Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 06:01
A fim de concentrar suas atividades nos campos de petróleo de maior porte e produtividade, principalmente na área de pré-sal, a Petrobras está intensificando seus planos de desinvestimento, e pode colocar à venda gasodutos de transporte da companhia, inclusive as estruturas que passam pelo Espírito Santo. >
Em plano de investimentos, divulgado há uma semana, a empresa manteve para 2024 a chegada do novo navio plataforma no Parque das Baleias, Litoral Sul, na Bacia de Campos. Além de garantir esse investimento ? de aproximadamente R$ 5 bilhões ?, a estatal prevê aplicações com as atividades de exploração, tarefa necessária para ampliar a produção de óleo e gás no Estado, que está em queda.>
No portifólio, também estão mantidas as Unidades de Tratamento de Gás, são duas no Estado: uma em Linhares, Cacimbas; e outra em Anchieta, a Sul Capixaba. Apesar de afirmar que vai manter ativos na Bacia do Espírito Santo, que pega o Litoral Norte do Estado, a empresa deixa claro que venderá áreas com menos volume de óleo e gás. O foco dos desinvestimentos estão em ativos de terra e águas rasas.>
Em nota, a Petrobras informou que seus ativos são constantemente avaliados a partir do monitoramento de variáveis externas preço, câmbio, ambiente regulatório e de premissas financeiras e operacionais internas. >
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Dado o passado recente de volatilidade do Brent, temos buscado maior resiliência a preços baixos e a redução do endividamento da companhia, ainda elevado. Para tal, são priorizados os ativos e projetos nos quais há maior vantagem competitiva, sobretudo os campos em águas profundas e ultra profundas.>
Diante disto, a companhia informou que permanece com sua atuação na Bacia do Espírito Santo, bem como mantém a sua estrutura para escoamento de óleo e gás do mar.>
Vale destacar, por exemplo, que, em setembro, a empresa concluiu a venda de três campos terrestres do Polo Lagoa Parda, em Linhares, Norte do Estado, para a capixaba Imetame Energia. >
Além disso, a Petrobras oficializou, em agosto, a venda de sua participação em 27 concessões terrestres de exploração e produção de petróleo, localizadas no Espírito Santo, conhecidas como Polo Cricaré, para a Karavan SPE Cricaré S.A., uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).>
Também em agosto, a estatal colocou à venda o total de suas participações no conjunto de concessões do Polo Norte Capixaba, localizado no Norte do Espírito Santo. Entre os ativos estão: cinco campos terrestres com instalações integradas, estações de tratamento de óleo, gasodutos, oleodutos, o Terminal Norte Capixaba (TNC) e a Estação Fazenda Alegre.>
Apesar de não ter se manifestado sobre como isso afeta o Estado, a meta da companhia é chegar a 2025 sem qualquer participação em gasodutos de transporte, de acordo com seu plano de negócios. As estruturas são usadas para levar o gás da unidade de tratamento para as distribuidoras. Hoje, toda essa malha está em poder da empresa, o que deve mudar com a abertura do novo mercado de gás.>
Segundo informações contidas no site da Petrobras, a estatal tem cinco gasodutos no Estado, sendo alguns responsáveis por transferências, e outros pelo transporte de gás natural.>
Na área de transporte, o principal, segundo o especialista da área de petróleo e gás, Eduardo de Almeida Ramos, é o Cacimbas-Catu (Gascac), que percorre 954 km entre a Unidade de Processamento de Gás de Cacimbas (UTGC), em Linhares, e a Estação de Distribuição de Gas (EDG) de Catu, na Bahia. O outro é o Gascav, que liga Cabiúnas (RJ) a Vitória, com um braço que liga a Capital à Serra.>
O foco tende a ser a área terrestre, e esse é o que se destaca. E, pessoalmente, acredito a Petrobras se desfazer desses dutos, dependendo de quem comprar, pode ser uma boa. Empresas vao poder comprar o gás importado, jogar na malha, e viabilizar uma série de investimentos.>
