Samantha Dias e Siumara Gonçalves
Queijos, doces, linguiças, iogurte, carne de sol, socol... Não dá para negar que a agroindústria capixaba capricha na hora de preparar essas e outras delícias. Petiscos, aliás, que atraem para as propriedades rurais oportunidades também no agroturismo.
Um diagnóstico feito pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) apontou que o Espírito Santo tem pelo menos 1.600 agroindústrias. Essas produções contam um pouco da cultura de comunidades, encantando visitantes com o sabor e também com a história.
O coordenador de Agroindústria e Empreendedorismo Rural da Secretaria de Estado de Agricultura (Seag), Jackson Fernandes de Freitas, explica que a agropecuária capixaba é bem diversificada. “É possível perceber as variações das potencialidades de cada localidade. Esses produtos se relacionam muito com a cultura e história desses municípios.”
Ele conta que, ao Norte do Estado, podemos encontrar a carne de sol (em Montanha, Ponto Belo, Pinheiros e Pedro Canário). Já descendo um pouco, em Linhares e Colatina, temos a bacia leiteira, com a produção de queijo. Seguindo, ainda ao norte do mapa, percebemos uma produção mais expressiva de queijo em João Neiva, Aracruz e Fundão.
“Na Região Serrana, temos Santa Teresa, Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante e Santa Maria do Jetibá com a produção de queijos e embutidos (linguiças, salame e socol). Muitos desses produtos têm como referência os imigrantes pomeranos, alemães e italianos. No Sul, temos o Caparaó, também com seus queijos. Já a produção do mel se espalha pelo Estado, mas com boa concentração na Região Norte”, observa.
O agronegócio absorve 33% da mão de obra no Espírito Santo e é responsável por 30% do PIB Estadual. É a atividade econômica mais importante em 80% dos 78 municípios capixabas. O setor engloba desde a produção agropecuária e extrativa não-mineral até as atividades de transporte, comércio e serviços ligados à distribuição.z
TRANSFORMAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS AGREGA VALOR AO AGRO
A família de Vanildo Pagio é mais uma das milhares que trabalham com produção cafeeira no Espírito Santo. Desde pequeno, com o pai, ele aprendeu o manejo da cultura. Hoje, o capixaba de 50 anos possui duas propriedades - uma em Brejetuba e outra em Conceição do Castelo - que, juntas, têm aproximadamente 80 mil plantas de café. De lá, saem, por ano, cerca de 250 sacas de grãos de cereja descascados com nota superior a 80 pontos para a linha de café especial, que é comercializada pela Buaiz Alimentos.
Vanildo conta que, apesar da trajetória familiar de décadas de comercialização de café, foi somente a partir de 2015 que ele estabeleceu parceria com uma das indústrias de alimentos e bebidas do Estado. Satisfeito, ele vê vantagens para ambos os lados nessa integração.
“Tenho garantia de compra. Sei que a indústria vai ficar com parte da minha produção, então é uma segurança. E o preço não é engessado, conseguimos negociar de acordo com o valor de mercado. Por outro lado, para a indústria, é uma garantia do padrão de qualidade do produto”, comentou Vanildo.
O café especial - cereja descascado com nota superior a 80 pontos - cultivado por Vanildo é utilizado para a produção do Café Numero Um Expresso Gourmet. Segundo a diretora-geral e vice-presidente da empresa, Eduarda Buaiz, o produto é produzido a partir de grãos selecionados exclusivamente no Espírito Santo. “Faz parte da cultura da Buaiz Alimentos acreditar, apostar e investir nos produtores locais”, disse.
As atividades das indústrias de alimentos e bebidas têm sido importantes para fortalecer a agropecuária, gerar produtos com valor agregado e movimentar a economia capixaba.
O setor agroalimentar - que inclui produção, transformação e distribuição dos produtos de alimentos e bebidas - está presente nos 78 municípios capixabas. São mais de 1.200 empresas, que empregam mais de 24 mil pessoas, segundo informações do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies).
O produtor de leite Fioravante Cypriano, de 36 anos, concorda com Vanildo Pagio sobre a garantia do padrão de qualidade ser uma das principais vantagens da industrialização. Desde 2010, Fioravante é cooperado da Selita, em Cachoeiro de Itapemirim.
“A indústria agrega valor e beneficia o produto cru, no meu caso o leite, proporcionando garantia do padrão de qualidade ao consumidor”, opina.
A Selita é uma cooperativa que tem cerca de 1.700 associados, sendo que 70% são pequenos produtores.
Na avaliação do presidente do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), Leonardo Monteiro, as indústrias de alimentos do Estado têm como vantagens disponibilidade de matéria-prima de qualidade e mercado ativo. Já os produtores locais, ainda na opinião de Monteiro, se beneficiam da proximidade geográfica das empresas.
No caso da Selita, por se tratar de uma cooperativa, Fioravante aponta outras vantagens: “Quando o produtor escolhe vender sua produção através de uma indústria cooperativista, além de ganhar na venda da matéria-prima, também recebe lucros sobre a industrialização e comercialização. Com a cooperativa, o produtor ganha do campo até a prateleira do supermercado”.
O presidente da Câmara Setorial das Indústrias de Alimentos e Bebidas da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Vladimir Rossi, explica o significado de Valor da Transformação Industrial (VTI), que calcula em valores monetários o beneficiamento da produção de alimentos e bebidas pela indústria.
O VTI da indústria de fabricação de produtos alimentícios no Espírito Santo, em 2019 (informação mais recente disponível), foi de R$ 2,03 bilhões, e o da fabricação de bebidas, de R$ 44 milhões, segundo informações da Pesquisa Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2007, esse VTI representava 5,9% da participação na indústria total do Espírito Santo. Em 2017, essa participação subiu para 9,6%.
Vladimir Rossi acredita que o Espírito Santo, apesar de territorialmente pequeno, tem conseguido se destacar com produtos diferenciados a partir do beneficiamento e da diversificação de produtos, juntamente com o fortalecimento das indústrias do setor agroalimentar.
“Por aqui, temos produções de excelência. Um dos exemplos é o Café do Jacu, que é diferenciado. O Espírito Santo precisa, ainda mais, agregar valor ao produto, fazer um produto de excelência e ser referência, já que sua extensão territorial não é grande como outros Estados que cultivam muitas variedades”, aponta.
O valor do quilo do Café do Jacu, citado por ele, cultivado em Domingos Martins, na Fazenda Camocim, chega a quase R$ 1 mil. Exótica, a bebida é feita a partir das fezes de uma ave típica da Mata Atlântica, a Penelope obscura, popularmente conhecida como Jacuaçu.
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