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“Um patrão que era colega”; atuais e ex-funcionários da Rede Gazeta falam de Cariê Lindenberg

“Um patrão que era colega”; atuais e ex-funcionários da Rede Gazeta falam de Cariê Lindenberg

Colaboradores que conviveram com o empresário destacam a gentileza e o carinho do homem que enquanto chefe se colocava como colega de trabalho, defendendo incondicionalmente o jornalismo sério, bem apurado e imparcial

Publicado em 6 de abril de 2021 às 20:17- Atualizado há 3 anos

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 Cariê Lindenberg e Carlos Fernando Lindenberg Neto no parque gráfico da Rede Gazeta durante o início da impressão da nova Gazeta, 2011
Cariê Lindenberg ao lado do filho, Café Lindenberg, no parque gráfico da Rede Gazeta em 2021 com exemplares de A Gazeta. (Chico Guedes )

A relação próxima e sempre cordial com os funcionários é uma das marcas deixadas por Cariê Lindenberg, presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta. Aos 85 anos, Cariê faleceu na madrugada desta terça-feira (06), em decorrência de complicações causadas por uma pneumonia

Entre os anos de 1965 e 2001, ele comandou a Rede Gazeta. Foi o responsável pela digitalização do acervo jornalístico, da inauguração da página na internet e da fundação das emissoras regionais do grupo.

Funcionários e ex-funcionários que conviveram com Cariê destacam a gentileza e o carinho do homem que enquanto chefe se colocava como colega de trabalho, defendendo incondicionalmente o jornalismo sério, bem apurado e imparcial.

Ao longo desta terça-feira, muitas dessas pessoas se manifestaram nas redes sociais. Em decorrência da pandemia da Covid-19, apenas os familiares mais próximos irão acompanhar as cerimônias de despedida do empresário, no Cemitério de Santo Antônio, em Vitória.

Veja algumas manifestações:

Aparecida Alves (Cida), ex-telefonista da Rede Gazeta

“O doutor Carlos foi o meu pai, ele fez esse papel no momento em que mais precisei, me ajudou, confiou em mim. Pense em um ser humano bom, uma pessoa honesta, que respeitava os funcionários, tratava todos de forma igual. Eu era da limpeza e ele cumprimentava dava atenção. Não era um patrão era um pai. Eu sei que ele vai descansar e está deixando um grande legado, mas eu estou muito triste com a perda dele. Que ele descanse em paz.”

Claudia Gregório, editora e apresentadora do Jornal do Campo

“São nessas horas que nós percebemos o quanto consideramos alguém da família e eu tenho o prazer de conviver com essa família há 33 anos. Eu me lembro de uma história de quando era nova, apresentava o ES1, era editora de rede nacional e nós preparamos uma reportagem que denunciava uma empresa local e seria exibida no Jornal Hoje (TV Globo). Quando eu estava terminando de editar a reportagem, toca o telefone. Era o Cariê. ‘Vocês estão fazem a matéria sobre tal assunto’, ele quis saber. Me fez algumas perguntas e questionou se eu ouvia o outro lado. Então eu perguntei a ele se ele gostaria de assistir a reportagem antes de ser exibida. Ele prontamente me respondeu: ‘Não. Eu vejo quando for ao ar’. Aquilo para mim foi a prova de que a empresa que eu trabalho me dá autonomia para fazer o jornalismo como ele deve ser feito, independente de quem seja o foco. Foi a prova de que era uma empresa imparcial e ele me deu essa responsabilidade. 

 Depois, veio o Jornal do Campo e o nosso lema ‘aqui fala quem faz’ vem juntamente dessa ideia do Cariê em partilhar e compartilhar conhecimento, sempre preocupado com a agricultura, mesmo em um Estado pequeno, mas em que o agronegócio é importante. E o Cariê sempre foi preocupado com o pequeno produtor. Ele entendia a importância do grande, mas o foco sempre foi o pequeno produtor. O Cariê era tudo isso que agora vemos nas homenagens nas redes sociais. Era sábio, humano, próximo. Você tinha o livre acesso a ele. Mesmo afastado da empresa, mandava e-mails, dizendo: ‘minha filha, gostei muito dessa reportagem exibida domingo’. Hoje eu me sinto órfã”

Café e Cariê Lindenberg observam máquinas em ação no parque gráfico do Jornal A Gazeta, em 1999 (Acervo A Gazeta)

Daniela Abreu, editora e apresentadora do ES2

“Uma vez fizemos uma matéria com um empresário próximo ao Cariê, e esse empresário ficou bravo, disse que era amigo do Cariê e que nós não poderíamos fazer a matéria. Recebi então um e-mail do Cariê me perguntando se eu tinha certeza da apuração. Eu, muito novinha, respondi com um recado desaforado e ele me devolveu com a gentileza peculiar ‘não, só quero que você tenha certeza do que estamos fazendo’. Ele era mais preocupado em que fizéssemos o certo do que em deixar os amigos satisfeitos. Só posso dizer que é uma pessoa que tenho as melhores lembranças como chefe, como pessoa e como profissional do negócio - ele tinha visão de futuro da empresa -, sem falar do lado artístico, cultural, intelectual e uma gentileza ímpar.”

