Entre 2019 e 2022, a variação média nos preços praticados na Capital do Espírito Santo chegou a alcançar até 212,8%.
Entre 2019 e 2022, a variação média nos preços praticados na Capital do Espírito Santo chegou a alcançar até 212,8%. Crédito: Freepik / Arte Geraldo Neto

Saiba quanto o preço dos alimentos subiu entre 2019 e 2022 no ES

Pandemia, conflitos internacionais, fatores climáticos, entre outros, fizeram com que a inflação de alimentos e outros itens básicos, como produtos de limpeza e higiene pessoal disparassem nos últimos anos; confira as altas

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 08/06/2022 às 08h31

Pandemia, conflitos internacionais, fatores climáticos, entre outros, fizeram com que a inflação de alimentos e também itens básicos como produtos de limpeza e higiene pessoal disparassem nos últimos anos. Entre 2019 e 2022, a variação média nos preços praticados na Capital do Espírito Santo chegou a alcançar até 212,8%. É o caso do óleo de soja, que custava R$ 3,59 em 2019, mas atualmente custa R$ 11,23.

Também encabeçam essa lista produtos como pó de café (134,38%) e açúcar cristal (126,78%). Outros itens cujo preço mais que dobrou no período foram sabão em pó (122,99%) e sabonete (120,42%). Este último, aliás, foi drasticamente reduzido da lista de compras de Maria da Penha de Almeida Lopes, 58 anos, moradora de Vitória.

Maria da Penha de Almeida Lopes, 58 anos, reduziu lista de compras por causa da inflação
Maria da Penha de Almeida Lopes, 58 anos, reduziu lista de compras por causa da inflação. Crédito: Caroline Freitas / Arte Geraldo Neto

Atualmente desempregada, ela conta que a inflação afetou — e muito! — a rotina da família. Com a alta de preços, ela deixou de comprar oito sabonetes por mês para a casa em que vive com um filho, passou a comprar apenas um. Essa, porém, não é a única mudança.

“Há uns dois anos e meio, a gente comprava até mais que um carrinho. Hoje, ao ir ao supermercado, é preciso comprar apenas o essencial e, mesmo assim, está muito difícil. A gente compra um pacote de um quilo de açúcar, dois quilos de arroz, e assim vai. Temos que nos virar e pedir força a Deus para conseguir lidar com a situação.”

A variação no preço dos produtos foi calculada pela reportagem a partir de dados do Procon Vitória, que realiza pesquisas de preço mensais nos supermercados do município, indicando preços por estabelecimento, valor máximo e mínimo. Para o texto, foi considerado o valor médio dos produtos.

Somente a cesta de itens de primeira necessidade equivale, atualmente, a 49,45% do salário mínimo (R$ 1.212). Entretanto, percentual já foi maior. No mês de abril deste ano, por exemplo, chegava a 57,8% do salário, de acordo com informações do Procon.

O encarecimento do custo de vida também é percebido com desânimo pela cabeleireira Sheila Balestreiro dos Santos, 40, que relata que, nos últimos meses, tem precisado fazer um “malabarismo” mensal com as contas.

Sheila Balestreiro dos Santos

Cabelereira

"Toda semana a gente vai ao mercado e tem uma surpresa. Os preços são sempre maiores do que a nossa expectativa, e nunca abaixam. É muito difícil. Reduzimos o consumo de muita coisa por causa disso. Agora, o que entra no carrinho é praticamente só o básico"

O soldador José Nascimento, 47, conta que além de limitar a aquisição de alimentos, produtos de limpeza e higiene aos itens básicos, passou a ir ao supermercado várias vezes na semana, em busca de ofertas. A compra mensal ou quinzenal ficou no passado.

“Todo dia tem um preço diferente. A gente tem que comprar pingado, vir várias vezes no supermercado, ver como está o preço e comprar o que é necessário”, destacou o morador de Vitória.

212,8%

foi a variação no preço do óleo de soja entre 2019 e 2022

O secretário de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória, Marcello Rodrigues, observa que a situação é delicada e impacta principalmente as famílias que têm um orçamento familiar reduzido, sobrevivendo com um salário mínimo ou até menos do que isso.

