Publicado em 5 de setembro de 2013 às 18:49
Um sítio localizado no alto do bairro Fradinhos, em Vitória, guarda um segredo revelado para poucas pessoas: a propriedade é cortada por um túnel onde escravos eram colocados de castigo. Originalmente, o túnel media 15 metros de comprimento, mas foi ampliado. Fascinado pelo local - onde nasceu e foi criado - o empresário João Batista Jantorno, 66 anos, decidiu ir fundo em um sonho. Literalmente. Com as próprias mãos cavou, escorou e cimentou a passagem subterrânea, estendendo o percurso para incríveis 50 metros.>
A reportagem do Gazeta Online teve acesso com exclusividade ao local e pôde percorrer a passagem, ampliada há mais de 20 anos, junto com o empresário e os filhos. (Veja o vídeo abaixo). A infraestrutura é boa: há iluminação por meio de lâmpadas e respiros para a entrada de ar, e o trajeto pode ser feito tranquilamente por um adulto de até 1,80 metro sem precisar se esgueirar.>
Em algumas partes, onde há subdivisões - o túnel possui trechos que descem para outro andar - a impressão que se tem é de que ele é mais extenso. Loucura? Com o bom humor característico e, aos risos, João atesta: " Me chamavam de doido", relembra.>
A família do empresário embarcou no projeto e ajudou João a expandir a empreitada. A mulher dele, Maria Helena Nunes Jantorno, 60 anos, e o filhos Robson e Alexandre Jantorno passavam horas na obra retirando os entulhos e levando para o quintal. "Papai passava dia e noite nesse negócio aqui. Quando ele dava por si, que mamãe chamava ele para jantar, ele dizia: 'Já vou'. Quando ia ver já era meia-noite", conta Robson.>
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Arte no túnel>
Artista autodidata e tendo cursado apenas até a 5ª série, João esculpiu imagens bíblicas e de cavalos, sua paixão, na parede ao longo do túnel. A intenção do empresário na época era que, após a conclusão da passagem, o local se tornasse um ponto turístico, o que não se concretizou.>
O empresário estima que tenha gasto, no período em que tocou a obra, o equivalente a R$ 100 mil. Desanimado, ficou muito tempo sem entrar no túnel, que só foi reaberto para a reportagem. "Há muitos anos que eu não entro aí. Estava tudo trancado. Já teve até casamento aqui em que a noiva tirava foto lá embaixo", diz Jantorno.>
Aposentado e após passar por problemas de saúde, ele agora faz planos para retomar o projeto. Sempre de bom humor, João planeja fazer do local uma espécie de túnel fantasma. "Queria colocar uns bonecos com uma iluminação para quem entrar tomar um susto", se diverte.>
Para finalizar a obra, João pretende terminar uma capela, os cômodos que se assemelhavam aos quartos onde os escravos ficavam e, por último, fazer um lago com uma passagem de água. Tudo isso, pode acreditar, dentro do túnel.>
Resquícios do tempo da escravidão>
João Jantorno afirma que, quando era criança, morava perto da Avenida Maruípe, mas costumava ir sempre na propriedade da família para soltar pipa. Era comum, nessas visitas, se deparar com vasos de cerâmica com ossos humanos enterrados no quintal. Segundo registros da família, o bisavô do empresário era dono de escravos.>
A esposa do empresário, Maria Helena Nunes Jantorno, lembra que quando o casal se mudou para a casa, ainda havia ossos no terreno."Logo que viemos morar aqui encontramos um monte de ossos. Hoje não tem mais", diz.>
Alguns dos vasos onde eram guardados os ossos e troncos onde os escravos teriam sido amarrados ainda podem ser encontrados no túnel.>
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