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Comissão investiga mais 900 casos de fraude de diplomas na Serra

Comissão investiga mais 900 casos de fraude de diplomas na Serra

Educadoras denunciaram que foram vítimas de golpe

Publicado em 27 de julho de 2018 às 11:47

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Diploma falso que professora recebeu por curso de licenciatura. (Reprodução)

O esquema de falsificação de diplomas na Serra pode chegar a 900 casos de fraudes. Eles estão sendo investigados pela Comissão de Educação e Juventude da Câmara Municipal. A informação é do vereador Pastor Ailton, um dos membros da comissão. Até o início de julho, a Prefeitura da Serra já tinha anunciado a demissão de 300 professores com diplomas irregulares, muitos dos quais da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes). Desses, há educadores afirmando que foram vítimas de golpe.

A comissão estima que o número de professores demitidos pode aumentar porque a prefeitura recebe diplomas iguais aos que foram invalidados desde 2013. “Há casos que diretores recebiam mensalidades. O dinheiro caía na conta deles. Acredito que há uma quadrilha no Estado, que atuou na Serra e usou esses educadores, que também eram beneficiados, e houve um derrame de diplomas falsos”, disse o vereador.

Alguns dos demitidos pela prefeitura afirmam que não sabiam que os diplomas não eram reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e que são vítimas. Duas das professoras registraram queixa na Delegacia Especializada em Defraudações e Falsificações (Defa), que não comenta casos sob investigação para não atrapalhar a apuração.

As professoras afirmam que pagaram cerca de R$ 3 mil e fizeram uma segunda licenciatura, de Artes Visuais, com duração de um ano. Tudo intermediado por outras educadoras que atuam na Serra e teriam se apresentado como representantes da Unimes. Todas as disciplinas eram a distância, com avaliações realizadas no site da instituição. Em vez de acontecer num dos polos da universidade, as orientações presenciais aconteciam nas salas de uma igreja evangélica, em Vista da Serra I.

PAGAMENTO

Após a demissão em massa no município, uma outra professora, que também prefere não se identificar, foi orientada pelo advogado a acionar o banco e pedir microfilmagens (armazenamento digital de documentos) dos cheques que usou para fazer o pagamento das mensalidades do curso de licenciatura, realizado em 2015. Foi aí que teve uma surpresa.

“Na época, dei o cheque com o valor assinado, mas não coloquei o beneficiado. Confiei na professora que me indicou o curso e ela me falou que iria preencher com o nome da faculdade. Quando vimos a microfilmagem, descobrimos que o cheque estava no nome dela, o dinheiro foi para a conta dela.”

Na semana passada, quando a Prefeitura da Serra confirmou a demissão de 300 professores, o secretário de Administração e Recursos Humanos, Alexandre Viana, afirmou que nenhum dos educadores demitidos trabalhou por mais de 15 dias. A declaração dele foi contestada por algumas professoras demitidas.

Uma das educadoras ouvidas pela reportagem formou-se no curso de Artes Visuais em 2014 e afirmou que deu aulas apresentando o diploma em 2015, 2016 e por quatro meses de 2018. Outra professora concluiu o curso em 2015, dando aula em vários meses de 2016 e nos três primeiros de 2018.

Nesta quinta, Alexandre Viana reafirmou que os professores exonerados trabalharam em torno de 15 dias na rede. “A grande maioria foi assim. Se houve três ou quatro que trabalharam mais tempo, é muito.” Sobre a probabilidade de haver mais professores com diplomas falsos, o secretário acredita nisso, diz que as investigações continuam, mas pensa que não chega aos 900 casos estimados pela Câmara. Mas Viana afirma desconhecer o envolvimento de professoras da rede como falsas representantes da Unimes. “Não há denúncia sobre isso”, finaliza.

MEC: INSTITUIÇÃO ESTÁ EM SITUAÇÃO REGULAR E PODE ATUAR NO ES

Apesar de o nome da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) aparecer nos casos de diplomas falsos, o Ministério da Educação (MEC) afirma que a instituição está regular perante o órgão e tem autorização para atuar no Espírito Santo pela modalidade de Educação a Distância (EAD).

“A logística de matrícula de estudantes em polos de EAD é de responsabilidade da instituição. O que um estudante deve observar antes de se matricular em qualquer curso superior é se a instituição está regularmente credenciada no MEC, se os cursos estão autorizados e reconhecidos, os indicadores de qualidade destes cursos, e, no caso de EAD, quais os polos cadastrados regularmente. Todas as informações estão disponíveis no site emec.mec.gov.br”, informa o MEC, por nota.

Procurada nesta quinta, a Unimes se manifestou apenas sobre o caso de professoras da Serra que estariam usando o nome da instituição para a oferta de cursos, dos quais saíram diplomas falsos.

“A Unimes informa que não reconhece, nem tem vínculo com as pessoas citadas. Nenhum deles tem ou teve relacionamento com a universidade e, portanto, nunca foi autorizado a captar ou dar cursos usando a imagem da Unimes.”

DOCUMENTO FALSO DE PROFESSOR PREMIADO TAMBÉM É DA UNIMES

Wemerson Nogueira recebeu vários prêmios de educação. (Arquivo Pessoal)

A Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) é a mesma de onde o professor Wemerson da Silva Nogueira, que concorreu ao Global Teacher Prize, conhecido como o Nobel da Educação, diz ter obtido diploma de licenciatura em Química. Contudo, o documento dele também era falso.

A afirmação foi feita pelo advogado da instituição Ricardo Ponzetto em maio do ano passado, quando a Sedu iniciou investigações contra o professor. A apuração continua em tramitação. O corregedor Tarcísio Bobbio diz que a fase agora é de identificar se Wemerson sabia que o diploma era falso. O professor diz ser inocente.

O advogado da Unimes afirmou que tomou conhecimento, em 2015, que havia um esquema de falsificação de diplomas da instituição no Estado. Em razão disso, apresentou, ontem, queixa à Polícia Federal que não se manifestou sobre o assunto.

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