Publicado em 3 de setembro de 2019 às 16:06
O sertanejo já teve a onda raiz, "foi pra faculdade" [sertanejo universitário], entrou no universo do funk, do brega e agora segue uma outra linha: a social. Você pode estar pensando em jingles ligados a campanhas de arrecadação para causas nobres, mas a linha vai muito além disso. >
Sertanejo social é toda música sertaneja que traga uma mensagem de crítica a algum aspecto da sociedade no lugar das histórias românticas e traições. Longe dos modões e sofrências que muita gente está acostumada a ouvir por aí, o ritmo acaba sendo embalado por histórias mais humanitárias e que retratam, de fato, alguma "deficiência" que precisa ser combatida - e tudo isso por meio da arte.>
Foi com esse tipo de trabalho que Alex Fava fez sucesso na internet e conquistou dezenas de milhões de visualizações nas plataformas digitais. O primeiro single que o cantor lançou falou do abandono de idosos. >
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"Vô", que tem mais de 10 milhões de visualizações no YouTube, traz na letra um pedido de socorro de um avô que foi esquecido num asilo. >
PROXIMIDADE COM OUTROS GÊNEROS MUSICAIS>
Ao falar das mazelas, podemos fazer um paralelo com a MPB apresentada nos antigos Festivais da Canção, nas décadas de 1960 e 1970, que trouxe nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina cantando problemas que a sociedade enfrentava como a ditadura. O gênero chega até mesmo ensaiar uma proximidade com o rap, que faz bastante esse trabalho - quem não se lembra das letras dos Racionais MC e até mesmo O Rappa, em "Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)". >
Declaradamente, era isso que Alex Fava queria. O paulista passou pelo funknejo, em parceria com Tati Zaqui na canção "Partiu Pra Farra", e pelo popnejo e queria dar uma fugida das letras tradicionais do gênero, que têm quase sempre uma história de amor mau sucedida como pano de fundo.>
Foi há cerca de um ano que ele lançou o "sertanejo social" ao receber uma música que veio bem a calhar na ocasião. "Estava querendo mudar. Não queria ser mais um sertanejo que falava de música de amor e farra. Vi aquela música [Vô] e, junto do meu pai, pensei que poderia ser o início de um novo projeto", fala, em entrevista ao Gazeta Online.>
Assim nasceu o Projeto Consciência, composto por três singles que falam de problemas sociais do Brasil.>
O assunto abordado no primeiro single é próximo ao que Lucas Lucco mostrou em "11 Vidas", lançado em 2014 e conta com quase 80 milhões de views na mesma plataforma. Na música que Lucco dedicou ao pai, ele fala da idade e da relação com o patriarca, mas de uma forma saudosista e de real homenagem.>
"Mas ainda assim é diferente do que eu faço, porque a música dele não fala do problema que é abandonar um idoso em um asilo", observa Alex.>
Fava pode até não ser o primeiro a fazer o social no sertanejo, mas é o primeiro a utilizar o rótulo. Depois de ter visto seu público virtual passar do mil para o milhão na web com "Vô", Alex seguiu com seu projeto apresentando "Devolva Meu Coração". A canção falou da depressão e conquistou cerca de 2 milhões de pessoas na web.>
Por último, em março, encerrou o Projeto Consciência com "4 Patas", canção que denuncia os maus-tratos a animais e foi ouvida por mais de 6 milhões de pessoas na web. "Acho que os temas repercutiram muito e tudo isso porque são situações pouco faladas, mas pouco comuns de discussões no Brasil", avalia.>
O sucesso das canções foi além dos milhões views garantidos por Fava. Vira e mexe, o rapaz é chamado para ser garoto propaganda ou ajudar na divulgação de campanhas de diversas entidades.>
