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Em um ano, mais de 350 meninas de até 16 anos se casaram no ES

Em um ano, mais de 350 meninas de até 16 anos se casaram no ES

Número de uniões informais envolvendo adolescentes, no entanto, pode ser trinta vezes maior, diz ONG

Publicado em 6 de junho de 2018 às 22:36

Aliança Crédito: Pixabay

Em apenas um ano, os cartórios do Espírito Santo registraram mais de 383 casamentos civis de adolescentes entre 15 e 16 anos. Desses, 368 envolveram meninas. A informação é do IBGE, com base em dados de 2016. Apesar de a incidência desse tipo de união ter apresentado queda nos últimos anos, o número ainda impressiona e, segundo especialistas, está longe de representar a realidade. A ONG Promundo estima que, no Brasil, o número de casamentos civis de meninas adolescentes seja trinta vezes menor do que o número de uniões informais, ou seja, quando não há o registro.

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Em um ano, mais de 350 meninas de até 16 anos se casaram no ES

"O que caiu foi o número de atos oficias através do registro civil. De maneira informal, houve aumento. Hoje a gente vê meninas de 13 anos falando 'Meu marido', mas não são casados. Eles simplesmente vivem juntos", relata a juíza Patrícia Pereira Neves, coordenadora das varas da Infância e Juventude do Estado.

Para tentar minimizar a incidência de casamentos envolvendo crianças e adolescentes, a Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (5) um projeto de lei que proíbe qualquer tipo de casamento infantil no Brasil. O projeto altera o Código Civil para estabelecer que “não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil”, ou seja, 16 anos.

No entanto, para a promotora e dirigente do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual, Ana Lúcia Ivanesciuc Braga Hipólito, a nova lei não vai alterar a realidade das uniões envolvendo adolescentes. "Vai incidir sobre alguns casos, mas na maioria deles não haverá incidência dessa norma", diz.

A juíza Patrícia Neves conta que, como não é mais normal fazer o registro, a lei terá pouca eficácia. "A gente tem muito caso de menina de 12, 13 e 14 anos vivendo com homens mais velhos. Eles vivem junto com o consentimento dos pais. Hoje esses casamentos não passam mais pelo controle do Estado", afirma.

A defensora pública Jamile Soares Matos de Menezes conta que, no dia-a-dia, percebe que a gravidez precoce também influencia. "É um destino muito comum das nossas meninas. Por isso, elas acabam indo morar junto com os namorados. Com a responsabilidade de cuidar da casa e do filho, elas saem da escola e perdem muita perspectiva de futuro", relata.

O QUE DIZ A LEI

O Código Civil prevê que o menor de 16 se case em duas situações: para evitar a imposição de cumprimento de pena criminal, ou em caso de gravidez da adolescente. "O primeiro caso está em desuso. Antigamente, o Código Penal previa que, em caso de estupro, se o estuprador casasse com a vítima, ele não precisaria cumprir a pena. Mas isso foi alterado em 2005. O que se mantém é a hipótese da gravidez", explica a defensora pública Jamile Soares Matos de Menezes.

Se aprovado pelo senadores e sancionado, só será possível casar no Brasil a partir de 16 anos, desde que com autorização dos pais, ou livremente a partir de 18 anos.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Para a magistrada, sem políticas públicas e campanhas eficientes, não há lei capaz de promover mudança e restringir esse tipo de união. "As famílias precisam entender que permitir que as adolescentes vivam com os namorados não é se livrar do problema. Muitas vezes a família quer se livrar de uma adolescente que 'dá trabalho' deixando-a viver com o namorado", conta.

A juíza acredita que é preciso incluir também os adolescentes no debate. "Eles precisam ter consciência de que existem etapas psicológicas que não podem ser queimadas", conclui.

 

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