Publicado em 19 de maio de 2018 às 00:50
Cada vez mais jovens no Estado se deparam com a falta de perspectivas na escola e no mercado profissional. Das 885 mil pessoas de 15 a 29 anos, 204 mil (23,1%) não estudam ou trabalham. São os chamados nem-nem, geração que, em plena idade produtiva, não tem ocupação.>
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foram coletados no ano passado. Os números não são favoráveis e ainda representam um aumento se comparados a 2016, quando eram 200 mil sem atividade na mesma faixa etária (confira mais dados na página 4).>
Li recentemente um artigo que inverte a lógica de culpabilizar esses jovens. Não é que nem querem estudar, nem querem trabalhar. Na verdade, eles não encontram uma boa escola ou um bom emprego, aponta Marcelo Lima, professor do Departamento de Educação, Política e Sociedade da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).>
O recém-formado Rodrigo Neitzl, 23 anos, se encaixa nesse perfil. Ele concluiu o curso de Jornalismo em dezembro e, mesmo com diploma, não consegue trabalho na sua área. Para se manter, precisa fazer bicos como garçom nos finais de semana.>
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Quando terminei a faculdade, coloquei o prazo de três meses para achar algo na área de comunicação. Mandei currículo para diversas empresas, cheguei a fazer duas entrevistas, mas nada apareceu, conta.>
Para o professor Marcelo Lima, o jovem de maneira geral enfrenta uma série de problemas. É nessa faixa de idade que o desemprego também é maior, tanto pela dificuldade de obter a primeira oportunidade quanto pela questão da territorialidade. O emprego e a escola não estão exatamente onde está o jovem, avalia.>
ESCOLARIDADE>
Mas muitos deixam de estudar antes mesmo de chegar à educação superior. Na verdade, os dados do Espírito Santo indicam que quase a metade (49,9%) da população com mais de 25 anos tem apenas até o nível fundamental. Com o ensino médio, o índice é de 27,2%. A taxa de escolaridade no Estado é de 9,2 anos.>
É praticamente o tempo do ensino fundamental. E por que não permanecem no ensino médio? Essa é uma pergunta que precisamos fazer, sugere a professora Cleonara Schwartz, do Centro de Educação da Ufes.>
E ela mesma responde: Temos hoje no Estado um modelo único de tempo integral que não responde às demandas da população porque o jovem, que antes trabalhava e optava por estudar perto do seu trabalho, não pode mais. Se onde estudava fechou turma para ser de tempo integral, e ele tem que se deslocar para outra escola que não vai atender a organização da vida dele, a tendência é parar de estudar, critica Cleonara.>
Na avaliação da professora, faltam políticas públicas educacionais que levem em conta a realidade dos jovens, suas expectativas e condições de vida.>
178 MIL NÃO SABEM LER E ESCREVER >
O Espírito Santo ainda convive com outra mazela: um grande número de pessoas com mais de 15 anos que não sabem ler e escrever. No ano passado, eram 178 mil analfabetos. O índice, de 5,5%, é menor que o de 2016, quando 6,2% da população nessa faixa etária não tinham instrução.>
Mas é um percentual assustador. Trata-se de uma grande parcela da população jovem e adulta, opina a professora Cleonara Schwartz, do Centro de Educação da Ufes.>
Para ela, porém, o quadro pode se tornar ainda pior. Os números, que apresentaram uma tendência de queda nos últimos dois anos, são resultado de políticas públicas que haviam sido implementadas em 2013 e foram suspensas no final de 2016.>
Cleonara observa que a redução não é miraculosa, mas reflete as últimas políticas de enfrentamento do analfabetismo no Brasil.>
O processo educacional não pode ser analisado pontualmente. Os resultados se fazem a médio e longo prazos. Foram vários programas voltados à alfabetização de jovens e adultos, permanência do jovem na escola, melhoria das condições de trabalho dos professores e de material didático. Mas houve uma descontinuidade dessa política, lamenta.>
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