Publicado em 22 de março de 2019 às 22:19
Cinebiografias musicais de ícones do rock estão na moda. Bohemian Rhapsody (o filme do Queen) lotou salas de cinema mundo afora e levou quatro Oscars mesmo com uma produção conturbada e qualidade bem questionável. Além disso, Rocketman, musical sobre o inigualável Elton John, é um dos filmes mais esperados do ano e estreia em 31 de maio. Enquanto isso, se aproveitando do barulho, a Netflix lançou na última sexta-feira (22) The Dirt, cinebiografia de uma das bandas mais marcantes do rock farofa oitentista, o Mötley Crüe.
Baseado no livro homônimo escrito pela banda e pelo jornalista Neil Strauss, The Dirt é dirigido por Jeff Tremaine (dos filmes Jackass) e acompanha a banda, de sua formação, no início dos anos 1980, à decadência causada pelos abusos no final da mesma década.
SEXO, DROGAS & ROCK'N'ROLL
Retrato visual e sonoro da Califórnia dos anos 1980, o Mötley Crüe foi o epítome da trilogia mais famosa da música sexo, drogas e rocknroll e o filme foca justamente nisso. Ao contrário de Bohemian Rhapsody, que alivia muito as festas protagonizadas por Freddie Mercury e cia., The Dirt não hesita em retratar Nikki Sixx (Douglas Booth), Tommy Lee (Machine Gun Kelly), Vince Neil (Daniel Weber) e Mick Mars (Iwan Rheon) como hedonistas ao extremo, focados única e exclusivamente no próprio prazer, mesmo que isso destrua a relação com todos que os cercam.
Assim, Nikki, Tommy, Vince e Mick não são retratados como gênios incompreendidos que cederam às tentações são apenas quatro garotos com a preocupação de se divertir e fazer barulho.
O trabalho de casting, vale ressaltar, é pontual. Quando encontramos o quarteto pela primeira vez já é possível identificar as características de cada um. Nikki é rebelde, inconsequente; Tommy é o boa praça, um fanfarrão; Mick é rabugento, o velho (mesmo que a diferença de idade seja pequena); e Vince é a estrela do rock, o vocalista carismático pronto para festa.
NARRATIVA
The Dirt é narrado pelos integrantes do Mötley Crüe em um bem montado revezamento e com uma ou outra intervenção de outros personagens. Mesmo que Nikki Sixx conduza boa parte da trama com seu crescente vício e sua chegada ao fundo do poço, sobra espaço para dramas particulares dos outros integrantes alguns mais desenvolvidos que outros. Um desconhecimento de acontecimentos históricos da banda deve reforçar ainda mais a sensação do absurdo no espectador.
A diferença de The Dirt para Bohemian Rhapsody (apenas para ficar na comparação com um drama musical recente) é que os integrantes do Mötley Crüe (que também assinam como produtores) se orgulham de seus excessos e construíram toda a carreira em cima deles, sem grandes pretensões artísticas ou um desejo de serem levados a sério.
Como é de praxe em cinebiografias, The Dirt toma diversas liberdades históricas aproximando eventos, encontros, inventando algumas histórias e facilitando outras. O filme também ignora quase tudo o que aconteceu com a banda nos anos 1990 (Tommy Lee e Pamela Anderson, por exemplo) e, claro, alivia a barra de seus biografados em algumas situações; apenas os excessos já conhecidos são retratados. Apesar disso, o filme funciona.
Jeff Tremaine leva sua experiência filmando idiotices em Jackass para The Dirt, um filme cheio de idiotices. O diretor também confere ao filme um estilo ágil e pesado, mas cheio de maquiagem e retoques. Enfim... Jeff Tremaine consegue extrair a essência do Mötley Crüe, uma banda que glamurizou os excessos e se preocupou mais com o estilo do que com o conteúdo, uma banda que pode representar o melhor e o pior do rocknroll.
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