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Dois denunciados por ataques racistas a professor negro após entrevista

Dois denunciados por ataques racistas a professor negro após entrevista

O professor e dezenas de representantes e militantes do movimento negro protocolaram a ação na última quinta-feira (5)

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 12:42

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Denúncia foi feita pelo Centro de Estudos da Cultura Negra do ES. (Zélia Siqueira)

O professor Gustavo Forde, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que foi alvo de ataques preconceituosos após entrevista ao jornal A Gazeta e ao Gazeta Online protocolou uma notícia-crime contra dois dos autores no Ministério Público Federal (MPF).

A denúncia foi protocolada pelo Centro de Estudos da Cultura Negra no Espírito Santo (Cecun) na última quinta-feira (5). O ato envolveu dezenas de representantes e militantes do movimento negro capixaba.

O advogado André Moreira, que atua no caso, explicou que a opção por notícia-crime se deu após o entendimento de que Gustavo foi alvo de ataques enquanto militante do movimento negro no Estado, consequentemente, representante de uma causa coletiva.

O caso foi encaminhado ao MPF em razão do professor ter sido ofendido ao se manifestar enquanto funcionário e pesquisador da Ufes.

“O Gustavo não estava sendo ofendido por uma característica particular. Ninguém ali conhecia o Gustavo, ninguém leu a obra do Gustavo. Ele estava sendo ofendido por ser um homem negro, professor doutor da Ufes, que estava falando do racismo estrutural. Nada mais comprova a tese do Gustavo a partir daquelas manifestações”, disse o advogado.

Notícia-crime foi entregue ao MPF . (Zélia Siqueira)

Moreira disse que o MPF deve distribuir a ação a um dos procuradores. “O MPF vai analisar para ver se aceita a competência da Justiça Federal para julgamento. Aceitando, caracteriza o crime de racismo ou injúria, qualificada por motivos raciais”, destacou.

COMENTÁRIOS

“Olha a aparência desse doutor filósofo, kkkkkkk”. "Você já viu esses sociólogos e filósofos sempre malvestido, barbas malfeitas e cabelo todo imundo parecem que não sabem o que é higiene pessoal”.

Esses foram alguns dos comentários publicados na internet após a divulgação da entrevista do militante do movimento negro e pesquisador das relações étnico-raciais e de estudos afro-brasileiros, doutor em Educação Gustavo Forde, publicada no portal Gazeta Online e no jornal A Gazeta.


ENTREVISTA

Dentre os temas abordados na entrevista, foram destacados o protagonismo do movimento negro, a constituição da sociedade e da educação nos cenários nacional e estadual.

Na visão do professor, os “negros estão abalando os privilégios brancos e discutindo relações de poder”.

Além de trazer luz a um protagonismo negro, Gustavo lançou o livro “Vozes Negras na história da educação: racismo, educação e movimento negro no Espírito Santo (1978-2002)”.

Gustavo é professor e pró-reitor de Assuntos Estudantis e Cidadania da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O professor explica que as entidades representativas adotaram uma opção política.

“Interpelar o Estado brasileiro para que o mesmo passe a reconhecer e tipificar o crime de racismo. O que está em jogo não é simplesmente ‘punir’ as pessoas responsáveis pelos ataques racistas, nosso objetivo é estrutural: interpelar o crime de racismo na esfera jurídica e institucional. Optamos politicamente por este caminho e, sabemos que não será simples.”

Gustavo Forde, professor que sofreu ataques racistas após a publicação da reportagem. (Bernardo Coutinho | GZ)

Na avaliação do professor, a notícia-crime trata de uma mobilização que carrega possibilidades de contribuir para alavancar – na esfera jurídica - ações efetivas para tipificação dos crimes de racismo no Espírito Santo.

“Temos objetivo geral e objetivos específicos: no geral, objetivamos garantir na esfera jurídica à tipificação dos crimes de racismo e, que o Estado execute políticas de equidade étnico-racial. No específico, objetivamos que as pessoas respondam pelos crimes de racismo cometidos e, reeducar a sociedade para a educação das relações étnico-raciais”, detalhou o professor. 

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