Publicado em 19 de junho de 2019 às 14:03
Em meio à dor, a esperança de salvar outras vidas. Essa foi a escolha da família do menino Gabriel Martins Rodrigues, 11 anos, que decidiu doar os órgãos dele após a confirmação da morte encefálica na última segunda-feira (17). A decisão foi anunciada nesta terça-feira (18) pelo seminarista e primo da mãe da criança, Rafael Martins, de 33 anos. >
Ainda no hospital, na manhã desta quarta-feira (19), Rafael conversou com a reportagem do Gazeta Online. Segundo o seminarista, córneas, coração, fígado e, possivelmente, os rins serão doados. >
Na entrevista, Rafael conta como a família está sobrevivendo a tantas perdas e cita a dor da tia, a Linda Batista, que morava com a família de Danielli Martins, mãe de Gabriel, e a criou desde pequena. No dia do acidente, Danielli ligou para a tia e pediu que fizesse o jantar para a família, que chegaria na madrugada. Linda fez o pedido, foi dormir e só soube da batida no dia seguinte. Veja a entrevista.>
Quando vocês ficaram sabendo da morte encefálica?>
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Na segunda-feira (17). A minha tia veio na visita e a médica já havia passado as informações, de fato, a morte encefálica dele. Realmente nesse dia foi aberto o protocolo.>
Em algum momento, o Gabriel chegou a acordar?>
Ele não chegou a acordar, pelo o que os médicos falaram. A lesão na cabeça foi muito grave, desde a semana passada já havia uma desconfiança dessa gravidade. A gente não sabe explicar direito essas reações, a questão técnica. De fato, na segunda-feira foi confirmada essa morte encefálica dele.>
Quais órgãos serão doados?>
Córneas, coração, fígado e, possivelmente, os rins.>
Vocês já têm informações sobre velório e sepultamento?>
Como acho que já iniciou o procedimento da captação de órgãos, nós esperamos que nessa parte da manhã se resolva tudo e na parte da tarde nós já vamos enterrar. >
Após o acidente, você chegou a ver o Gabriel?>
Duas vezes, a última vez foi ontem.>
Para a família, o que significava o Gabriel ter sobrevivido em meio a tantas perdas?>
O propósito de Deus ninguém sabe. Eu penso que, o Gabriel ter ficado até agora conosco, foi realmente para trazer um pouco de força para a nossa família, porque acredito que se tivessem ali quatro caixões, seria algo muito pesado para nós. Então, o Gabriel, ao mesmo tempo que teve esse conforto, essa esperança e que de fato não se concretizou porque ele veio a falecer, também trouxe um pouco da alegria de que os seus órgãos serão doados para dar vida a outras pessoas. >
Como ficou sabendo do acidente?>
O meu irmão tinha me ligado na terça de manhã, já estava na faculdade, iniciando as aulas. A gente entra em choque. Quando ele me falou que era um acidente grave, pensei: 'certamente vai ter uma notícia'. Na mesma hora entrei no Gazeta Online e vi que tinha um acidente grave na Serra, envolvendo quatro pessoas da mesma família. Pela descrição da reportagem, tudo estava batendo. Na mesma hora saí, fui para o seminário e de lá para o DML.>
E ninguém da família soube na segunda à noite.>
Acho que Deus preparou, porque se a gente tivesse sabendo na segunda-feira à noite, seria uma noite perdida. Aí na terça de manhã que nós ficamos sabendo. Foi até uma coisa estranha.>
A tia morava na mesma casa?>
Sim. Essa minha tia cuidou da Danielli desde os 9 anos de idade, quando ela perdeu a mãe. Acho que ela morreu com alguma doença pulmonar, mas não sei informar direito. Já na fase adulta, ela perdeu o pai, acho que em 2010. Mas ela já morava com a minha tia. Aí ela casou com o Ozineto e ela também passou a cuidar de Gabriel. Ela foi a tia avó do Gabriel assim também para o Lucca.>
Foi essa tia que recebeu a notícia da morte?>
Ela deve estar arrasada.>
Agora só Deus para poder consolar o coração dela. Graças a Deus a nossa família é muito unida, está sempre conversando. Mas realmente ela tem que ter muita força para superar tudo isso.>
Ela está morando sozinha?>
Está sozinha na casa, mas nesse tempo todo tem pessoas dormindo com ela. Tem lá as amigas que estão dando apoio. Mas a princípio ela ficou sozinha em casa.>
Ela tem filhos?>
Não. Ela nunca casou.>
A família da Danielli acabou sendo a família dela?>
Sim.>
A família teve quatro perdas. Como será daqui para frente?>
Só o tempo vai nos dizer, principalmente na vida da minha tia, que ficou muito marcada com isso. Realmente é pedir a Deus que possa conduzir a nossa vida no melhor caminho possível.>
A NOTÍCIA DO ACIDENTE>
No início da manhã da terça-feira, 11 de junho, o telefone da redação do Gazeta Online tocou. Eu atendi. Era uma pessoa perguntando se tínhamos alguma informação sobre um acidente com três mortos na Serra. >
Pelo telefone, o homem contou que uma criança, ainda sem identificação de familiares, estava em estado grave no Hospital Infantil de Vitória desde a madrugada.>
Sem saber do acidente, os jornalistas da Rede Gazeta começaram a apurar a informação. Infelizmente, minutos depois, o Corpo de Bombeiros confirmou as três mortes e que uma criança estava internada, em estado grave.>
A partir daí, a notícia ganhou repercussão e a família foi identificada. A cada detalhe que se conhecia sobre eles, a história ficava mais triste. Era a volta de uma viagem esperada, o sonho com caixões da mãe de Ozineto e o fato de ter outro caso de morte envolvendo carreta e granito no mesmo bairro da família, Canaã, em Viana.>
Danielli morava a cerca de 200 metros de Vanderlir Müller Estevam, morto em setembro de 2017. Ele era o motorista do micro-ônibus que pegou fogo com integrantes do grupo de dança Bergfreunde, de Domingos Martins. Na ocasião, 11 pessoas faleceram. >
Nesta terça-feira, a notícia da partida do Gabriel foi confirmada pela família. >
A COLISÃO>
No acidente morreram Ozineto Francisco Rodrigues, de 38 anos, Danielli Martins, de 34 anos, Lucca Martins Rodrigues, de 1 ano e 4 meses. Gabriel Martins, de 11 anos, foi socorrido e encaminhado para o Hospital Infantil de Vitória. A família voltava de uma viagem que fizeram ao Nordeste.>
Os corpos foram velados na Igreja Assembleia de Deus Resgatai, em Viana. Já o sepultamento aconteceu no cemitério de Vila Bethânia, também no município, na tarde desta quarta-feira (12).>
SEPULTAMENTO>
O corpo do Gabriel Martins será enterrado às 9h, de quinta-feira, no cemitério de Vila Bethania, Viana, o mesmo onde a família foi enterrada.>
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