Publicado em 6 de abril de 2021 às 09:03
- Atualizado há 5 anos
Depois da apreensão das fitas contendo todas as músicas gravadas pela Legião Urbana no final do ano passado, a banda ícone do rock de Brasília está no centro de uma nova disputa -agora sobre quem pode usar seu nome. >
O Superior Tribunal de Justiça julga nesta terça-feira o capítulo final de um processo no qual se discute a propriedade da marca Legião Urbana. A ação foi movida pela empresa do herdeiro de Renato Russo, a Legião Urbana Produções Artísticas, que procura reverter uma decisão anterior, favorável aos músicos Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.>
Em 2014, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro impediu que a empresa de Giuliano Manfredini -filho e herdeiro de Renato Russo- proibisse Dado e Bonfá de usarem a marca Legião Urbana, sob pena de multa de R$ 50 mil por cada tentativa. A decisão permitiu aos músicos fazerem turnês comemorativas dos 30 anos dos dois primeiros discos da banda.>
"Não é que eu queira a marca, eu só quero ter o direito de eu ser eu, o cara da Legião Urbana, e tocar as músicas da Legião Urbana num show, em que vai estar lá escrito Dado Villa-Lobos", diz o guitarrista.>
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A marca Legião Urbana foi registrada no Inpi, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em 1987, quando a banda de rock estava no auge do sucesso, vendendo milhões de discos e com todos os seus integrantes vivos. Por um lado, era necessário proteger o nome de fraudes -uma pessoa chegou a registrar o nome Legião Urbana antes do próprio grupo, numa decisão revertida mais tarde pela Justiça-, e por outro lado havia a questão de organizar o fluxo financeiro dos integrantes.>
À época, um contador da gravadora EMI orientou cada um dos músicos a criarem uma empresa própria, na qual os outros membros eram sócios minoritários. Dessa forma, Bonfá criou a Urbana Produções Artísticas, Renato Rocha, a Legião Produções Artísticas, Dado, a Zotz Produções Artísticas, e Renato Russo a Legião Urbana Produções Artísticas. Mas a marca da banda só poderia ser registrada em uma empresa, e foi a de Renato Russo a que prevaleceu.>
Depois da morte do cantor, em 1996, sua família herdou o nome, que coincide com o da banda e também com o título do primeiro disco do grupo.>
"O Dado e o Bonfá não estão questionando a validade do registro. O que eles querem é apenas o direito de fazer menção ao nome da banda que eles ajudaram a fundar", diz Marcelo Goyanes, advogado que representa o baterista e o guitarrista.>
Segundo ele, o registro no Inpi não fez o direito deles de usar a marca morrer.>
Manfredini não quis dar entrevista. Por meio de nota, o advogado da Legião Urbana Produções Artísticas, Guilherme Coelho, afirma que a empresa "é detentora dos direitos da marca Legião Urbana, registrada no Inpi em 1987", que por mais de 30 anos vem arcando com os custos que envolvem a manutenção do nome e que espera que o julgamento confirme uma lei segundo a qual os direitos de uso de uma marca são de uso exclusivo do titular do registro.>
Entre os músicos remanescentes, há um sentimento de injustiça. Tanto Dado quanto Bonfá afirmam se sentir num ponto em que eles não podem subir no palco e tocar as próprias músicas, enquanto bandas covers fazem isso.>
"Eu e o Bonfá, a gente fez a marca, a nossa individualidade é indissociável dessa marca", diz o guitarrista, acrescentando que o próprio Renato Russo falava que a banda era da banda e que o grupo não existiria sem um dos três.>
Segundo o advogado da dupla, a luta é para que o herdeiro não os impeça de usarem o que chama de "referência histórica e cultural". A banda é quase uma extensão da personalidade deles, declara.>
"Eles são vistos na rua como o Dado da Legião, o Bonfá da Legião, porque eles a criaram. É uma coisa que a sociedade reconhece, é maior do que um direito individual, quase um bem cultural coletivo.">
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