Os outros gasodutos da Petrobras no Estado são o Lagoa Parda-Vitória, com um braço que liga a Capital a Aracruz; o gasoduto Gasviert, entre Vitória e Vianna; o gasoduto Cacimbas-Vitória, que liga a Estação do Terminal Intermodal da Serra (TIMS), até a Unidade de Processamento de Gás de Cacimbas (UTGC), em Linhares. Esses atuam como distribuição ou transferência.>
O portfólio de desinvestimentos da companhia contempla ainda a venda de dezenas de outros ativos em diferentes estágios do processo de venda no país, e no Estado. Além dos dutos de transporte, a estatal também planeja vender ativos em terra e águas rasas, e acabar com a participação em térmicas, entre outros. >
A meta é arrecadar entre US$ 25 bilhões e US$ 35 bilhões com as vendas entre 2021 e 2025, conforme o plano de negócios divulgado no início desta semana pela companhia.>
Na cartela de ativos com venda prevista, estão oito das treze refinarias que fazem parte do portfólio da petroleira atualmente. Somente cinco delas, distribuídas entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, serão mantidas até 2025.>
A estatal também pretende reduzir para dez o número de usinas termelétricas próprias no período. Hoje, são dezessete unidades próprias e treze participações.>
A companhia planeja também manter apenas dez de seus 23 terminais aquaviários até o fim do período. O número de terminais em terra será reduzido para 15. Atualmente, são 21. Já o número de dutos será reduzido quase pela metade, passando de 173 para 88. Além de seis dutos no Centro-Oeste, 82 dos 84 dutos da região Sudeste serão preservados.>
A Petrobras pretende ainda desativar 18 plataformas em todo o Brasil até 2025, dentre elas, a FPSO Capixaba e três plataformas fixas, situadas no campo de Cação (PCA-1, PCA-2 e PCA-3), na Bacia do Espírito Santo, no litoral de São Mateus. Somados, os descomissionamentos terão um custo estimado em US$ 4,6 bilhões. A empresa, entretanto, não esclareceu que parcela desse montante será aplicada em território capixaba. >
A FPSO Capixaba, que é uma plataforma antiga, está prevista para ser desativada com o início da operação do Integrado Parque das Baleias, novo navio-plataforma que iria ampliar a produção em Novo Jubarte, no Litoral Sul do Espírito Santo. ]>
O investimento, entretanto, só deve sair do papel em 2024. A previsão anterior era de que o primeiro óleo fosse retirado já em 2023, mas a pandemia levou a uma mudança no cronograma. >
O empreendimento, que deve produzir 150 mil barris de óleo, segundo as projeções mais recentes da Petrobras, e 5 milhões de metros cúbicos de gás, quando estiver em fase de instalação e de operação, terá papel fundamental para abrir oportunidades para a cadeia de fornecedores do Estado.>
Na visão de especialistas, a concentração das atividades da Petrobras em áreas profundas e ultraprofundas acaba se transformando em oportunidade para que empresas menores invistam em projetos descartados pela estatal, aumentando a produtividade dos ativos. >
Desde o início da gestão atual, a Petrobras vem anunciando que pretende focar em ativos com rentabilidade para os acionistas. A tendência é que foque em áreas com maior produtividade no pré-sal, principalmente no Rio de Janeiro, e em São Paulo. No Espírito Santo, tem havido um movimento constante de venda de ativos, mas isso não é necessariamente algo ruim, observou o especialista da área de energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires.>
Adriano Pires
Especialista da área de energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie)A visão é compartilhada pelo especialista da área de petróleo e gás Durval Vieira de Freitas, da DVF Consultoria, de acordo com o qual, há uma perspectiva de aumento na produção de óleo e gás em território capixaba nos próximos anos.>
A Petrobras está lenta e gradualmente saindo do Espírito Santo. É ruim, por um lado, pois é uma grande empresa, e a gente sempre sofre um pouco com a saída de empresas de grande porte. Mas, pessoalmente, considero esse movimento positivo para o Espírito Santo, pois vai permitir a entrada de novas empresas no mercado, que vão aumentar a produção. Teremos maior agilidade. O que temos que fazer é continuar estimulando a vinda dessas empresas, como vem sendo feito. >
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