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'Não é Renato Russo, é Legião Urbana', diz Dado sobre fitas apreendidas

'Não é Renato Russo, é Legião Urbana', diz Dado sobre fitas apreendidas

Guitarrista do grupo diz não haver inéditas em material retirado pela polícia de galpão e entregue a filho de Renato Russo

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 15:05

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Renato Russo durante show da banda Legião Urbana, no estádio do Parque Antarctica, em 1990
Renato Russo durante show da banda Legião Urbana, no estádio do Parque Antarctica, em 1990. (Adi Leite/Folhapress)

Dado Villa-Lobos chama de "bizarra" e "estranha" a apreensão de 91 ítens da banda da qual foi guitarrista, a Legião Urbana, feita pela Polícia Civil no Rio de Janeiro.

A operação, batizada de Tempo Perdido, aconteceu na quarta (9), num depósito no bairro do Cordovil, na zona norte do Rio, utilizado pela gravadora Universal Music, detentora dos direitos dos fonogramas.

Delegado Titular Demétrio, da Delegacia de Repressão aos Crimes contra propriedade imaterial, apreendeu material inédito de fitas exclusivas de canções de Renato Russo
Delegado Titular Demétrio, da Delegacia de Repressão aos Crimes contra propriedade imaterial, apreendeu material inédito de fitas exclusivas de canções de Renato Russo. (Jorge Hely/FramePhoto/Folhapress)

O músico, que está em Lisboa, diz que as fitas não são apenas de Renato Russo, mas da Legião Urbana, da qual também fez parte o baterista Marcelo Bonfá e o baixista Renato Rocha (morto em 2015). "Não é Renato Russo, é Legião Urbana", diz Dado. "Isso me pertence, pertence ao Bonfá e ao Renato [Rocha]."

O material apreendido - composto por fitas cassete, fitas master e CDs - será entregue a Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo e herdeiro do músico. Segundo sua assessoria, as fitas e CDs estariam extraviadas, sem que ninguém soubesse onde estava.

"O que aconteceu ontem foi que a polícia e a Justiça brasileira invadiram a propriedade privada de uma multinacional chamada Universal Music, uma das maiores do planeta", diz o guitarrista. "Os discos, os fonogramas da Legião até [o disco de 1997] 'Uma Outra Estação' pertencem à companhia de discos, a Universal. E é claro que durante o processo de gravação tiveram sobras, coisas que a gente não usou e que ainda estão lá."

Dado faz uma analogia com a televisão. "Imagine: chega um herdeiro da Janete Clair com um mandado judicial e a polícia civil entra nos arquivos da Globo e fala que quer as fitas de todas as novelas que a Globo já produziu. 'Me dá aí que eu quero botar em casa'. É mais ou menos isso. E os imbecis da Globo não perceberam esse fato. E queria dizer que a responsabilidade plena e total é da Universal Music." O Jornal Nacional, da Globo, em sua edição de quarta (9), apresentou reportagem sobre a apreensão das fitas.

A busca por músicas inéditas de Renato Russo - e, consequentemente - da Legião Urbana já havia sido alvo da operação Será, no final de outubro. Na ocasião, a polícia do Rio disse ter apreendido 30 composições supostamente inéditas de Renato, que estariam em posse do pesquisador e produtor musical Marcelo Froes. Ele teve computador, HDs e celular apreendidos.

Segundo Dado, Froes foi contratado entre o fim dos anos 1990 e o começo dos 2000 pela EMI - depois comprada pela Universal - para digitalizar as fitas da Legião Urbana, incluindo as sobras de estúdio. "De todos os discos, mais de 200 fitas", diz. "É um trabalho pelo qual ele foi remunerado pela companhia de discos. Ele não tem nada a ver com isso. É um material da gravadora."

Dado ainda diz que Froes enviou, na mesma época, diversos CDs com as gravações que ele havia digitalizado para ele e Bonfá, assim como para a família de Renato Russo. De acordo com a reportagem do Jornal Nacional, segundo informações da polícia, o resultado do levantamento nunca teria sido apresentado à família do cantor.

"O que aconteceu é que Marcelo Froes, depois de fazer seu trabalho, fez um relatório que mandou para mim, Bonfá e família [do Renato]. Eu tenho todos os CDs que ele mandou para eu saber o que tinha em cada fita. É muito simples. Tentamos lançar essas sobras agora nos 30 anos do 'Dois' [álbum da Legião], na edição de comemoração. A gente tentou e o rapaz [Giuliano] não autorizou."

Sobre o conteúdo das fitas, Dado diz que não há músicas inéditas, mas sim registros históricos de sobras de gravações, ensaios e material inutilizado. Uma dessas gravações é uma versão de "Juízo Final", música de Nelson Cavaquinho que a banda decidiu não lançar porque não coube no vinil do álbum "Dois", de 1986.

"Essas pessoas são muito estúpidas. Tem um reggae no meio da música. Eu estava lá gravando. As pessoas estão falando qualquer coisa!", diz Dado. "Passamos dois dias gravando 'Faroeste Caboclo'. Uma música de nove minutos, gravamos em dois pedaços. A parte acústica e depois a elétrica, e foi colado na fita. É lamentável ouvir isso."

De acordo com a reportagem do Jornal Nacional, haveria também ao menos uma música totalmente inédita chamada "Helicóptero". Para Dado, essa gravação não é uma música inédita e "deve ser o riff de 'Daniel na Cova dos Leões'", música da Legião composta por Renato Russo e Renato Rocha para o álbum "Dois".

Dado ainda disse que todos os contratos da banda foram assinados por todos os integrantes, e que o material estava "pelo menos bem guardado". "Essas fitas vão apodrecer num lugar, não sei onde, porque lá na [empresa] Iron Mountain [o galpão onde foi a apreensão] estavam climatizadas e preservadas. A gravadora, que é dona desse arquivo, paga mensalmente esse serviço."

Decepcionado com a situação, o guitarrista diz que "podem queimar" essas fitas, e que já está trabalhando para impedir "qualquer lançamento de qualquer música da Legião que tenha uma nota do meu instrumento".

Procurada pela reportagem, a Universal disse que foi "surpreendida com este mandado de busca e apreensão em seu arquivo de tapes e está providenciando acesso ao inquérito policial para ter conhecimento do que se trata para tomar as medidas legais cabíveis".

Segundo sua assessoria, Giuliano Manfredini teria ficado emocionado ao reconhecer a letra de seu pai nas fitas. Ele foi chamado a comparecer à delegacia na Cidade da Polícia, complexo também na zona norte carioca, e manuseou com o delegado o material recebido, que chegou ao local numa van.

Carlos Trilha, ex-produtor dos discos solo de Renato Russo, disse à época da operação Será não haver música inédita do cantor que já não tenha sido publicada, mas sim alguns poemas e letras, rascunhados em cadernos, que ainda não vieram a público.

Nesta quinta (10), ele reforçou à reportagem não existir nada de novo. "As fitas são as originais, que estavam onde deveriam estar, no depósito da Universal, proprietária dos fonogramas", disse. "É a batalha dos leigos parte 2", completou.

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Renato Russo morreu em 1996, em decorrência de complicações do HIV, e seu material inédito foi explorado no disco "Último Solo", que chegou ao mercado depois de sua morte.

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