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Criança feliz e sem doce: a garotada do ES que não come nada com açúcar

Criança feliz e sem doce: a garotada do ES que não come nada com açúcar

A restrição de ingrediente é indicada para crianças até dois anos; depois, fica a cargo do responsável a decisão de manter a alimentação sem doces

Publicado em 22 de outubro de 2023 às 08:12

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura
Júlio Balesttrero e Renata Machado com a filha Elisa. Entrevista sobre alimentação infantil
Julio Balestrero e Renata Machado com a filha Elisa, que não come açúcar . (Vitor Jubini)
Mikaella Mozer
Repórter / [email protected]

Quando a família de Julio Balestrero sai de casa, a bolsa é preenchida com frutas e alimentos sem açúcar industrial. Isso porque ele e a mulher, Renata Machado, evitam consumir comidas doces para levar um estilo de vida mais saudável e estendem o hábito à filha, Elisa Balestrero, de 2 anos.

A opção do casal de restringir o ingrediente na alimentação da menina vai até além da indicação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), cuja orientação é de que isso ocorra, preferencialmente, até os 2 anos. Mas os pais já definiram que vão continuar até quando puderem. 

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Eu e minha esposa já não temos o hábito de ter doces em casa. É mais pela saúde mesmo. Decidimos passar esse estilo a nossa pequena para ela ter essa referência

Julio Balestrero
Corretor e economista
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Nas prateleiras da residência da família, além da ausência do açúcar, não há também farinha branca. Isso porque o produto vira carboidrato no organismo, após a transformação no sistema digestivo. A intenção dos pais é incentivar a filha a ter mais vontade de consumir outros alimentos ao doce à medida que for crescendo. 

Para isso, eles pensam em alimentos que caibam no dia a dia dos três, para que consigam manter a rotina sem açúcar o máximo possível, dentro e fora de casa. Em vez de comprar sorvete industrializado, por exemplo, eles fazem receita de picolé de banana, abacate, sucos naturais e preparam os próprios lanches.

"Claro que temos um pãozinho integral. Não somos extremos, mas evitamos tudo ao máximo. Uma vez, a nossa ajudante do lar pediu açúcar e vimos que não tinha nem na prateleira. O açúcar tem vício igual cocaína e tem grau de dependência. Então, quanto mais conseguirmos nos desvencilhar, melhor", observa Julio. 

Mas todo o cenário é construído com cuidado. O planejamento é sempre colocar nas refeições tudo o que Elisa precisa para se desenvolver durante a primeira infância — período entre zero e 6 anos. “Temos consciência e conhecimento, já que há anos temos esse estilo de vida em casa. Mas vamos também a uma nutricionista, que corrobora com as decisões”, ressalta a advogada Renata.

Nada de doce
A dentista Natália Muniz se preocupa em aprender receitas saudáveis para oferecer às filhas Maria Cecília e Laura. (Carlos Alberto Silva)

Na casa da dentista Natália Maria Amaral Muniz, mãe de Maria Cecília, de 3 anos e 5 meses, e Laura, de 2 anos e 1 mês, a decisão foi por evitar o consumo de açúcar pelas crianças até que a caçula completasse a idade mínima recomendável para a introdução do alimento, conforme preconiza a Sociedade de Pediatria e o Ministério da Saúde. 

Então, quando Laura completou dois anos, foi a primeira vez que os pais ofereceram um produto com açúcar, inclusive para Maria Cecília.  “Meu marido tinha o sonho de dar picolé para as meninas. A mais velha não gostou e se irritou com a sujeira, já a mais nova gostou e ainda quis mais”, conta Natália.

O período mais longo sem o consumo de açúcar tornou Maria Cecília menos propensa a comer produtos açucarados. A mãe diz que, além de não ter interesse nenhum por doce, a filha questiona se é saudável e se tem açúcar quando alguém lhe oferece qualquer tipo de comida. Mesmo para festas de aniversários, Natália prepara comidinhas para levar porque a mais velha também não gosta de frituras e salgadinhos.

“Eu não proíbo nada, mas ensino que elas precisam comer coisas saudáveis, falo que elas vão comer igual à mamãe. Então, eu estou sempre aprendendo receitas novas que são saudáveis, como bolos, biscoitos e sempre sem açúcar industrializado”, afirma Natália.

Karina Chagas Ribet Nobre, Enfermeira. Mãe da Júlia de 1 ano e 2 meses
Da área da saúde, Karina Nobre se preocupa com o bem-estar da filha Júlia . (Acervo pessoal)

Quem segue o mesmo caminho é a enfermeira Karina Chagas Ribet Nobre.  Por ser da área de saúde, ela admite que se preocupa bastante com o bem-estar da filha Júlia, de 1 ano e 2 meses. 

“Sou da área materno-infantil. Estudando sobre o assunto, encontrei vários estudos que mostram que o hábito de comer doce influencia o desenvolvimento de diabetes, hipertensão e obesidade. Pelo bem dela, busco priorizar uma alimentação saudável. Falo também para outros membros da família não darem doce. Faço questão de explicar que não faz bem para ela", conta Karina.

