
Na luta contra os alagamentos, que já perdura há décadas na Grande Vitória, a água da chuva tem levado a melhor. Não foi diferente no último sábado (18), quando caiu, em 24 horas, mais de três vezes o volume de chuva esperado para todo o mês de maio. Essa batalha já é perdida de início, por falta de planejamento urbano, obras desencontradas e planos de redução de risco que não funcionam como deveriam ou sequer existem.
Os mais afetados, mais uma vez, foram os moradores das áreas mais pobres. Só em Vila Velha, a Defesa Civil municipal estima que mais de 400 pessoas tiveram que sair de suas casas no último sábado, a maior parte vive na região da Grande Cobilândia onde, ainda nesta segunda-feira (20), a água não havia baixado.
> Mesmo sem chuva, ruas de Vila Velha permanecem alagadas
A maioria das vítimas da chuva foi para casa de amigos e parentes, mas 44 pessoas não tinham a quem recorrer e seguem abrigadas em uma escola municipal no bairro São Conrado. Dezoito delas são crianças.
O Plano Municipal de Redução de Risco, que deveria apontar áreas vulneráveis na cidade de Vila Velha e apontar soluções, só deve ficar pronto no final do ano. O documento deveria ter sido feito pelos municípios em 2012, quando foi criada a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Enquanto isso, o município tem colocado em prática um plano emergencial. No último sábado, segundo o responsável pela Defesa Civil municipal, coronel Marcelo D’isep, as ações integradas agilizaram a intervenção do Exército nas áreas alagadas. No entanto, ainda faltam recursos. “Sentimos que, por mais que nos esforçássemos, o número de equipamentos foi insuficiente para dar vazão às demandas que chegavam. Eram necessárias mais viaturas altas e mais barcos”, destacou o coronel.
Durante a ação, foram removidos de casa pessoas acamadas, doentes graves e até com respiradores. Outro resgate aconteceu na Maternidade de Cobilândia. Mais uma vez, em seis meses, mães e bebês tiveram que ser socorridos. Moradores da Grande Cobilândia, revoltados com os alagamentos que continuam, fecharam a Rodovia Carlos Lindenberg por duas vezes nesta segunda-feira (20).
Segundo o engenheiro ambiental Bruno Navarro, os governos sofrem hoje com as obras que não foram feitas no passado. “As cidades foram crescendo e as obras não foram sendo feitas. Agora ficamos apagando incêndios”, diz.
Ele afirma que políticas imediatistas também não ajudam em uma solução mais abrangente para o problema. “Os governos não estão preocupados com o médio e longo prazo. É preciso fazer uma gestão menos política e mais eficiente para a população”, afirma.
Ainda segundo o especialista, é preciso aprender com os erros. “Ou a gente trata essa questão como prioridade nas políticas públicas ou a sociedade vai continuar sofrendo.”
SEM SOLUÇÃO
Apesar de afirmarem ter o Plano Municipal de Redução de Riscos, Vitória, Serra e Cariacica continuam sofrendo com as enchentes.
Vários bairros da Capital ficaram intransitáveis com a chuva forte. No entanto, a prefeitura informou que não há mais nada que possa ser feito para evitar o cenário que foi visto no final de semana. O coordenador da Defesa Civil de Vitória, Jonathan Jantorno justificou que, atualmente, na cidade, seis estações de bombeamento e uma galeria conseguem dar vazão a 110 milímetros de chuva, o que segundo ele é o suficiente para evitar os alagamentos. No entanto, quando chove além desse volume - o que ocorreu no sábado, com 275mm - aliado a ocorrência da maré alta, não há o que o município possa fazer.
> Os bairros mais afetados pela chuva no Espírito Santo
Na Serra, sofreram principalmente os moradores de balneário Carapebus, Guaraciaba e Hélio Ferraz. Nesse último, a água da lagoa Pau-Brasil, invadiu casas e só baixou ontem. Cerca de 60 pessoas estão desalojadas, segundo a Defesa Civil municipal. Já Cariacica diz ter plano de redução de riscos, mas não soube informar quantos moradores vivem em áreas monitoradas pelo município.