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Publicado em 22 de julho de 2025 às 19:29
“Médicos não vão falar em milagre, mas eu falo. A história dele daria um filme”. A fala é de Evandro Doriquetto, 38 anos, que, nesta terça-feira (22), viu o filho Enrico, de 1 ano e 2 meses, deixar um hospital em Vitória após 18 dias de internação, duas cirurgias, dois episódios de convulsão e 24 paradas cardíacas. O bebê, que chegou a ser considerado morto, foi liberado para ir para casa sem qualquer indício de sequelas. >
Enrico nasceu com CIA (Comunicação Interatrial) e CIV (Comunicação Interventricular), cardiopatias congênitas que deveriam ser operadas até os dois anos de idade. Entretanto, foi após a cirurgia, ocorrida no último dia 4, que a situação se agravou.>
“Foi tudo bem inicialmente. Um dos riscos era ter que colocar marca-passo, mas deu tudo certo com a cirurgia, não precisou”, contou o pai.>
Não houve intercorrências até a tarde de domingo (6). Enrico estava acordado, se alimentando e, segundo o médico, se permanecesse como estava, havia chances de alta na semana seguinte.>
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“No domingo (6), eu estava lá (no hospital) de manhã cedo, ele almoçou comigo, mas, depois, foi só por água abaixo. Do nada, ele teve uma crise convulsiva e teve a primeira parada cardíaca. No intervalo entre 12h40 e 15h30, foram quatro paradas. Ele era reanimado, voltava, passava meia hora e parava de novo.”>
Segundo Evandro, após a equipe conseguir estabilizar o quadro de Enrico, o bebê foi entubado temporariamente. No dia seguinte, removeriam o tubo para fazer uma ressonância magnética, que poderia ajudar a entender a causa do problema. Entretanto, entre 20 e 22 horas, o bebê teve quase dez paradas cardíacas.>
O quadro de saúde de Enrico passou a ser considerado grave, mas, novamente, a equipe conseguiu estabilizá-lo por algumas horas.>
“Depois que deu meia-noite, com Enrico lá intubado, a gente de olho no painel, foram mais dez paradas até 3h33. E eu vendo aquilo, presenciando tudo, a médica dando o máximo que podia… Na última parada, foram 5 minutos (sem batimentos), e era muito remédio que aplicavam, muita injeção de adrenalina… Minha esposa, Eliza, já estava do lado de fora, não aguentava mais.”>
Evandro Doriquetto
Pai de EnricoCom o bebê considerado morto, Evandro foi questionado sobre como a família desejava proceder: se o corpo seria enviado a Cachoeiro de Itapemirim, onde residem, para o enterro, ou se queriam que fosse feita uma autópsia. A segunda opção acabou sendo escolhida, para que descobrissem exatamente o que havia causado a morte de Enrico.>
“A médica falou que, nesse caso, tinha que remover (o corpo) como estava, com tudo que estava, que ela só ia tirar o tubo enquanto aguardávamos o IML chegar. Estávamos desesperados. Minha esposa ficou com ele para se despedir, ficou com ele no colo, e eu desci. Fiquei lá embaixo em prantos, no luto, por mais de uma hora. Aí subi para me despedir porque o IML ia chegar e eu não ia vê-lo mais.>
Evandro
Pai de EnricoO tubo foi recolocado e, com o bebê ainda sendo segurado pela mãe, os batimentos começaram a subir, de 34 batidas por minuto, para 62. Após exames, identificaram que havia um bloqueio, que poderia ser solucionado com um aparelho de marca-passo. >
“Foi uma correria. Colocaram um temporário (externo) e, quando ligaram, os batimentos foram para 125. O médico que fez a primeira cirurgia explicou que ele ia precisar de outra operação para colocar (o definitivo), mas tinha grandes riscos de o Enrico não sobreviver, por conta de tudo que ele já tinha passado. Mas eu falei: ele estava morto e (agora) não está, então pode operar.”>
Evandro
Pai de EnricoEnrico abriu os olhos no domingo seguinte, 13 de julho. Ao longo da semana, o menino havia passado a lutar contra a sedação, e tentava expulsar o tubo, mesmo o momento ainda não sendo considerado ideal para isso. >
“Ele lutava tanto para acordar que rasgou o tubo na boca. A médica chegou a considerar remover e colocar outro, o medo era uma nova parada, mas a equipe entendeu que, se o corpo dele estava tentando expulsar, a hora era aquela. E quando ele foi tirado do tubo, respirou sozinho, sem nada.”>
Uma máscara de oxigênio passou a ser colocada durante a noite, para poupá-lo, entretanto, durante o dia, Enrico respirava sem qualquer auxílio. Na última quarta-feira (16), deixou a UTI e foi levado para o quarto. Exames neurológicos foram feitos, em busca de sequelas, mas nenhum problema foi encontrado.>
“O medo da equipe era como ele ia reagir depois de tudo que passou, mas foram feitos exames e ele estava – está – perfeito. Inclusive, quando saiu da sedação, já pegou e botou a chupeta na boca, olhou e pediu mamadeira. Ele não fala ainda, mas pediu do jeito que ele consegue. Os médicos falaram que podia dar, para ver se ele ia conseguir puxar, porque geralmente não conseguem puxar quando ficam tanto tempo sedados, mas ele já aceitou. Disseram que nunca viram nada como isso.”>
Enrico teve alta médica na tarde desta terça (22), e o tão aguardado retorno para casa, em Cachoeiro de Itapemirim, acontecerá na quarta-feira (23). >
“Ainda vai ter que tomar alguns cuidados, foi recomendado fazer fisioterapia pelo menos um mês, consultar com fonoaudiólogo, e continuar a rotina que já tinha em casa… brincar, tudo mais que fazia. O médico explicou que, quando a pessoa fica entubada muito tempo, é como se apagasse. Não vou dizer que ele está 100% porque está traumatizado, mas ele está ótimo. Eles não falam que é milagre, mas eu falo. É isso que foi.”>
Em nota, a Unimed Vitória, em cujo hospital Enrico estava internado, confirmou a alta da criança e declarou que, "no tempo em que esteve internado, o paciente recebeu toda a assistência necessária, com tratamento conduzido conforme os protocolos médicos e as diretrizes dos órgãos reguladores. A cooperativa reforça seu compromisso com a qualidade e a segurança no atendimento.">
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