Publicado em 28 de outubro de 2021 às 20:07
Anelice Sena>
Os indígenas das etnias Tupiniquim e Guarani, do município de Aracruz, norte do Espírito Santo, produzem o mel da abelha nativa uruçu-amarela desde 2012 nas aldeias da região. No início, tudo começou de uma maneira bem tímida, agora são 73 famílias e 1.200 colônias de abelha. Para organizar a produção, o grupo criou uma cooperativa e, por causa da pandemia, passou a oferecer o produto por meio da internet. >
O jovem Warlei Coutinho nasceu e foi criado na aldeia Tupiniquim de Comboios, que fica em Vila do Riacho e é secretário da cooperativa, a Coopyguá. “Essa é uma parte da nossa cultura que a gente sentiu que já estava se perdendo. Foi importante por ter este resgate e pela preservação também do nosso espaço”, disse. >
Warlei acrescenta que, além do resgate cultural, foi possível uma geração de renda fundamental pra quem faz parte do trabalho.>
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Por causa da pandemia, alguns processos na produção do mel tiveram que ser reformulados. O envase, por exemplo, agora acontece apenas com duas pessoas para não gerar aglomeração. Mas trouxe inovação, e, pela primeira vez, os produtos são comercializados em uma loja virtual. >
A indígena Tupiniquim Deuzilene Pego Gonçalves, que é técnica em apicultura, ficou responsável pela migração das vendas para o ambiente virtual. “Veio como uma ferramenta muito importante pra gente conseguir vender a nossa produção", explicou. >
A loja virtual da Coopyguá começou em agosto por causa da necessidade diante da pandemia. "Tivemos dificuldades em escoar a produção passada e estamos tendo um retorno muito bom. Atingir locais também onde a gente não tinha condições de levar o mel. Pessoas pra conhecer a nossa história, o nosso produto”, comemorou. >
A novidade trouxe um recorde: somente neste ano foram 725 quilos de mel produzidos. “As famílias contribuíram muito, participaram dos mutirões, participaram da colheita. Foi muito importante para dar continuidade ao trabalho”, acrescentou Deuzilene. >
“Gostei, que deu uma renda extra e eu gosto de mexer (com a apicultura). Pra mim parece que alivia alguma coisa da mente”, disse dona Deuzedir Pego, também da etnia Tupiniquim, 66 anos e 60 colônias de abelhas em casa. >
Uma empresa de celulose da região é parceira da cooperativa indígena. A consultora de desenvolvimento social da Suzano Papel e Celulose, Vanessa Ronchi, ressalta a importância do resgate cultural, da preservação ambiental e geração de emprego e renda: “Veio do próprio território, das próprias comunidades essa vontade de resgatar essa tradição indígena, que é a meliponicultura".>
O produto feito nas aldeias de Aracruz ultrapassa os limites do município e até mesmo as divisas do Espírito Santo e é comercializado Brasil afora. Chega, por exemplo, em um hotel que fica na rua Oscar Freire, na região dos Jardins, na capital paulistana. O responsável por usar a iguaria produzida nas aldeias capixabas no hotel é o chef de cozinha, Breno Berdu. >
"É um mel mais líquido, menos doce e levemente cítrico", conta. O ingrediente já está presente nos pratos dele há mais de dois anos. “Teve uma cliente que chegou e me falou: ‘Nossa, você me levou lá pra minha infância e assim é um feedback de pessoas que já tiveram contato com esse mel e entendem o resgate”, descreve. >
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