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Hepatite B: casos crescem no ES e transmissão de mãe para bebê preocupa

Hepatite B: casos crescem no ES e transmissão de mãe para bebê preocupa

Dos 16.333 casos de hepatites virais diagnosticados no Estado, cerca de 54% são do tipo B; entre 2007 e 2021, 475 gestantes apresentaram a infecção

Publicado em 4 de agosto de 2022 às 08:05

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Maria Fernanda Conti
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Seguindo uma tendência histórica, as infecções pela hepatite B (HBV) ainda são maioria no Espírito Santo. Dos 185 casos de hepatites virais confirmados no primeiro semestre de 2022, 127 (68%) são do tipo B, conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). No mesmo período do ano passado, foram registrados apenas 57 casos dessa variação. Sem cura, a doença é silenciosa e pode ser fatal.

Hepatite B - casos crescem no ES e transmissão de mãe para bebê preocupa

Uma das explicações para esse número tão expressivo está nas mulheres gestantes. Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) apontaram que a transmissão vertical, aquela que passa da mãe para o bebê, é a principal responsável pelos casos da HBV no Estado.

Mulher grávida com as mãos na barriga
Mulheres grávidas devem ter um pré-natal de qualidade para evitar os riscos da doença. (shutterstock)

Para a pesquisa, foram observados 587 portadores crônicos de hepatite B tratados pelo Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam). Desse total, 215 pacientes tinham como forma de transmissão mais provável a vertical, o equivalente a 36,6%. Por contato sexual, havia 41 infectados; por via sanguínea, 21; intrafamiliar (entre membros da mesma família, sem necessariamente envolver a mãe), 115; e, por motivos desconhecidos, 195.

Professora do Departamento de Clínica Médica da Ufes e uma das responsáveis pela pesquisa, Tânia Queiroz Reuter explica que essa alta incidência pode ser explicada pelo acesso precários aos serviços de saúde - especialmente durante o pré-natal - ou até mesmo devido à falta de informação. 

Há mulheres, por exemplo, que só descobrem que são portadoras da doença após o nascimento da criança, conforme aponta a professora. A transmissão vertical pode ocorrer durante a gestação, no momento do parto ou pela amamentação.

"O Estado tem uma prevalência acima da média nacional, assim como ocorre em áreas do Paraná, de Santa Catarina e da Região Amazônica. A prevalência do Brasil é de 0,5% e a do Espírito Santo parece ser de 1,8% a 2%", destaca. O estudo avaliou o comportamento da doença por mais de 10 anos, entre 2005 e 2017.

De acordo com a Sesa, entre os anos de 1999 e 2021, foram confirmados 16.333 casos de hepatites virais no Espírito Santo. Desse total, 2.653 casos (16%) foram causados pelo vírus da hepatite A, 8.852 casos (54%) pelo da hepatite B e 4.828 casos (30%) pelo vírus do tipo C.

Em relação aos casos de HBV em gestantes, foi confirmado um total de 475 casos no Estado de 2007 a 2021. Os municípios com maior taxa de detecção desse vírus no ano passado foram Jaguaré, Linhares, Aracruz, Guarapari e Serra.

"A hepatite A não é transmitida para o bebê. Já o vírus da C pode contaminar o bebê de forma vertical, mas isso é bem menos frequente. A hepatite B, por sua vez, tem uma transmissibilidade bem superior à da A e à da C. Por ser mais transmissível, ela representa um problema de saúde pública mais sério", afirma Tânia.

O QUE É A HEPATITE B E SINTOMAS

De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado. Quando ela acomete o órgão de forma grave, algumas funções vitais do corpo ficam comprometidas, como o processo de digestão e a eliminação de toxinas no sangue.

Os sintomas costumam se manifestar somente em fases mais avançadas da doença. Alguns dos principais são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre e dor abdominal. No caso da hepatite B, também há a presença da icterícia, mas em menor quantidade se comparado com os demais tipos.

8.852 casos
de hepatite B (54%) foram detectados no Estado, entre 1999 e 2021

"Em questão de gravidade, tanto o vírus B quanto o C evoluem para cirrose. O que a HBV tem de mais caprichosa é que pode causar um câncer no fígado em qualquer fase da doença, diferentemente do tipo C. Ela também é mais infecciosa. Acredita-se que tenhamos 270 milhões de pessoas infectadas pela hepatite B no mundo", estima a professora.

Outras formas importantes de transmissão da HBV, além da vertical, são: através da transfusão de sangue, de relações sexuais sem uso de preservativos ou de forma percutânea (quando um sangue infectado contamina outro saudável).

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Apesar de ainda não existir cura, esse tipo de hepatite pode ser prevenido. A vacinação, conforme explica Reuter, é a principal forma de controlar a disseminação da doença. Os imunizantes são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a contaminação pode ser evitada se a mulher tomar a vacina antes de engravidar ou a partir do último trimestre de gestação.

"O Espírito Santo começou a vacinar contra a hepatite B cerca de um ano e meio antes do País, reconhecendo que temos uma prevalência acima do esperado. A vacinação tem sido disponibilizada para todas as crianças nascidas desde 1993 no Estado e desde 1995 no Brasil. Quando o Espírito Santo completou 20 anos de vacinação, foi feita uma pesquisa que demostrou que o vírus já era bem menos prevalente em pessoas abaixo dos 20 anos de idade", salienta.

Um pré-natal de qualidade e a testagem das mulheres grávidas também é fundamental para impedir a transmissão vertical. "É importante ainda incentivar a testagem de qualquer indivíduo acima dos 35 anos, que é quando começamos a ter uma grande soropositividade para as hepatites B e C", orienta.

Sobre o tratamento, a médica detalha que costuma ser realizado com antivirais específicos. Mas, em alguns casos, é preciso apenas que o paciente fique em repouso, mantenha-se hidratado e siga uma dieta específica para ajudar a recuperar o fígado.

"O tratamento da gestante é o mesmo para a não-gestantes. O governo federal disponibiliza antivirais desde 2002, quando saiu o primeiro programa de hepatites virais. Desde então, o Brasil oferece medicação gratuita para mulheres, gestantes ou não. A diferença está apenas no manejo dessa mulher grávida. São medidas diferentes, não drogas diferentes", pontua.

Confira as principais formas de transmissão das hepatites B e C e como elas afetam o organismo
Hepatites B e C: formas de transmissão e como afetam o organismo. (Felipe Damasceno)

OUTROS TIPOS VIRAIS

As hepatites virais mais comuns, além da B, são a A e a C. Segundo o infectologista Lauro Pinto, o tipo A acomete mais pessoas em ambientes sem saneamento básico e é transmitido via fecal-oral. As do tipo B, por sua vez, podem ser transmitidas de mãe para filho(a), mas também são recorrentes em casos de contato com material sanguíneo infectado.

Os tipos C e D se caracterizam sobretudo pela transmissão após o compartilhamento de seringas. A hepatite D, no entanto, traz o diferencial de ser encontrada somente na Região Amazônica do País e de ser um "acessório" da variante B — ou seja, só existe se o paciente também possuir o outro vírus.

Já a hepatite E é raramente diagnosticada no Brasil e possui relação com a má preparação da carne de porco, conforme afirma o especialista.

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