A dúvida é o sentimento que acompanha os moradores do condomínio Top Life Cancun, na Serra, desde a última terça-feira (16). Após constatarem um amassado na caixa-d'água do residencial, eles têm medo que a estrutura colapse. Medo esse reforçado após o Conselho Regional de Engenharia (Crea-ES) ter divulgado na noite desta quarta-feira (17) que a torre de 35 metros de altura "apresenta importante deformidade" e que há a possibilidade de que ela caia.
O local, contudo, não está interditado e, embora algumas pessoas tenham saído de casa por precaução, ainda não há nenhuma orientação formal da Defesa Civil aos moradores. Segundo o síndico do condomínio, Luiz Cláudio Almeida, desde que foi percebido o dano na torre-d'água, as informações têm sido conflitantes.
"A Defesa Civil não falou nada (sobre interdição), os Bombeiros só pediram nosso alvará e o Crea ontem (quarta) deu uma nota para a imprensa, mas com a gente também não disse nada", afirma.
Ele conta ainda que, em reunião nesta quarta-feira (17) com a construtora MRV, responsável pelo empreendimento, ouviu de um técnico que fez perícia no local que a estrutura não apresenta risco para os moradores.
Alexandre Lahas é morador do quarto andar do bloco 1, que fica mais próximo da caixa-d'água. Ele conta que tinha acabado de chegar de viagem quando soube do problema e que até agora aguarda um posicionamento das autoridades para decidir se sai ou se fica no local.
"Na hora que soube peguei minhas coisas e fui pra casa da minha namorada, que é aqui perto. Agora estamos aguardando o laudo dos órgãos responsáveis para tomarmos uma decisão, se vamos ficar ou se teremos que evacuar", diz.
A caixa-d’água do residencial apresentou um amassado na terça (16) e os moradores saíram de casa temendo o desabamento. Na manhã do dia seguinte, a Defesa Civil municipal fez uma avaliação inicial da estrutura e chegou a falar que não via risco iminente de queda, mas que era necessária uma análise mais especializada da torre. O local não foi interditado e muitas pessoas retornaram para os apartamentos.
Na noite do mesmo dia, outra avaliação preliminar foi feita, dessa vez do Crea-ES, que informou que não descarta a possibilidade de desabamento da torre-d'água que abastece o prédio. No entanto, ponderou que ainda será feito um diagnóstico decisivo e seguro.
A Gazeta entrou em contato com a Defesa Civil da Serra, órgão que tem a autoridade para interditar ou não o prédio, e questionou sobre qual seria a orientação para os moradores nesse momento.
Contudo, o órgão limitou-se a informar que aguarda um laudo topográfico que deverá ser contratado pelo condomínio para acompanhamento do caso.
"A Defesa Civil da Serra fez uma análise no local e orientou a contratação de um profissional de topografia para analisar o nível de inclinação da estrutura. Na quarta-feira foi realizada uma perícia a pedido da construtora", diz a nota enviada pela prefeitura.
Essa análise topográfica ainda não tem data para ser realizada, uma vez que o condomínio quer que a construtora arque com a despesa da contratação.
Segundo o síndico do condomínio, em janeiro do ano passado, menos de cinco anos depois da entrega do empreendimento, foi feita uma reclamação formal à MRV a respeito da situação da caixa-d'água. Na ocasião, foi informado que ela estaria com ferrugem.
Em resposta, a construtora informou na época que não poderia fornecer assistência técnica pois a estrutura estaria fora da garantia. Por isso, os moradores decidiram fazer uma manutenção por conta própria, intervenção essa que vem sendo criticada pela construtora nesta semana.
Ainda em 2020, foi emitido um laudo técnico feito por especialista contratado pelo condomínio. O documento, datado de 17 de julho, já apontava irregularidades, como oxidações (ferrugem), antes mesmo de vencer a garantia de fabricação dos reservatórios, que seria em agosto de 2020.
Segundo o Crea, o documento foi expedido por empresa especializada, com responsável técnico e registro de Anotação de Responsabilidade Técnica.
A Gazeta entrou em contato com a construtora MRV e com a empresa Dipawa, responsável pelos reservatórios, mas ainda não houve resposta. Esse texto poderá ser atualizado.
O episódio envolvendo o condomínio em São Diogo, na Serra, é apenas o mais recente de uma série de problemas alarmantes envolvendo condomínios no Estado.
O temor dos moradores era de que a situação se transformasse em outra como a registrada no Residencial São Roque, no bairro Padre Gabriel, em Cariacica, em dezembro passado, quando duas torres-d'água desabaram, deixando dezenas de famílias desalojadas e matando uma pessoa. O residencial, que pertence ao programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, havia sido inaugurado apenas duas semanas antes.
Em janeiro, moradores dos edifício Santos II, no bairro Nova Itaparica, em Vila Velha, acordaram de madrugada com um estrondo provocado pelo colapso parcial de dois pilares de sustentação do prédio. Segundo a prefeitura, o prédio, construído por uma empresa privada, não tinha a documentação correta.
Em fevereiro, a estrutura da área de festa do Residencial Otílio Roncetti no bairro Gilson Carone, em Cachoeiro de Itapemirim, desabou durante uma chuva. Neste caso, ninguém ficou ferido.
Na noite da última quinta-feira (11), moradores de 16 apartamentos do bloco 13 do condomínio Residencial Vila Velha, em Jabaeté, tiveram que deixar seus lares por medo de que a estrutura desabasse. Segundo a síndica Mirian de Freitas, foram constatadas rachaduras em pelo menos três apartamentos do condomínio entregue em 2016 pelo programa Minha Casa Minha Vida. O local permanecerá interditado até que haja garantias de que é seguro.
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