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Desvendando os mistérios de Vitória: 'Casarão da Dom Fernando'

Desvendando os mistérios de Vitória: 'Casarão da Dom Fernando'

Localizado na Cidade Alta, imóvel é apontado por vizinhos como sombrio e assustador

Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13:27

 No meio da Cidade Alta, no Centro de Vitória, um casarão com fama de mal-assombrado resiste imponente. O imóvel, construído em 1943 na Rua Dom Fernando pelo imigrante judeu libanês José Jacob Saad, revela as marcas dos anos de abandono. Depois de servir como moradia, a misteriosa residência, que fica ao lado do Convento São Francisco, também funcionou como sede da Maternidade Pró-Matre, local onde nasceram figuras ilustres da sociedade capixaba.

Reportagem originalmente publicada em 3 de setembro de 2013.

Ali os partos foram realizados de 1951 até 1964, quando a construção deixou de ser habitada e passou a pertencer à Associação dos Funcionários Públicos do Espírito Santo (AFPES).

Recentemente, prestes a passar por um processo de restauração, o casarão, que desperta a curiosidade de quem frequenta o centro histórico da Capital, foi adquirido pela Congregação Judaico Messiânica Rechovot, que pretende dar uma nova atmosfera e significado à casa.

A pastora Sandra Mara Oliveira, que faz parte da Congregação, afirma que a fama ruim do local se deve, principalmente, aos anos em que o casarão ficou abandonado. "O abandono trouxe moradores de rua, usuários de drogas. Eles foram depredando o local. Foram destruindo fisicamente e espiritualmente o espaço", diz.

Segundo a pastora, um relato de moradores antigos ajuda na fama ruim da casa: segundo eles, na época da maternidade, muitos bebês morriam antes do nascimento.

Vizinha do casarão há 15 anos, a dona de casa Lucinéia Augusta, 53 anos, confirma a história e confessa que já teve receio de morar ao lado da casa, justamente por conta dos "causos" que os vizinhos mais antigos contavam. "Eles falavam: 'Olha, isso aqui é mal-assombrado; muita criança foi enterrada no terreno'. De madrugada a gente ficava com medo, na expectativa de ouvir alguma coisa", lembra Lucinéia.

Apesar do medo inicial, Lucinéia diz que nunca viu mortos, nem ouviu nada assustador. Até hoje, a moradora só viu vivos, que pulam o terreno para usar drogas ou se esconder da polícia. (Veja no final da reportagem um tour pela residência, que mostra o cômodo mais temido pelos vizinhos).

"Não existe assombração, nem mula-sem-cabeça"

Depois de funcionar como maternidade e antes do abandono que foi relatado por vizinhos, a casa também foi palco de tempos felizes. Entre os anos de 1967 e 1968 o casal Maria Rosária e Nilton Rabelo foram morar no local. Antônio Dalvi, casado com uma das filhas do casal, conta que também morou no casarão e que o imóvel nunca teve nada de assustador. "Fomos muito felizes naquela casa, cuidávamos muito bem. Meu sogro não deixava faltar uma telha".

Quanto ao medo dos vizinhos, a impressão é causada pelo abandono da casa, que deixou de ser habitada pela família Rabelo entre os anos de 1996 e 1997, mas Antônio é categórico ao afirmar que isso é fruto do imaginário popular. "Não existe assombração, nem mula-sem-cabeça, isso é coisa da cabeça das pessoas que começaram a morar ali depois que fomos embora. Meu filho foi criado lá, fizemos quatro festas de casamento e só temos boas lembranças", diz o antigo morador.

Uma visita à casa

Para conhecer de perto e entender por que tanto mistério ronda o casarão, a reportagem do Gazeta Online visitou o local. Chegando lá, a primeira surpresa: o quintal da casa, que considerávamos abandonado, já servia como canteiro de obras para a restauração que está prestes a começar.

"Cuidado com o segundo andar, está tudo podre", alertou um dos funcionários da obra. Fomos  direto para o térreo, onde nos deparamos com o local mais esquisito da casa: um cômodo escuro e com duas janelas gradeadas, de onde se pode ver apenas o chão do quintal. O ambiente, semelhante a uma masmorra, deu ao local uma aura de mistério.

Arquitetura

O casarão da Rua Dom Fernando, além de misterioso e até assustador, é testemunha do desenvolvimento da cidade. A construção guarda a tradição das chácaras e casarios imponentes no Centro.

O arquiteto responsável pelo projeto de restauração, Leandro Terrão, evidencia essa característica. "A casa, construída em um estilo eclético tardio, guarda, além de uma enorme beleza, parte da história do Centro, quando a Cidade Alta era um local de chácaras e não de prédios, como hoje", explica Terrão.

O cômodo que parece uma masmorra, segundo Terrão, era um ambiente usado como depósito pelo primeiro proprietário e depois, na época da maternidade Pró-Matre, funcionou como necrotério. Talvez isso explique, entre os vizinhos, a fama ruim da casa.

Resgate histórico do casarão

A pastora Sandra Mara Oliveira explica que a Congregação Judaico Messiânica Rechovot decidiu comprar o casarão pelo significado histórico e religioso, já que a casa foi construída por um imigrante judeu. "Nós sentimos uma ordem divina para proceder a restauração do local. Isso para nós é um sinal espiritual muito grande, que é o período de devolução das terras aos antigos proprietários', explica.

Sandra afirma que, antes da reforma, a congregação tem preparado a edificação do altar, com orações no local todos os dias pela manhã. O lançamento da pedra fundamental, que marca o início da restauração, está previsto para acontecer no final de outubro.

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