"Diariamente, recebo dezenas de convites para ajudar na divulgação das causas, mas não dá para atender todo mundo", revela o rapaz que, mesmo abrindo o nicho, está voltando para o que começou a fazer.>
FIM DO PROJETO?>
Entre o "Vô" e "Quatro Patas", foram praticamente 10 meses dedicados a ideia do sertanejo social. Segundo o cantor, foi tempo suficiente para desenvolver o Projeto Consciência e agora navegar em outra linha. "Mas quero diversificar. Também não posso ficar só no sertanejo social, assim, e esquecer tudo que fiz ao longo desses seis anos de carreira", fala.>
Apesar de acenar uma mudança, o próximo single ainda bate na tecla social que o fez obter sucesso. No dia 13 de setembro, ele pretende lançar "Todo Mundo Tem um Anjo", que teve o clipe filmado em uma casa de apoio a crianças e jovens carentes e cuja letra trata do descaso com essa população. Abaixo você confere a entrevista completa com o paulista.>
De onde partiu a ideia de cantar os problemas sociais?>
Eu sou um cantor que sempre se dedicou à música de amor, de romance, de farra... Tudo que a galera canta por aí. Mas estava ficando um pouco calejado de tanto cantar isso, que todo mundo também cantava, e queria mostrar uma mensagem diferente para o meu público. Aí recebi essa música de um compositor, 'Vô', e meu pai disse: 'Acho que aqui está uma boa oportunidade para o que você quer. E aconteceu.>
Em seguida, vendo o sucesso da música na web, é que decidiu apostar em mais hits assim?>
Vendo que 'Vô' deu certo e tocou o coração de tanta gente, sentei com meu pai, que me ajuda na carreira, e criamos o Projeto Consciência. Ele foi feito para abordar esses temas, tão importantes, por meio da arte, do videoclipe. Nunca tinha chegado, em nenhum momento da carreira, a um número como do clipe de 'Vô'. Fiquei muito feliz.>
E você já tinha se dedicado a algum projeto social antes, era um assunto que você dominava?>
Comecei a fazer depois da primeira música... Porque foi por meio da música que eu vi a realidade e agora que criei o projeto, pensei: 'Bom, para falar do assunto eu tenho que conhecer tudo de uma forma mais profunda'. Visitei asilos, fui a ONGs de animais... E é uma realidade bem triste.>
E agora o projeto acabou?>
Acabou, mas não acabou (risos). A gente criou o projeto, deu outra visão para a minha carreira, e agora um outro compositor me mandou uma música, a "Todo Mundo Tem um Anjo", que gravamos o clipe em uma casa que ajuda crianças e jovens com baixa renda e aí a gente gravou lá e ela será lançada no dia 13 de setembro. Esse single já não está no projeto, mas não deixa de ser um sertanejo social. É como se fosse uma extensão. E acho que será assim a partir de agora, mesclando tudo.>
Como o sertanejo social mudou sua carreira?>
São seis anos de carreira. E ela deu uma boa alavancada agora, depois desse projeto. Com a gravação dos clipes, eu recebi tanta mensagem positiva, tanta gente falando que a música a tocou no coração, que aí comecei a estudar mais sobre música em temas, como o que estou fazendo agora. Na ocasião, por exemplo, conversei com cuidadores de idosos, fui a asilos, como falei, e em ONGs de animais também. A própria Luisa Mell me deu apoio para a música dos maus-tratos, também... Tenho muito orgulho do projeto e com certeza está me proporcionando o ponto mais alta da carreira até agora.>
Tem algum novo projeto já à vista?>
Sim. Vou lançar mais esse single, do "Todo Mundo Tem um Anjo", que vai falar justamente dessa carência de crianças e jovens de baixa renda, e trabalhar em cima dele. Depois vamos incorporar essas canções a um novo show e rodar São Paulo com ele.>
Nada de Espírito Santo (risos)?>
Estou esperando o convite! (Risos). Nunca conheci, já estive na divisa com a Bahia, mas tenho muita vontade de ir. É só me chamar.>
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