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Foto de professor fantasiado de nazista viraliza nas redes

Foto de professor fantasiado de nazista viraliza nas redes

Educador aparece usando uma vestimenta que imita a de um policial nazista em aula sobre a Segunda Guerra Mundial

Publicado em 24 de setembro de 2018 às 20:48

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(Reprodução)

Uma foto do professor de história Gabriel Tebaldi vem recebendo uma enxurrada de críticas nas redes sociais, desde sábado (22). Na imagem ele aparece com uniforme de soldado nazista. A foto foi tirada na sexta-feira (21) enquanto dava aulas para alunos de pré-vestibular do colégio Darwin, em Vila Velha.

Na imagem, Tebaldi  está dentro de uma sala de aula com um uniforme que reproduz o usado pelos policiais nazistas na Segunda Guerra Mundial. A suástica, principal símbolo nazista, aparece no paletó e no quepe usado por ele. O professor disse que a roupa era usada para dar mais didática à aula e ressaltou que de forma alguma apoia o nazismo. 

Gabriel Tebaldi também é  colaborador de A GAZETA, escreve aos sábados artigos para a página de Opinião, sobre diversos temas, como política e educação. Ele disse que não esperava tamanha repercussão, já que há sete anos vai para a sala de aula caracterizado, com diversas fantasias.

“Quando falo sobre o Império Romano, vou de soldado romano; sobre a Idade Média, vou vestido de padre medieval. Quando falo sobre monarquia, vou vestido de rei e, sobre a Segunda Guerra Mundial, vou de soldado nazista”, explicou.

Algumas da fantasias de Tebaldi. (Arquivo)

Para ele, usar a roupa de policial nazista é uma das maneiras para que os alunos possam prestar mais atenção na aula. Ele, inclusive, enviou fotos para a reportagem para comprovar que utiliza outras vestimentas para dar aulas de diferentes temas.

Tebaldi esclareceu que, nas salas de aula, destaca os problemas do regime nazista. "Na aula, falo do início ao fim sobre os campos de guerra, do número de mortos no campos de concentração, das técnicas utilizadas pelos nazistas para escravidão e tortura, e do holocausto em si. Não há coisas boas para serem faladas sobre o tema”, pontuou.

MANIFESTAÇÕES

A atitude do professor, inclusive, acendeu uma discussão sobre apologia ao nazismo. A Congregação Israelita Capixaba (Cicapi), entidade que representa a comunidade judaica no Estado do Espírito Santo, por meio de nota, manifestou sua "preocupação, constrangimento e repúdio" com a didática adotada por um professor de história do Colégio Darwin, que deu uma aula vestido de soldado nazista, e cobrou um esclarecimento do colégio.

(Arquivo)

“Falar de uma figura nefasta como Adolf Hitler, homem que conduziu o maior massacre de seres humanos da humanidade, que segregou todos aqueles que não considerava pessoas superiores e tanta destruição é de suma importância, até para que não permitamos que tais fatos, praticados pelo nazismo, se repitam. Mas acreditamos que há outras formas de o fazê-lo, sem que gere nenhum prejuízo, principalmente para aqueles que foram vítimas deste período sombrio da história da humanidade”, disse.

A congregação afirmou ainda que, na sua visão, a atitude do professor é constrangedora. E disse que pediu abertura ao colégio para falar sobre a história do povo judeu. "Temos vários sobreviventes daquela época, inclusive residindo no Espírito Santo. Ficamos extremamente constrangidos com as imagens que já circulam pelas redes sociais e imprensa. Temos jovens em nossa comunidade que já passaram por este constrangimento, em caso semelhante em outras épocas, e que gostaríamos que não se repetissem", diz o texto.

Tebaldi afirmou ainda que não cometeu nenhum crime. Ele diz que para haver a existência de um um delito punível seria necessário que houvesse difusão de ideias baseada na superioridade ou ódio racial. Em outras palavras, seria necessário uma incitação da discriminação.

“O que houve, na verdade, foi uma retratação de fatos históricos que fazem parte do conteúdo programático da disciplina. As acusações não procedem. Uma revista, inclusive, cita o 1º parágrafo do artigo 20 da Constituição Federal para imputar-me crime. O trecho, porém, fala sobre os bens da União e a exploração de gás natural e petróleo. É, apenas, desconhecimento”, disse.

Disse ainda que entende o posicionamento da Comunidade Israelita Capixaba. "Contudo, conforme afirmei, em momento algum se fez culto a Hitler ou revivemos situações de terror do passado. Não desconheço os sentimentos que afloram na comunidade. Pelo contrário: relato-os em sala de aula para que situações tão terríveis sejam compreendidas pelos alunos e jamais se repitam. É necessário falar sobre Hitler e desconstruir qualquer tipo de idolatria a ele", disse.

O Centro Educacional Charles Darwin, local onde o professor lecionou a disciplina, foi procurado pela reportagem. Em nota, disse que não há relatos de alunos de que o professor desempenhou apologia ao nazismo. "Ao contrário, temos registro que o conteúdo ministrado na aula ocorrida no dia 21/09/2018 foi dado dentro da proposta pedagógica da nossa escola e instante algum defendeu, pregou ou incitou a ideologia do regime nazista. Pelo contrário, o professor trouxe as atrocidades do nazismo e o quanto é importante a democracia", disse. 