Halane Sperandio Belei, Bancária, 36 anos, mãe da Maria Sofia Sperandio Belei  de 1 ano e 5 meses
Halane Sperandio Belei, mãe da Maria Sofia, observa que, antes dos dois anos, a criança ainda está desenvolvendo o paladar. (Acervo pessoal)

Esse mesmo cuidado tem a bancária Halane Sperandio Belei com a filha Maria Sofia, de 1 ano e 5 meses. Ela conta que já avisou os avós sobre a importância de evitar dar alimentos com açúcar para a menina.

“Segundo o Ministério da Saúde, é recomendável que a gente não forneça alimentos com açúcar para ela até os dois anos. Eu sigo isso porque o bebê ainda está desenvolvendo o paladar, começou a introdução alimentar. Também não ofereço para evitar doenças. Minha família sabe disso. Os avós até tentam. Falam que vai aguar, passar vontade… Mas a gente se impõe porque, se depender dos outros, não dá certo. Todo mundo acha que é bobeira", relata Halane.

Influenciadora levantou debate

Maíra Cardi ressalta que a filha Sophia não sente falta de açúcar porque nunca provou. (Instagram/@mairacardi)

A restrição de alimentos doces na dieta das crianças ganhou repercussão — e levantou debate nas redes sociais — no final de setembro, quando a empresária e influenciadora Maíra Cardi falou sobre a alimentação de Sophia, sua filha de 4 anos com Arthur Aguiar. A menina nunca consumiu o ingrediente e, por isso, segundo a mãe, não pode sentir falta do que nunca provou.

"A minha filha nunca consumiu. Ela não tem vontade. Sophia não sente falta e as pessoas falam ‘ai, tadinha, você nunca vai dar para ela?’ Da mesma maneira que você não daria bebida para seu filho porque tem consciência que faz mal, tenho consciência que açúcar é bom, mas faz mal. Ninguém sente falta do que não conhece. A minha filha não sente falta do açúcar porque ela não sabe como é", argumenta Maíra.

E justamente para evitar que o bem-estar e o crescimento infantil sejam afetados, além de contribuir para um bom relacionamento da criança com a comida, é que o acompanhamento de um nutricionista ou de outro profissional da área da saúde é indicado.

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Os hábitos alimentares e costumes de cada família devem ser respeitados, desde que não afetem a saúde da criança. O acompanhamento com o nutricionista é fundamental

Cristina Corrêa
Pediatra e neonatologista
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Restrição sem proibição

Quando vão a um aniversário, Julio e Renata levam, de casa, um pedaço de bolo para Elisa não deixar de comer devido à restrição ao açúcar. Entre uma brincadeira e outra, ela se alimenta — às vezes, sem perceber que não é o bolo da festa.

Apesar de as comidas doces não fazerem parte da vida da filha, os pais também não entram em “paranoia”, caso ela consuma algo com açúcar. A preocupação maior é evitar, ao máximo, a ligação forte com o carboidrato cristalizado.

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A gente não tem criação limitada de ‘não pode’, porque existem casos e procuramos moldar. Se alguma criança colocar o doce na boca dela, por exemplo, não vamos tomar. De forma lúdica, mostramos o que ela pode e não pode

Julio Balestrero
Economista e corretor
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Os dois buscam sempre explicar os motivos de a pequena não se alimentar de coisas mais doces. A intenção é, de acordo com Renata, não “inventar a roda” em relação ao que ela consome, mas instruir. Tanto que eles ficam felizes por, nos momentos em que a filha ter tido contato com doce, não ter aprovado. “A impressão que eu tenho é que ela acha estranho o que foge da rotina. Quando comeu, não pediu para repetir”, lembra Renata.

É prejudicial?

Não comer açúcar já se tornou hábito na família, porém há quem critique. Mas existem malefícios em não oferecer doces na infância? A pediatra Sara Vailaint explica que não ter contato desde o início da vida não traz consequências negativas.

Isso porque a microbiota intestinal pode ser afetada pelo excesso de açúcar e desregular e atrapalhar o metabolismo do corpo. Além disso, o excesso de açúcar leva o corpo a não conseguir absorver as vitaminas da forma correta.

Diabetes, obesidade e outras doenças são consequências também de uma quantidade de açúcar não controlada no corpo. Ainda que a tendência seja privar de alimentos doces a partir do nascimento, a mudança pode começar já durante a gestação. Ou seja, restringir não traz malefício, porém, quem não quiser seguir essa linha, pode buscar balancear o nível de açúcar ingerido. 

“O paladar é formado desde a barriga da mãe, e o que ela consome vai formando o paladar da criança desde o segundo trimestre da gravidez. Uma mãe que consumiu muito chocolate, por exemplo, o filho tende a ter preferência por adocicados, porque o líquido amniótico muda de sabor de acordo com o que a gente come”, explica Sara Vaillant. 

E a especialista acrescenta: “O consumo do açúcar causa dependência como se fosse uma droga, e quando começamos a suspender o uso do açúcar, entramos em uma fase até de uma abstinência, uma crise. Alteração do humor, do sono. Quando tiramos o açúcar, depois de duas a três semanas é que o corpo começa a aceitar. Quem não tem o hábito de comer, não tem isso.”

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