Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 21:12
Quem tem o costume de passar cedinho por ruas como a Avenida Beira-Mar, Praça do Papa e César Hilal, em Vitória, já deve ter visto uma "mini-padaria" nas calçadas de alguns pontos dessas localidades. E não é seu sono matinal que está fazendo você sonhar com comida enquanto se dirige para seus compromissos diários. Realmente há pessoas que estão ali, com café quentinho, pão, leite, biscoito, bolos e tantas outras delícias esperando para garantir o desjejum dos clientes.
São pessoas comuns, que viram neste tipo de trabalho, uma forma de escapar do desemprego e garantir um aumento no salário ou a própria renda da família.
Baiana de Teixeira de Freitas, que mora há 17 anos no Espírito Santo, Val Ferreira está há uma década servindo com muito entusiasmo e gentileza seu cafezinho em frente ao Palácio do Café. Val já conquistou sua clientela, que reconhece o apreço na preparação dos alimentos e responde com uma demanda elevada pelo café dela.
"Estou há dez anos nesse ponto. Já tenho clientela fixa, que vem, pega o cafezinho e vai trabalhar. Alguns, quando têm tempo, batem papo. A maioria das pessoas que compra comigo leva, não consome aqui. Nós temos tampinha nos copos para facilitar o transporte, se preferirem."
Eu procuro sempre trazer uma coisinha diferente, mas pão caseiro, pão com manteiga, pão recheado, rosquinha e bolos eu sempre trago. Às vezes tem pizza, tem empadão. Tem café com leite, café puro e achocolatado."
Para Val, além de trabalhar com algo que ela tem prazer, já que gosta de cozinhar, ela consegue fazer tudo em casa e não precisa ficar longe dos quatro filhos, podendo conciliar seus afazeres com a educação dos meninos.
"Vender cafezinho virou a minha fonte de renda. O meu principal objetivo era criar meus quatro filhos e, com esse trabalho, eu consigo vir aqui cedo, vender e voltar para casa. Lá eu faço as quitandas para o próximo dia, mas ao mesmo tempo estou ali juntos dos meus filhos, ajudando nos deveres escolares, educando mesmo. Isso para mim é o mais importante."
BOLO DE BANANA CAMPEÃO DE VENDAS
A baiana conta que, com as vendas, conseguiu equipar a cozinha para atender melhor suas demandas no trabalho, fez reformas em casa e consegue ainda viajar com o marido e filhos nas férias e feriados.
"Ou vamos para alguma pousada, ou acampamos, vamos para São Paulo, para Bahia. Chego a tirar uns R$ 2 mil livre. O mais importante é que amo cozinhar e consigo conciliar o trabalho com a educação dos meus filhos". Val Ferreira fica de 6h30 às 8h30 com sua barraquinha de café em frente à Praça do Papa.
A suporte de atendimento Raiany Ribeiro está trabalhando perto de onde Val fica com suas quitandas. Então sempre que desce do ônibus, no ponto em frente à banquinha da Val, a cliente pega seu lanchinho e segue para sua jornada na empresa.
"Primeiramente eu compro porque é gostoso. E é muito prático. Só descer do ônibus, passar aqui rapinho, pegar e ir para o trabalho. Evito de ter que andar até uma padaria e ganho tempo em casa também, porque não preciso acordar tão cedo para fazer meu próprio café".
E é tudo bem baratinho, que cabe no bolso do consumidor. "Tem pãozinho de R$ 2, de R$2,50 e os outros são R$ 4. O café eu gosto de colocar bem baratinho. Tem de R$ 0,50 E R$ 1. Porque é uma forma de chamar as pessoas. Elas pararam para pegar um cafezinho, vêm os produtos, e acabam comprando", acrescenta Val.
CAFEZINHO PARA AJUDAR NA RENDA FAMILIAR
Toda terça e quinta-feira, perto da prefeitura de Vitória, a aposentada Maria Antônia Oliveira, de 62 anos, leva pães, bolos, empadão e torta de pote para vender. Dona Antônia está ali há cinco anos e já é conhecida do pessoal que transita pela região.
"Sou aposentada com um salário mínimo, então não dá para sobreviver só com esse dinheiro. Aí a gente faz essas quitandas. Todo mundo lá em casa ajuda. A gente fica nesse ponto e fica na Praia do Suá também. Somos da Serra e depois que a gente sai daqui, a gente passa em alguns bairros para fazer entrega de bolos e pães também".
A poucos metros de dona Maria Antônia está outra empreendedora, a dona Maria da Penha. Sem aposentadoria, ela vê na venda do cafezinho uma forma de garantir um dinheiro para "tocar a vida". Na banquinha dela também tem balas e guloseimas para a garotada.
"Não estou aqui para prejudicar a venda de ninguém. Só quero um espacinho para mim. Acordo às 3h da manhã para deixar tudo prontinho e chegar aqui por volta das 5h30. Vendo café, pão, bolo e biscoitos, chips. Tenho um chá de amendoim que as pessoas gostam muito. Trago suco, café, leite e achocolatado também."
CAFEZINHO NÃO É APENAS UMA ATIVIDADE FEMININA
E quem pensa que esse é um trabalho que emprega apenas mulheres se engana. O pedreiro Valdeci Pereira, de 37 anos, bate ponto de terça a sexta-feira em frente ao prédio da Sedu. E é ele junto da esposa, que prepara os quitutes. Valdeci explica que a procura oscila, mas que, em início de mês, ele consegue vender bem. O campeão de vendas, o pãozinho, custa apenas R$ 2,00.
"De terça a sexta-feira eu chego aqui por volta das 5h30 da manhã e fico até as 9h. Minha esposa trabalha aqui perto, a gente vem, ela vai para o trabalho dela e eu fico aqui. Já tivemos um tempo de vendas melhores, mas hoje em dia todo mundo está reclamando um pouco do comércio. Mas, mesmo assim, o pessoal que já é freguês está sempre consumindo. Tem bolo de milho verde, pão, rosquinha e até bolinho de chuva", enumera.
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