NOTA DO DARWIN

Fantasias de Tebaldi. (Arquivo)

O Centro Educacional Charles Darwin, por meio de nota, informou que em atenção às diversas manifestações, inerentes às postagens publicadas nas redes sociais sobre a aula do professor de História Gabriel Tebaldi ocorrida no dia 21/09/2018, passa a esclarecer:

1. A aula ministrada pelo professor de história desenvolveu-se em um ambiente temático, com o intuito de torná-la mais dinâmica e interativa, retratando o personagem em sala de aula quando o conteúdo estava relacionado à “Segunda Guerra Mundial”.

2. Não só relacionado ao tema acima, o professor de História, com o objetivo de enriquecer o conteúdo em sala de aula, traz outros personagens históricos, há vários anos, para as suas aulas, tais como, soldado romano, monarca, entre outros temas, dependendo do que está sendo lecionado, e consegue dentro dessa estratégia de ensino, atrair a atenção dos alunos e ter uma boa avaliação em suas enquetes.

3 . Em momento algum, há relatos dos nossos alunos que o professor Gabriel desempenhou apologia ao nazismo. Ao contrário, temos registro que o conteúdo ministrado na aula ocorrida no dia 21/09/2018 foi dado dentro da proposta pedagógica da nossa escola e instante algum defendeu, pregou ou incitou a ideologia do regime nazista. Pelo contrário, o professor trouxe as atrocidades do nazismo e o quanto é importante a democracia.

4. Ressaltamos, que, visando outorgar aos nossos profissionais o papel de líder educador, promovemos reuniões periódicas em grupo e individuais, oferecemos a eles participações em congressos e palestras especializadas, dentre outras promoções que têm o objetivo de estimular o respeito e a boa convivência.

5. O Darwin, baseado em princípios educacionais, valores democráticos e o respeito, prima dar uma formação educacional aos seus alunos de total qualidade, preservando a integridade, assegurando sempre o bom convívio com os pais e a Sociedade Civil, sem qualquer envolvimento político.

ENTREVISTA

O que ocorreu?

Há cerca de sete anos vou para a sala de aula caracterizado, tenho cerca de 10 vestimentas. Quando falo sobre o Império Romano, vou de soldado romano; sobre a Idade Média, vou vestido de padre medieval. Quando falo sobre monarquia, vou vestido de rei e, sobre a Segunda Guerra Mundial, vou de soldado nazista.

Você já usou trajes que fazem alusão ao nazismo antes?

Sim. Inclusive em outras escolas e cursinhos de pré-vestibular, entre eles um que lecionava dentro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Você ficou surpreso com a repercussão?

Sim. Sou professor de história há oito anos e jamais poderia imaginar, uma vez que o uso de fantasias é algo recorrente em minha carreira e sempre muito bem aceito pelos alunos. 

Como você leva o tema do nazismo para a sala de aula?

Não há qualquer culto ao nazismo, muito pelo contrário, destaco os problemas do regime. A aula fala do início ao fim sobre os campos de guerra, do número de mortos no campos de concentração, das técnicas utilizadas pelos nazistas para escravidão e tortura, e o holocausto em si. Não há coisas boas para serem faladas sobre o tema.

Depois dessa repercussão você irá mudar a didática dentro da sala de aula?

Eu acredito muito em algumas práticas, tanto em sala de aula quanto em pensamento, mas, no Brasil, o custo pessoal de pensamento e de práticas de inovação é grande. Essas repercussões não afetam apenas a mim, mas também à minha família e carreira. Eu vou continuar usando minhas fantasias, mas a roupa sobre o nazismo eu ainda não pensei. Minha didática é aprovada pelos alunos, tanto que a mobilização dos mesmos em defesa e esclarecimento foi grande em toda a rede.

Muitos apontam que houve crime de divulgação do Nazismo. O que você pensa sobre isso?

Não há. Para haver a existência de um um delito punível seria necessário que houvesse difusão de ideias baseada na superioridade ou ódio racial. Em outras palavras, seria necessário uma incitação da discriminação. O que houve, na verdade, foi uma retratação de fatos históricos que fazem parte do conteúdo programático da disciplina. As acusações não procedem. Uma revista, inclusive, cita o 1º parágrafo do artigo 20 da Constituição Federal para imputar-me crime. O trecho, porém, fala sobre os bens da União e a exploração de gás natural e petróleo. É, apenas, desconhecimento.

Você pensa em fazer alguma coisa em relação ao assunto?

Eu estou tomando providências jurídicas e criminais devido à difamação. As manifestações nas redes sociais têm consequências. Além disso, portais de notícias escreveram sobre o assunto sem me consultar e fizeram afirmações políticas improcedentes a meu respeito.

Você acredita que o seu posicionamento político ajudou na repercussão?

Eu acredito que, na prática, a gente tem uma falsa defesa de liberdade de expressão. Alguns grupos só aceitam a expressão do que pensam.

Sobre o posicionamento da Congregação Israelita Capixaba você gostaria de se manifestar?

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Entendo perfeitamente o posicionamento da Comunidade Israelita Capixaba. Contudo, conforme afirmei, em momento algo se fez culto a Hitler ou revivemos situações de terror do passado. Não desconheço os sentimentos que afloram na comunidade. Pelo contrário: relato-os em sala de aula para que situações tão terríveis sejam compreendidas pelos alunos e jamais se repitam. É necessário falar sobre Hitler e desconstruir qualquer tipo de idolatria a ele.

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