Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 01:53
As duas barragens que apresentaram rachaduras antes mesmo de serem entregues e perderam a água armazenada da chuva, em São Roque do Canaã, Noroeste do Estado, levantaram questões sobre o que pode ter acontecido e como prevenir o problema. Os dois reservatórios custaram aos cofres do Estado mais de R$ 2 milhões e, segundo o governo, até o final do ano, 60 barragens ao todo serão entregues com a promessa de garantir o abastecimento da população nos casos de estiagem. Nesse cenário, especialistas alertam para as condições do solo e a segurança.>
A represa de Santa Júlia, a maior de São Roque, com capacidade de armazenar 130 milhões de litros de água, encheu e depois esvaziou na semana passada. A água saiu por uma fenda na lateral. A barragem da comunidade de Agrovila também estourou. A força da água da chuva do começo de janeiro abriu um buraco por baixo da represa de Agrovila e a enxurrada fez uma valeta na barragem.>
As empresas Ruralter Planejamento e Consultoria e Império Construtora e Incorporadora, responsáveis pela obra, informaram que foi uma percolação de água (penetração da água pelo solo) na ombreia direita (onde a margem termina na direita do rio).>
Baseado na informação das empresas, o engenheiro agrônomo Ladislau Bunicenha, funcionário de uma empresa de consultoria e projetos, explicou que ocorreu um tipo de infiltração após o barramento e a condição do solo propiciou a abertura. Para ele, faltou observar o tipo de solo, que deveria ser firme.>
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A estrutura foi encostada em um solo que não tinha resistência para esse tipo de obra. Isso não foi observado durante a execução. O solo não é adequado, é muito permeável. Além de ter muita areia, não dá liga, disse o engenheiro.>
Ele explicou que pararam o concreto nesse solo que não tinha resistência e acabou ocorrendo uma espécie de infiltração. A água começou a desviar para o local, foi absorvida e desestruturou esse campo fora do corpo do barramento. Afetou o local de encaixe com o solo, que não era adequado>
As equipes técnicas das empresas trabalham na retirada do material natural de fundo, substituindo-o por material compatível com o tipo da obra. Mas as empresas garantem que a estrutura e a estabilidade do barramento não foram afetadas.>
SEM RESERVA, PREFEITURA SE PREOCUPA >
As barragens também deixaram preocupação para o município de São Roque, porque agora estão secas.>
O período de chuva está passando e como as duas barragens estão secas, nós podemos ter dificuldade no controle da vazão da água do rio. Pode faltar água para irrigação e também para a Cesan fazer captação, já que o uso é múltiplo, explicou o secretário de Agricultura, Genésio Barcelos.>
Para enfrentar a estiagem, São Roque conta com as represas menores que foram construídas pela prefeitura. Ao todo, são 20 barragens de porte menor que dão suporte enquanto as represas maiores estão passando por reformas.>
PRESSA>
Para o engenheiro florestal Luiz Fernando Schettino, doutor em Ciências Florestais e professor da Ufes, há um apressamento na construção das barragens. Sou a favor das barragens, mas não é porque precisa que vai fazer de qualquer jeito. É preciso cautela para fazer com menor impacto ambiental possível.>
Sobre o que aconteceu nas barragens em São Roque do Canaã, Schettino acredita que não foi feit um projeto adequado. Antes de uma barragem ser construída, tem que ter um projeto e é preciso estudar as condições. Tem que saber de antemão o tipo de solo e o que pode ocorrer. As barragens são importantes, necessárias, mas tem que ter uma preocupação com a segurança, tem que ter perícia.>
Schettino também observou que não há preocupação em colocar vegetação nas margens das barragens. Tenho visto muitas barragens que estão sendo feitas, mas não está tendo preocupação em colocar mata ciliar para impedir que a terra desça. A mata tem o papel de filtro. É fundamental incluí-la no projeto.>
REPAROS NAS REPRESAS EM ATÉ DOIS MESES >
O gerente de infraestrutura e obras rurais da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Winker Denner, disse à TV Gazeta Noroeste que os reparos devem ficar prontos em até 60 dias.>
Sobre os custos com o conserto das obras em São Roque, a Seag informou por nota que já notificou as empresas responsáveis pelas construções, assim como a empresa que elaborou o projeto de engenharia, para que todas adotem as medidas visando às correções necessárias, cabendo a elas toda a responsabilidade financeira pelos reparos.>
As empresas responsáveis disseram que os problemas ocorridos serão sanados e corrigidos.>
O Programa Estadual de Barragens prevê o investimento de R$ 60 milhões por meio de recursos destinados à Seag para a implantação de 60 reservatórios no interior do Estado até o fim de 2018. Dos 60 reservatórios, 34 serão de usos múltiplos de médio porte no interior e 26 de uso coletivo em assentamentos de trabalhadores rurais capixabas no Norte do Estado.>
(Com informações de Alessandro Bachetti e Amanda Monteiro)>
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