A Grande Vitória é uma das regiões do mundo onde há o risco de faltar água. Isso porque ela é classificada com risco alto de estresse hídrico, ou seja, há a probabilidade de ter a demanda maior que a oferta de água. Atualmente, Vila Velha, Serra, Cariacica e Vitória são abastecidas pelo Rio Jucu e Rio Santa Maria da Vitória.
Os dados estão no Atlas Aqueduct de Risco Hídrico divulgado pelo World Resources Institute (WRI), que mapeia o risco de faltar água no mundo e as suas consequências para o meio ambiente e a instabilidade financeira. Foram analisadas a situação de 189 países, e o resultado foi divulgado nesta terça-feira (6).
São 12 critérios que levam em consideração para chegar ao resultado, como a vulnerabilidade climática natural, o nível de degradação da vegetação nativa, a disponibilidade hídrica tanto superficial quanto de subsolo e demanda hídrica.
O biólogo e economista do WRI Brasil, Rafael Barbieri, aponta que a Grande Vitória apresenta alto risco devido a diversos fatores: população, indústria e produção agrícola com consumo excessivo de água. Além das condições climáticas e desperdício da água tratada, ou seja, a cada dez litros de água limpa e potável que saem das estações de tratamento, quatro ficam pelo caminho.
O pesquisador pontua que o Norte do Estado é uma região que também tem sofrido com o risco de estresse hídrico, sendo a disponibilidade de água menor que na região metropolitana. No entanto, ainda não entrou em alerta máximo pelo tamanho da população.
A região é naturalmente seca. A população ainda é pequena, com o possível aumento e migração de indústrias para a região o nível pode ser elevado rapidamente, hoje ele é médio, concluiu.
PROBLEMAS
O professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes Renato Ribeiro Siman explica que a escassez de água se dá pelo consumo exagerado. Uma solução seria obedecer os planos dos comitês de bacias hidrográficas, que tratam da preservação e conservação de rios e lagoas.
O que nos leva a escassez é a permissão de usar a água do rio exageradamente sem considerar o balanço hídrico da bacia, ou seja, é retirar mais água que a capacidade de fornecimento por decisões políticas. É preciso limitar o que sai e favorecer o cenário para o que entra, como preservar nascentes e reflorestar, disse.
O engenheiro civil especialista em meio ambiente Cláudio Denicoli acrescenta que é preciso pensar em soluções para reduzir o consumo de água, principalmente, da indústria e de produtores rurais. Além disso, pensar na captação de água no subsolo.
BRASIL
O relatório aponta que dentre os 189 países analisados o Brasil ocupa a posição 116 quando se fala em risco de falta de água. No entanto, algumas cidades brasileiras estão localizadas em regiões de risco hídrico. São elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Grande Vitória, Campinas, Recife, Fortaleza, Petrolina e Juazeiro.
O país é heterogêneo, em alguns tem o estresse hídrico natural como em Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Tem outras que não deveriam passar por estresse hídrico e estão, são cidades com população, produção industrial e agrícola elevadas, disse.
Rafael alerta que a falta de água pode trazer inúmeros problemas: o bem estar humano com o racionamento; risco para a saúde pública porque as pessoas poderiam buscar fontes alternativas para não pagar uma tarifa elevada. E também o impacto econômico porque poderia reduzir a produção industrial e agrícola, colocando em risco diversos empregos.
Ele explica que o objetivo principal do estudo é subsidiar decisões públicas e privadas. O poder público e as comissões de bacias podem identificar áreas prioritárias para combater e evitar crises hídricas. As empresas podem escolher as regiões que trariam menor risco à produção.
OUTRO LADO
A Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) informou, por meio de nota, que o Espírito Santo possui um Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH), lançado no ano passado. Com base em dados robustos, o plano descreve o cenário à época e define estratégias de minimização dos impactos hidrológicos num horizonte de 20 anos.
As principais bacias da Grande Vitória (Jucu e Santa Maria da Vitória) também possuem seus próprios Planos de Recursos Hídricos. Os documentos reúnem todas as informações relacionadas à água de uma ou mais bacias. Atualizados periodicamente, os planos propõem ações de mitigação e prevenção de impactos e metas a serem cumpridas durante sua vigência.
Além da elaboração dos planos de bacia, a Agerh regula as demandas de água por meio da outorga de direito de uso, cuja análise leva em conta a oferta hídrica nos rios. O trabalho garante que as captações legais em cursos hídricos não ultrapassem a oferta mínima de água em rios e córregos. pontuou em nota.
INVESTIMENTOS
Em relação a perda de água, o diretor de engenharia e meio ambiente da Cesan, Thiago Furtado, esclarece que ela ocorre por diversos fatores, que vão desde o rompimento da tubulação aos chamados gatos, quando a água é usado de forma clandestina, sem pagar por ela.
O diretor diz que, para 2019, estão previstos R$ 30 milhões de investimento destinados a reduzir as perdas no fornecimento de água. Esse investimento é acompanhado de algumas metas. Uma delas é diminuir a quantidade de litros que cada cliente da Cesan perde por dia. Atualmente, essa média está em 430,3 litros por dia. No entanto, o objetivo dos novos contratos é chegar em 418 litros por economia por dia.
Já o diretor-técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Nilson Araujo Barbosa, diz que são realizadas palestras em escolas para conscientizar a população sobre o consumo de água e que os produtores rurais são capacitados para implantar novas técnicas nas propriedades rurais.
"Temos alguns programas, como o Barraginha, que mantém a água na propriedade e evitar que ela escoe, que se perca. Paralelamente, trabalhamos com várias palestras educativas nas escolas para conscientização dos alunos sobre o uso da água porque muitos trabalham com os pais nas propriedades e serão futuramente responsáveis pela terra", pontuou.
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