Denise Zandonadi, ex-repórter de economia do jornal A Gazeta

“Na redação do jornal A Gazeta nós tínhamos uma brincadeira de quem trabalhasse mais ganharia o “Cariê de ouro”. Eis que, em um aniversário meu, Rita Bridi e Rachel Silva (repórteres à época) fizeram um troféu, colocaram uma foto do Cariê e o convidaram para entregar na redação. Ele topou com muito bom humor e foi lá e entrou na brincadeira. Ele tinha o hábito de ir à redação de conversar conosco, de saber das informações, principalmente de política, agricultura e economia. Ele dava dicas de apuração e depois gostava de saber se elas tinham rendido. Era um homem que vivia na redação. Então, para nós, ele era quase um colega de trabalho não o patrão. Fora a personalidade dele, que conhecia todos os funcionários, as histórias, aberto a ouvir, sem falar da parte artística, como escritor e músico, ele gostava e apoiava esses assuntos. Nós o considerávamos uma pessoa da família.”

Claudia Feliz, ex-repórter de economia e cidades do jornal A Gazeta

“Essa é uma notícia que eu não gostaria de ter dado como jornalista. Eu passei 35 anos da minha vida na Rede Gazeta e, realmente, o Cariê era uma pessoa diferenciada, um patrão diferenciado. Ele não se impunha pela autoridade ser o dono, ele se impunha pela pessoa que ele era: ético. Ele nunca chegou para questionar o teor de uma reportagem. Ele era democrático, sensível, generoso, inteligente, criativo e era uma pessoa diferente. Foi um privilégio passar todo esse tempo da minha vida sob a liderança dele. Deixa um legado importante”

Rita Bridi, ex-repórter de política e economia do jornal A Gazeta

“Eu comecei na Rede Gazeta em 1983, na editoria de política, e o Cariê sempre foi apaixonado por política. Sempre aparecia na redação ao final do dia, puxava a cadeira, e falava: ‘Oi, querida. Do que tem de informação aí?’. A lembrança que tenho dele é de alguém supersensível, inteligente, educado, que não se comportava como dono, como chefe, mas como colega, parceiro. Tenho tudo a agradecer a ele e vai fazer falta.”

Café, Carlos Alberto Fante e Cariê em 1999
Café, Carlos Alberto Fante e Cariê em 1999. (Edson Chagas/Arquivo)

Elaine Silva, editora-chefe de A Gazeta

“Delicadeza em pessoa, sorriso afável como o de um avô querido, dr. Carlos, ou nosso Cariê, nos inspira não só como jornalistas, mas como seres humanos. Um homem ético, empreendedor, justo e carinhoso. Em qualquer que fosse a ligação, para assuntos mais sérios, espinhosos ou divertidos, vinha com a mesma voz e dizia: 'Oi minha filha, não quero te incomodar, mas preciso de um favor... você pode me ajudar?' Claro que posso, Cariê! Sempre posso e poderei ajudar à Rede Gazeta, ao jornalismo, à democracia! Faça uma festa linda no céu com sua mãezinha! Vamos sentir sua falta por aqui, mas seu legado irá nos inspirar todos os dias a seguir em frente. Que Deus o receba em seus braços!”

Bruno Dalvi, editor-chefe da TV Gazeta

“Cariê era um ser humano incrível. Sabia e gostava de ouvir, especialmente as opiniões contrárias a dele. Os papos eram agradáveis e toda vez que nos encontrávamos tínhamos uma história para contar um ao outro. Vou sentir saudades das ligações que começam sempre com a mesma frase: 'Meu filho, tudo bem? A família tá bem? Veja se pode me ajudar'. Sua simplicidade e generosidade farão falta nos dias de hoje.”

