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ES é um dos 10 estados com mais mortes de crianças e adolescentes com arma

ES é um dos 10 estados com mais mortes de crianças e adolescentes com arma

Tráfico é apontado por especialistas como uma das principais causas

Publicado em 21 de março de 2019 às 11:42

Desabafo de avó: "É triste perder um neto de 18 anos" Crédito: Fernando Madeira/Arquivo

O Espírito Santo é o 10º Estado onde mais morrem crianças e adolescentes por arma de fogo no país, com faixa etária de 0 a 19 anos. Somente em 2016, foram 265 casos, o que representa um índice de 6,67 a cada 100 mil habitantes – o local com mais casos, Sergipe, teve índice de 11,78. Os números fazem parte de um levantamento elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), divulgado nesta quarta-feira (20). O dado é o mais recente apontado pelo levantamento.

Na série histórica de 20 anos, entre 1997 a 2016, foram 5.644 vítimas no total em consequência de disparos, acidentais ou intencionais, como em situações de homicídio e suicídio.

Membro do departamento de Segurança da SBP, Renata Waksman, revela a diferença das mortes por faixa etária. Entre 0 a 9 anos de idade elas acontecem mais por acidente. Já de 10 a 14 anos começam a crescer os números de homicídios, sendo que eles disparam na faixa de 15 a 19 anos.

“Já as causas de suicídio estão mais ligadas a doenças psicológicas e a arma se torna um objeto facilitador. O nosso objetivo é ajudar a entender o problema que atinge proporções endêmicas e com implicações nos indicadores de saúde pública. Os dados são altos, a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre no país (no Brasil, foram 145 mil mortes em 20 anos).”

O professor do Mestrado em Segurança Pública Pablo Lira acrescenta que os dados do Espírito Santo chamam a atenção. Em 2016, foram 264 homicídios e uma morte por causa indeterminada.

“O principal fator entre jovens de 15 a 19 anos está ligado ao tráfico de drogas. As mortes estão ligadas à disputa por território para comercialização de drogas, além das pessoas que estão com dívidas de drogas e os delatores. Estes últimos pagam com a própria vida.”

Uma comerciante, 51, que prefere não se identificar, perdeu um neto que estava na faixa de 15 a 19 anos, mas a causa ainda é desconhecida. O rapaz tinha 18 anos, quando, em 6 de fevereiro de 2017, durante a greve da Polícia Militar, perdeu a vida. Ele foi morto com três tiros em um bairro de periferia de Vila Velha, mas a família não sabe quem atirou. “É muito triste perder um neto tão novo, ainda esperamos por justiça.”

FLEXIBILIZAÇÃO

 

Pablo Lira acrescenta que a flexibilização das regras para a posse de arma de fogo, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, no dia 15 de janeiro, pode aumentar o número de mortes acidentais e intencionais. “Apesar do Estado não apresentar, por esses dados, mortes acidentais, elas representam 18% das vítimas no país e podem começar a aparecer por aqui. A partir do momento que aumenta a circulação de arma, eles podem chegar na mão dessas crianças e jovens. Eles estão numa fase de descobrimento, isso aumenta os riscos de disparos acidentais”, destaca.

O também professor do Mestrado em Segurança Pública Pablo Ornelas Rosa compartilha da mesma opinião. E acrescenta que apesar do novo decreto tornar obrigatória a presença de um cofre de segurança ou local seguro com tranca para arma em residência em que haja a presença de criança, adolescente ou pessoa com deficiência, não é possível garantir que isso irá ocorrer. “Essa cláusula é só para constar, mas não garante que vai ser cumprida.”

Renata Waksman garante que a prevenção de mortes por armas de fogo se baseia principalmente na redução do acesso a armas. “Recomendamos fortemente que se evite ter armas de fogo em casa. O assunto precisa ser discutido e políticas públicas elaboradas para aumentar a segurança das nossas crianças e adolescentes”, ressaltou.

“O principal fator dessas mortes entre jovens de 15 a 19 anos está ligado ao tráfico de drogas” Renata Waksman Membro do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria

 

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