“Nós temos algumas discrepâncias bem impactantes nos orçamentos familiares, sobretudo nas famílias mais vulneráveis.”

Ele explica que a Prefeitura de Vitória, por meio do Procon, realiza essa pesquisa que traz dados “pormenorizados”, apontando aos munícipes as redes que têm o melhor preço médio e individualiza cada item por supermercado, ou atacado, a fim de facilitar o acesso a produtos mais baratos.

“Analisando isso, você já consegue ter uma redução nas despesas, dependendo de onde vai comprar. Esse dados podem ser conferidos no site da Prefeitura, ou no aplicativo Vitória Online”

REALIDADE DO BRASIL E DO MUNDO

Não se trata, entretanto, de um problema vivenciado apenas na Capital do Espírito Santo. É uma situação generalizada, observada também em outros municípios e Estados, ocasionada por problemas que têm afetado não apenas o Brasil como diversos países.

No Brasil, o termômetro oficial da inflação é o IPCA, pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seguindo um padrão internacional de indicadores.

No resultado de abril, divulgado na última quarta-feira (11), a inflação no país saltou para 12,13% no acumulado em 12 meses, a maior alta desde outubro de 2003. De acordo com Robson Gonçalves, professor de Economia dos cursos de MBA do ISAE/FGV, esse fenômeno é consequência de dois elementos principais.

“De um lado, o volume imenso de crédito que foi despejado em todo o mercado como uma tentativa de amenizar os efeitos da pandemia, gerando um poder de compra na mão da população que evitou uma crise maior, mas gerou pressões de demanda em várias regiões do mundo. Por outro lado, temos a desorganização das cadeias produtivas que aconteceu durante a pandemia, cujo os resultados ainda estão sendo sentidos hoje”, aponta.

Ele observa ainda que a inflação nesse patamar é uma das variáveis econômicas mais sentidas pela população. “O consumidor vai ao supermercado comprar mais ou menos as mesmas coisas do mês anterior e percebe que estourou o orçamento”, exemplifica.

Robson Gonçalves

Professor de Economia dos cursos de MBA do ISAE/FGV

"O consumidor vai ao supermercado comprar mais ou menos as mesmas coisas do mês anterior e percebe que estourou o orçamento"

Para tentar conter a inflação, o Banco Central tem elevado a taxa básica de juros, de modo a forçar uma redução no consumo. Ainda assim, nem sempre o aumento da Selic é capaz de reverter a alta dos preços, como é caso dos combustíveis, que têm o preço cotado no mercado internacional e afeta o custo de produção e transporte também em diversas outras cadeias produtivas.

Outro fator a ser levado em consideração é o conflito entre Rússia e Ucrânia, que gera ainda mais incertezas e afeta o preço das commodities, conforme observa o economista Eduardo Araújo.

“A combinação de pandemia com conflitos internacionais fez com que o custo de vida das famílias aumentasse. A gente começou o ano falando que a inflação ia voltar ao equilíbro, ficar em 5%, agora já está acumulada em 12%. Ao meu ver, a tendência é de desaceleração até meados de 2023, mas será um processo gradativo. Já percebemos uma queda de outros indicadores, como o IGP-M.”

Araújo frisa que esse movimento deve começar a ser percebido pelos consumidores nos próximos meses, mas isso não significa, necessariamente, que haverá queda nos preços, mas uma estabilização dos mesmos, com aumentos menos frequentes ou em percentuais um pouco mais baixos.

“Estamos esperando apenas que os preços não continuem subindo nesse ritmo frenético. A política de elevação de taxa de juros deve contribuir para isso, mas isso traz um desafio porque pode ser que os preços se equilibrem, mas podemos ter uma pressão também de desemprego. É um cenário ainda desafiador, não dá pra dizer que está tudo resolvido.”

ELEIÇÕES 2022

A elevação do custo de vida pode interferir inclusive nas intenções de voto da população. Pesquisas recentes têm demonstrado que a percepção dos eleitores de que a inflação e os preços dos produtos “aumentaram muito” nos últimos meses no país, e devem continuar subindo.

Além disso, grande parcela da população faz menções à agenda econômica (como inflação, desemprego, fome, miséria e salário), quando perguntada sobre quais os temas mais importantes para serem tratados pelos próximos governantes, em especial o presidente.

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