Carlos Fernando Lindenberg Filho, Cariê, em retrato da infância(Arquivo pessoal)

Abdo Chequer, diretor de Jornalismo da Rede Gazeta

"Entrei na Gazeta como repórter em 1979 e, em 1987, dr. Carlos me convidou para ser diretor da TV. A partir daí, nosso convívio passou a ser diário. Ele para mim sempre foi um mentor, um homem de grande sabedoria, bom senso e com uma busca permanente pela justiça. Uma das coisas que ele dizia e que serviu de grande ensinamento era ‘vocês não devem ir para a rua para confirmar a pauta, vocês têm que ir para a rua checar se a pauta construída é verdadeira e, se a informação for correta, vira reportagem'. São premissas como essas que guiaram o nosso princípio jornalístico. Cariê foi um homem de estirpe e grande nobreza. Embora tenha sido responsável por grandes feitos e alcançado imenso reconhecimento, era simples. Não quis ser político, mas tinha visão de estadista, pensando sempre no Estado e nas próximas gerações. Foi um privilégio para mim ter convivido tão de perto com um homem dessa estatura, bom e corajoso."

Vilmara Fernandes, repórter de Cotidiano de A Gazeta

“Generoso, ético, divertido e com alma de jornalista investigativo. Adorava participar das apurações, trocar informações, dar sugestões de pauta. E ainda ficava na torcida para saber se a apuração tinha rendido. No dia seguinte a publicação das minhas matérias especiais, principalmente as mais trabalhosas, fazia questão de ligar, dar sua opinião, seu apoio. Lembro de uma reportagem sobre o antigo Hospital Adauto Botelho, que relatava a situação dos pacientes que lá continuavam internados. O domingo estava amanhecendo quando recebi a ligação dele. ‘Minha filha, gostei muito da sua matéria. Lembro…' E já seguia relatando as suas experiências que eram sempre grandes lições de vida. Quando me tornei pauteira de A Gazeta, ele assinalou: ‘Vou te ajudar’. E eram raros os dias em que não ligava, logo cedo, com uma ótima sugestão de pauta. Quando não conseguia falar comigo, deixava recado com uma das telefonistas. E logo aparecia alguém na minha mesa: ‘Dr Carlos disse que tem uma ótima pauta para você’. Quando voltei para a reportagem, ele comemorou. ‘É o que você gosta, não é?’ Sim, era. E lá fui eu para o interior fazer uma pauta sugerida por ele sobre as tradicionais casas pomeranas que estavam sendo vendidas e demolidas. Após publicada, a reportagem se transformou em um projeto de uma escola local, apresentado no Gazeta na Sala de Aula. Um ano depois a empresa recebeu uma comenda internacional pelo trabalho. Quando liguei para Cariê contando a novidade ele riu muito ao saber que tudo tinha começado com um tema sugerido por ele. ‘Ainda sou um bom pauteiro’, brincou. Sim, você foi um grande mestre. Já está fazendo muita falta.”

Maria Antonietta Queiroz Lindenberg, no colo, o filho Cariê(Acervo A Gazeta)

Jocimar Breda, secretário da presidência da Rede Gazeta

“Dr. Carlos sempre foi uma pessoa muito especial na empresa. Era uma pessoa muito preocupada com todos os funcionários e sempre muito justo. Convivi com ele por 26 anos e sempre muito educado, querendo ajudar a todos e com um grande coração. Sempre convivi com ele, dona Maria Alice e com os filhos (Letícia, Café e Beatriz) e vi como são exemplos de pessoas boas e com caráter excepcional. Ele vai deixar muita saudade e ótimas lembranças! O que conforta é saber que ele sempre fez o bem e que sempre será lembrado por coisas boas.”

Andreia Lopes, ex-editora-executiva da Redação Multimídia

“Um dia triste. Mais que um chefe, Cariê era um líder doce, gentil, extraordinário. Carregava muitas histórias do jornalismo e da boemia. Nunca me esqueço de uma em especial, que o Serginho Egito sempre contava. Reza a lenda que quando Serginho foi contratado em A Gazeta, há muito e muitos anos, Cariê o convidou para o cargo na mesa do tradicional Britz Bar. Mas Serginho respondeu: 'Só se você contratar todo mundo dessa mesa'. E todos os boêmios dali foram contratados. Muito tempo depois, Serginho se transformou em editor-chefe de A Gazeta e por muitos anos foi editor de Política e amigo pessoal de Cariê - parceiro das cantorias. Hoje vai ter bossa nova no céu.”

Renato Costa, ex-apresentador do "Em Movimento"

“Jornalismo, cultura, meio ambiente, empreendedorismo, valorização do produtor rural, inovação, tecnologia e um grande amor ao Espírito Santo. Cariê Lindeberg é um marco na história do nosso Estado. Meus sentimentos a Café, Beatriz e Letícia Lindenberg. Sou muito grato a tudo que aprendi com Cariê e com a Rede Gazeta.”

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