de usar a água do rio exageradamente sem considerar o balanço hídrico da bacia, ou seja, é retirar mais água que a capacidade de fornecimento por decisões políticas. É preciso limitar o que sai e favorecer o cenário para o que entra, como preservar nascentes e reflorestar”, disse.

O engenheiro civil especialista em meio ambiente Cláudio Denicoli acrescenta que é preciso pensar em soluções para reduzir o consumo de água, principalmente, da indústria e de produtores rurais. Além disso, pensar na captação de água no subsolo.

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Somente a agricultura representa 70% do consumo de água no Estado. No entanto, não vejo nenhuma ação junto aos produtores rurais e a indústria para reduzir o consumo de água. Oferecer tecnologia de ponta e realizar a educação ambiental são essenciais

Cláudio Denicoli
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BRASIL

O relatório aponta que dentre os 189 países analisados o Brasil ocupa a posição 116 quando se fala em risco de falta de água. No entanto, algumas cidades brasileiras estão localizadas em regiões de risco hídrico. São elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Grande Vitória, Campinas, Recife, Fortaleza, Petrolina e Juazeiro.

“O país é heterogêneo, em alguns tem o estresse hídrico natural como em Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Tem outras que não deveriam passar por estresse hídrico e estão, são cidades com população, produção industrial e agrícola elevadas”, disse.

Rafael alerta que a falta de água pode trazer inúmeros problemas: o bem estar humano com o racionamento; risco para a saúde pública porque as pessoas poderiam buscar fontes alternativas para não pagar uma tarifa elevada. E também o impacto econômico porque poderia reduzir a produção industrial e agrícola, colocando em risco diversos empregos.

Ele explica que o objetivo principal do estudo é subsidiar decisões públicas e privadas. O poder público e as comissões de bacias podem identificar áreas prioritárias para combater e evitar crises hídricas. As empresas podem escolher as regiões que trariam menor risco à produção.

Rio Santa Maria da Vitória, nesta quarta-feira (11). (Carlos Alberto Silva/ A GAZETA)

OUTRO LADO

A Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) informou, por meio de nota, que o Espírito Santo possui um Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH), lançado no ano passado. Com base em dados robustos, o plano descreve o cenário à época e define estratégias de minimização dos impactos hidrológicos num horizonte de 20 anos.

As principais bacias da Grande Vitória (Jucu e Santa Maria da Vitória) também possuem seus próprios Planos de Recursos Hídricos. Os documentos reúnem todas as informações relacionadas à água de uma ou mais bacias. Atualizados periodicamente, os planos propõem ações de mitigação e prevenção de impactos e metas a serem cumpridas durante sua vigência.

“Além da elaboração dos planos de bacia, a Agerh regula as demandas de água por meio da outorga de direito de uso, cuja análise leva em conta a oferta hídrica nos rios. O trabalho garante que as captações legais em cursos hídricos não ultrapassem a oferta mínima de água em rios e córregos”. pontuou em nota.

INVESTIMENTOS

Em relação a perda de água, o diretor de engenharia e meio ambiente da Cesan, Thiago Furtado, esclarece que ela ocorre por diversos fatores, que vão desde o rompimento da tubulação aos chamados gatos, quando a água é usado de forma clandestina, sem pagar por ela.

O diretor diz que, para 2019, estão previstos R$ 30 milhões de investimento destinados a reduzir as perdas no fornecimento de água. Esse investimento é acompanhado de algumas metas. Uma delas é diminuir a quantidade de litros que cada cliente da Cesan perde por dia. Atualmente, essa média está em 430,3 litros por dia. No entanto, o objetivo dos novos contratos é chegar em 418 litros por economia por dia.

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A Cesan junto com as prefeituras e Ministério Público possuem um trabalho em conjunto para regularizar os loteamentos clandestinos. Na questão dos vazamentos, a Cesan está mudando o modelo de contrato com a as empresas terceirizadas para reduzir os vazamentos e, também, trocando as redes antigas

Thiago Furtado
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 Já o diretor-técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Nilson Araujo Barbosa, diz que são realizadas palestras em escolas para conscientizar a população sobre o consumo de água e que os produtores rurais são capacitados para implantar novas técnicas nas propriedades rurais. 

"Temos alguns programas, como o Barraginha, que mantém a água na propriedade e evitar que ela escoe, que se perca. Paralelamente, trabalhamos com várias palestras educativas nas escolas para conscientização dos alunos sobre o uso da água porque muitos trabalham com os pais nas propriedades e serão futuramente responsáveis pela terra", pontuou.  

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