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Entenda como a inflação esmagou o prêmio de R$ 1,5 milhão do BBB

Entenda como a inflação esmagou o prêmio de R$ 1,5 milhão do BBB

Para que o vencedor pudesse adquirir, em 2021, o mesmo que foi comprado pelo ganhador da competição em 2010, o valor da premiação precisaria ser 85% maior. Entenda:

Publicado em 2 de maio de 2021 às 19:02

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BBB com Fiuk, Juliette, Camilla e Gil
Prova de resistência marca semi-final do BBB 21. (TV Globo/Reprodução/GShow)

O que você faria com R$ 1,5 milhão? Para Fiuk, Juliette, Gil e Camila de Lucas, que podem ir para a final do Big Brother Brasil 2021, a pergunta não é mera especulação. É essa a quantia que um deles levará para casa na próxima terça-feira (4), ao vencer a competição. Mas seja qual for o destino do dinheiro, o fato é que o prêmio, que não passa por atualização desde 2010, vale bem menos hoje do que naquela época. 

Se o valor fosse corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a recompensa paga ao ganhador do reality show atualmente deveria ser de R$ 2.778.157,46. Entre março de 2010 e março de 2021, a inflação no país avançou 85,21%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Neste caso, a inflação nada mais é que o nome dado ao aumento generalizado e contínuo de preços, causado pela desvalorização da moeda brasileira. É por causa dela que os preços no supermercado, por exemplo, sobem constantemente e porque o salário mínimo passa por reajuste anual.  Ou seja, como os preços dispararam, mas o valor do prêmio continuou o mesmo, o ganhador desta edição do reality global terá um poder de compra bem menor do que se tivesse vencido a competição há 11 anos.

Um exemplo simples desse aumento de inflação é o salário mínimo, que hoje vale R$ 1.100. Com a soma de R$ 1,5 milhão, seria possível pagar esse valor 1.363 vezes. O provento em 2010, por outro lado, era R$ 510, ou seja, a recompensa do ganhador equivalia a 2.499 salários. Mas se esse dinheiro fosse usado em compras, o que seria possível adquirir, considerando o aumento nos preços?

Conforme explicou o economista Eduardo Araújo, é difícil estabelecer uma relação entre o que teria sido possível comprar naquela época e o que é possível comprar hoje com esse valor, porque muitos itens daquela época saíram de linha ou passaram por adaptações. Ainda assim, é possível medir o impacto da ausência de correção dos valores.

Se o valor do prêmio tivesse sido corrigido pelo IPCA acumulado desde 2010,  e valesse cerca de R$ 2,77 milhões, o ganhador do programa conseguiria adquirir, por exemplo, 46 carros populares, modelo Gol 1.0, ao custo médio de R$ 60 mil. Mas, com o valor desatualizado, consegue adquirir "apenas" 25.  

Não deixa de ser um bom prêmio; R$ 1,5 milhão ainda é muito dinheiro, e é mais do que a maior parte dos brasileiros conseguirá acumular durante toda sua vida. Mas, independente disso, vale cada vez menos.

Com essa quantia, é possível adquirir 15 imóveis populares, ao preço médio de R$ 100 mil. Por outro lado, se o valor estivesse atualizado, seria possível adquirir 27, e ainda sobraria dinheiro para mobiliar.

Se o sonho do "brother" for viajar, poderia ir 60 vezes a Paris, na França, ao custo médio de R$ 25 mil por mês. Com a correção do prêmio, poderia fazê-lo 111 vezes. 

“O vencedor do BBB vem perdendo poder de compra desde que o prêmio passou a ter esse valor. Mas a inflação é um problema que afeta a todos, e esse aumento de 85% nos preços, num horizonte de 11 anos, chama bastante a atenção. Esse avanço da inflação se tornou ainda mais acentuado desde o início da pandemia, e ainda hoje estamos acima da meta inflacionária. Na prática, com a economia parada e com o aumento de preços, as pessoas acabam conseguindo consumir cada vez menos produtos”, observou Araújo.

O economista pontua que essa desvalorização ocorre não apenas dentro do país, quanto em comparação ao mercado externo. Em território brasileiro, um exemplo é a falta de moedas observada por comerciantes, que se queixam da dificuldade de dar troco aos consumidores que pagam por uma compra ou serviço. Como as moedas já não pagam muita coisa, há quem simplesmente deixe de utilizá-las.

Se comparado ao dólar, o real também perdeu bastante valor. A moeda dos Estados Unidos disparou de lá para cá: o dólar custava cerca de R$ 1,80 em 2010, e hoje vale mais de R$ 5. Ou seja, Marcelo Dourado, campeão do "BBB 10", poderia comprar mais de US$ 833 mil com seu prêmio. Agora, R$ 1,5 milhão vale menos de US$ 300 mil.

COMO PROTEGER O DINHEIRO DA INFLAÇÃO

“A perda do poder de compra do consumidor é bastante evidente. Mas há algumas formas de proteger o dinheiro da inflação. Neste caso, o que o vencedor do programa poderia fazer seria guardar o dinheiro em títulos que rendam acima do IPCA e paguem juros adicionais", explicou Araújo.

Algumas opções de títulos do Tesouro são corrigidas pela inflação e ainda pagam 4% de juros ao ano. Se o ganhador sacasse somente esses 4% de rendimento, conseguiria manter seu dinheiro sem prejuízos. Além dessa modalidade, o consumidor também poderia optar, por exemplo, por CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que é um título oferecido por bancos para captação de fundos e rende juros superiores à poupança.

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Por outro lado, se o ganhador do BBB 21 decidisse não gastar o dinheiro e colocá-lo todo na poupança, o seu R$ 1,5 milhão acabaria perdendo parte do valor para a inflação. Em um ano, a grana teria o rendimento próximo de R$ 28,8 mil. O rendimento da caderneta é calculado com 70% da taxa Selic, somado a Taxa Referencial (TR), que atualmente está zerada. Como a Selic está em 2,75% ao ano, a poupança está rendendo 1,92% ao ano. A inflação projetada para o ano, entretanto, já gira em torno de 5%.

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