Cansado de observar a linha férrea se deteriorando, um grupo de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, decidiu se juntar para cuidar de trechos da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) que cortam a cidade. Surgiu, então, o "Amigos da Ferrovia", com voluntários dispostos a fazer o trabalho de conservação da via, que não vinha sendo realizado, e estimular o turismo na região.
Liderança do movimento, Raphael Pinheiro Santuchi reuniu há pouco mais de um ano alguns amigos com o pai. Todos doam tempo e, em determinados casos, até dinheiro para a manutenção da ferrovia. A atuação tem se concentrado nove quilômetros de linha férrea, entre os distritos de Cobiça e Soturno.
Raphael Pinheiro Santuchi
Líder do movimento "Amigos da Ferrovia"
"Nosso objetivo é tornar esse trecho acessível à visitação para que as pessoas possam conhecer a história da ferrovia"
Raphael conta que o trabalho, que depende em parte de doação de recursos de apoiadores do movimento, é manter o trajeto da linha férrea que liga as estações dos dois distritos sem mato ou nenhuma outra obstrução. Os voluntários usam um carrinho próprio para trafegar sobre os trilhos e outras ferramentas para limpar o caminho. Com essa iniciativa, o trecho acaba se tornando um atrativo para caminhadas e trilhas.
"Queremos chamar a atenção da população de que a ferrovia traz desenvolvimento. Sem a ferrovia, a cidade não teria se desenvolvido. Ainda hoje, tem potencial, tanto turístico quanto para transporte de carga. Embora a administradora diga que não é viável, a ferrovia pode ser aproveitada. A gente aqui é uma formiguinha, mas tem buscado unir forças para lutar", ressalta.
Esse desabafo refere-se ao fato de a VLI, concessionária que administra a FCA, ter declarado que a ferrovia no Espírito Santo é inviável economicamente e que não pretende retomar as atividades por aqui. Para Raphael, apesar do cenário atual, não se deve nem dizer que a linha férrea está abandonada, mas sim, desativada. "Nossa esperança é que o trem volte e a empresa vai ter que entregar a ferrovia da forma que estava antes de paralisar as atividades", defende.
Prefeituras como as de Vargem Alta e Domingos Martins também têm iniciativas para conservação de trechos, pelos quais visitantes fazem trilhas, mas projetam outras iniciativas turísticas para o caso de serem autorizados a gerir a ferrovia em seus municípios.
Ferrovia e estações na Grande Vitória
NOVAS ROTAS
Pedro Bragança, coordenador do Conselho Estadual de Ferrovias, também enxerga viabilidade para a retomada das funções da FCA e pontua trechos em que poderiam ser criadas rotas turísticas, como de Atilio Vivacqua a Mimoso do Sul.
"É um trecho curto, barato e rápido, que pode aquecer o turismo e a economia na região. Em Cachoeiro, pode haver uma rota que faça a interação com roteiros relacionados a Roberto Carlos; em Vargem Alta, também há pontos atrativos, passando pelas matas", exemplifica.
Questionado sobre o traçado da FCA, bastante sinuoso e montanhoso em alguns trechos, Pedro Bragança acredita que, mesmo não sendo possível usufruir de todos os 250 quilômetros da linha férrea, há projetos possíveis de se executar, por trechos, como a retomada do trem turístico na Região Serrana.
"Explorar o turismo e, com essa retomada, tentar atrair outra operadora, novos investidores, para o transporte de cargas", sugere.
O coordenador do Conselho de Ferrovias aponta que, em cada município ou região, há um potencial. Em Araguaia, distrito de Marechal Floriano, toras de madeira; em Viana, grãos; em Cachoeiro, rochas ornamentais. Um só vagão de trem, segundo Pedro Bragança, poderia retirar das estradas de quatro a cinco caminhões, contribuindo ainda para a segurança viária.
Assista à websérie sobre a ferrovia
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